quarta-feira, 22 de julho de 2015

Eduardo Cunha nega, via facebook e em terceira pessoa, que tenha intenção de derrubar Moro na Lava Jato

Eduardo Cunha nega, via facebook e em terceira pessoa, que tenha intenção de derrubar Moro na Lava Jato

Editado por Silmara Schupel.

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Constatando o óbvio ululante - que pegou mal o questionamento supremo feito por seus advogados contra o popular juiz Sérgio Fernando Moro -, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, publicou em seu facebook, às 16h desta terça-feira (ontem), um post tentando negar que tenha pedido o afastamento do condutor dos processos da Lava Jato na 13a Vara Federal em Curitiba. O texto, escrito em terceira pessoa, gerou polêmica, mas não desmente, na prática, a manobra de Cunha contra Moro. Mais surreal que a postagem de Cunha só um eventual pedido de Lula para se tornar uma espécie de "investigado em segredo"...

Eduardo Cunha postou, mas não convenceu: "Cuidado, não acredite em tudo que você lê. Saiba o que está acontecendo de verdade sobre a questão que envolve Eduardo Cunha e Sergio Moro. Agora estão publicando notícias dizendo que Cunha quer tirar Sergio Moro da Lava Jato ou Cunha quer derrubar Sergio Moro. Na verdade, o que está ocorrendo é que Eduardo Cunha, por ser um político em pleno exercício de seu cargo, quer que o processo envolvendo Fernando Baiano e Julio Camargo, que estariam supostamente relacionados a ele, fosse transferido para o STF".

O Alerta Total repete por 13 x 13. Não tem a menor consistência acusar Sérgio Moro de "tentar usurpar o papel do STF", porque, simplesmente, Moro não ofereceu denúncia contra o poderoso Eduardo Cunha - que tem foro privilegiado. Assim, a tese da defesa de Cunha se transforma em um gol contra absoluto ou em uma estúpida e inimaginável confissão antecipada de que ele teria alguma culpa a ser apurada pelo cartório do judiciário tupiniquim. Se Moro não investiga nem processa Cunha, não teria motivo para o presidente da Câmara soltar seus advogados para acionarem o STF contra Moro. Simples, assim...

O resultado prático da jogada de Cunha. O poderoso Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal, pediu que Sérgio Moro apresente informações e explicações sobre o processo de delação premiada de réus e acusados. Lewandowski age a partir de uma ação dos advogados de Eduardo Cunha. Um deles, o ex-Procurador-Geral da República, Antônio Fernando de Souza, escreveu que Moro "usurpou de forma flagrante a competência desta Suprema Corte".

O raciocínio prático é bem simples. Se o STF aceitar a "tese", anula-se tudo que Moro fez e o popular juiz pode ser colocado para fora do processo, na prática... Espertamente, Cunha sai a público e tenta bancar o inocente, porque a repercussão da jogada dele contra Moro foi negativa. Qualquer bebê de colo sabe que Cunha não é investigado nem processado pelo juiz Sérgio Moro - que (também todo mundo sabe) não tem prerrogativa para agir contra ele. Cunha tem foro privilegiado e qualquer ação contra ele só pode ser tocada no âmbito do STF.

Eduardo Cunha joga, novamente, para a galera. Ele cometeu um erro estratégico que pode lhe ser fatal. Incomodado com a citação de seu nome na Lava Jato, pelo delator premiado Júlio Camargo, como recebedor de US$ 10 milhões em propinas, o Presidente da Câmara declarou guerra contra a figura pública mais popular do Brasil: o juiz Sérgio Fernando Moro. Tal jogada não tem mais volta.

Não adiantam as desculpas pregadas pelos fieis seguidores de Cunha. O fato objetivo é que ele jogou contra Sérgio Moro. Muita gente saiu ontem na defesa cega de Cunha, alegando que ele merece ser preservado por ser "o único homem capaz de derrubar a Presidenta Dilma Rousseff". Mesmo que Cunha tenha tal mérito e capacidade, ele não fica acima da Justiça e muito menos do poder judiciário. Se existem denúncias contra ele, tudo tem de ser apurado, com amplo direito de defesa ao parlamentar.

A desculpa impessoal de Cunha, via Facebook, não convence. Cunha deveria ter agido, de forma mais contundente que um mero "rompimento pessoal" com o desgoverno que ajudou a eleger e reeleger, ao fato objetivo de que denunciou ter sido vítima: uma devassa em sua vida fiscal feita pelo Núcleo de Inteligência da Receita Federal. Cunha está devendo uma reação mais dura a este evento, que pode afetar qualquer brasileiro. O resto é conversinha de quem deseja assumir a Presidência da República, nem que seja pelos 90 dias em que Dilma e Michel Temer forem afastados, pela via do impedimento.

