sábado, 25 de julho de 2015

Desajustes estruturais

Desajustes estruturais


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Henrique Abrão

Vivemos uma tempestade perfeita e o jornal Financial Times recentemente comprado pelo grupo japonês Nikkei afirma que vivemos um filme de terror sem previsão de termino. As coisas parecem ir de mau a pior e sem muita razão de ser, pois se fomos incluídos entre as dez maiores economias do planeta algo de muito errado está acontecendo.

A estatal paga multa bilionária sem dela recorrer à justiça, o governo vende mais de 3 bilhões em papeis do banco do Brasil no fundo soberano, a
redução da meta do superavit primário e o dólar, como sempre, está em céu de brigadeiro, deslanchando, ao passo que a pior bolsa de valores do mundo, sofrível, alcança o indizível patamar inferior a 50 mil pontos, enquanto desfilava no começo do ano acima de 70mil.

Contrastes que mostram o desequilíbrio e a falta de uma diretriz no rumo do País, com o aumento da criminalidade e dos crimes de corrupção. Hoje o processo penal virou oral, todos falam e comentam e cada um tem um
motivo para se defender.

Além disso nossas empresas claudicam e aumentam no mercado as estatísticas do desemprego. Enquanto não tivermos estrutura de governo e capacidade de dialogo com a sociedade, as instituições capengam, já que o
momento extremamente dificultoso coloca em luta os poderes da republica e com isso os estrangeiros já cogitam tirar o nosso grau de investimento, o que seria mais um desastre catastrófico.

Empenhados nos seus interesses pessoais,os nossos políticos não distribuem qualidade no serviço público. Segurança não há, educação cada vez mais destoante do mundo moderno, água que é racionada, uz cara no faturamento para preencher rombo de um erro do passado. E assim caminha a triste nação brasileira aturdida entre sua crise política e econômica, sem direção e com o perigo de não ter comando à altura para sairmos dos percalços causados pelos desmandos havidos na gestão pública,aliciada aos bilhões desviados pelo solo infértil da corrupção.

São os contribuintes chamados para pagarem a conta e a classe média esperneia, com razão. Eis que o definhamento das contas revela cada vez mais um espaço menor de poder de compra, corroído pela inflação que
não é fortemente combatida.

A esquerdização da América Latina não tem qualquer noticia de pleno êxito ou sucesso,as demagogias sempre conduzem ao caminho mais profundo do precipício e do autoritarismo na percepção dos fatos e não
se mudam os caminhos da noite para o dia.

O nosso principal dilema é a revolução da ciência e da tecnologia com justa distribuição e não concentração de renda, com o papel primacial dos bancos e demais instituições financeiras. O volume em
fuga da poupança é delicado e alarmante. O governo vem tentando desde o começo do ano uma reviravolta, mas na medida em que anuncia seu programa tropeça e não acaba conseguindo em suas próprias hostes a confiança e credibilidade necessárias ao planejamento.

Enquanto isso, nos Estados Unidos da América correm os processos contra diversas autoridades e empresas brasileiras pelos prejuízos causados aos investidores com ADRs e o iminente risco de condenações elevadas. Ao que o nosso