No fundo, nesta briga de foice no escuro, Cunha está realmente preocupado porque virou alvo preferencial do Grupo Globo - que também tem batido duríssimo na petelândia, e ajudando a transformar o juiz Sérgio Moro em um "Mito da Justiça". A Globo sabe que, se o Brasil não mudar, os negócios dela vão para o saco. Logo será engolida por concorrentes transnacionais mais poderosos. Por isso, a Globo parte para a ofensiva, saindo do tradicional morde-e-assopra que sempre promoveu contra todos os governos. A Globo consegue ser tão ou mais governista que o PMDB - do qual Cunha é um dos líderes.

Esse é o jogo real de poder no Brasil. O resto é mera aparência... A alta pressão levará muita gente poderosa, como Cunha, a cometer muitos erros estratégicos... No que Cunha agir corretamente para a independência institucional, parabéns a ele. No que agir em direção e sentido contrários, cabe a crítica.

Leia, abaixo, de Luiz Carlos Azedo: A Chicana de Cunha

Sobre golpismos profissionais, leia, abaixo, texto fundamental do Historiador kamarada Carlos I. S. Azambuja: A técnica da insurreição e do golpe de Estado


Reclamam de quem?


Simbologia da Lava Jato

Interessantes reflexões do juiz Márlon Reis, fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e um dos que conduziram a mobilização para a aprovação da Lei da Ficha Limpa, sobre as condenações na Lava Jato:

"Primeiro, a imagem da Justiça no país está historicamente relacionada à prisão de pessoas de classes econômicas mais baixas. Os presídios brasileiros estão abarrotados de gente pobre que cometeu crimes contra o patrimônio individual, mas são poucos os presos entre os que cometem crime contra o patrimônio público, que é o que afeta a sociedade inteira. Com essa primeira condenação de pessoas com alto poder econômico, que atingem o patrimônio público, é o início de outra imagem para a Justiça brasileira. Esses processos podem se arrastar devido ao nosso sistema recursal, mas o simbolismo da condenação já está dado. É algo já cravado, é uma novidade. O segundo ponto que vejo é que essas condenações, e o próprio andamento da Lava-Jato, atingem a cultura da impunidade do corruptor no país. Fala-se muito no corrupto e pouco no corruptor".

"O foco agora está no poder econômico. A sociedade tem uma visão muito crítica do agente público, mas não do agente privado que participa da corrupção. Pelo fato de ser uma empresa, a sociedade não tem muito claro isso, de que não é dinheiro do dono da empresa e de seus sócios, então o controle social fica prejudicado. Há uma cultura de tolerância no país com os grandes detentores do poder econômico. Este está sendo o caráter pedagógico da Lava-Jato. Mostrar que, na relação do setor privado com o público, os recursos não são empresariais, não são do mundo privado, são públicos".

"A pedagogia agora é evidenciar não os corruptos, mas os corruptores. E aí chegamos ao terceiro ponto que acredito que a Lava-Jato e que essa condenação de empresários levantam: essa operação traz um debate que calha muito com o momento em que o país discute o financiamento de campanhas eleitorais. Todas essas movimentações da Lava-Jato estão desmascarando a aparência de dinheiro empresarial que os recursos de doações de campanha têm. O que tem se apurado pela operação é que não é dinheiro empresarial, é dinheiro público desviado, que até distorce os resultados das eleições. É o caráter não republicano das doações. Existe uma concentração de doações em grandes empresas que mantêm contratos com o governo, o que retira o aspecto empresarial da coisa.

"Se a doação fosse uma forma de participação política da empresa, ela doaria para candidatos de apenas uma linha política, e não para todos, como acontece. Além disso, não é dinheiro empresarial também no sentido de que é a lavagem de dinheiro por meio de doação. É algo que sempre aconteceu, junto com o caixa dois; só está aparecendo agora por causa da vinda da legislação recente que permitiu as delações. Por que pagar propina diretamente, se é possível fazer doação, que tem o mesmo efeito e não é punível, ao contrário, é autorizado pela lei? Até por isso vai ser difícil a condenação de políticos: não só porque eles têm foro privilegiado, mas porque vai ser preciso provar que o candidato sabia que aquela doação era a legalização de uma propina. A Lava-Jato está mostrando o risco que é manter esse modelo de doação eleitoral no país".

Alta lentidão política


O Prefeito Fernando Haddad brinca com os cidadãos, reduzindo a velocidade nas ruas de São Paulo e colocando mais radares para a indústria da multa faturar mais, e os cidadãos brincam com ele nas redes sociais...

Prevendo a debandada


Cuidado com os tubarões


Os surfistas nas redes sociais não perdoam o desgoverno impopular até dentro d´água, com tubarões na cola...


© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 22 de Julho de 2015.

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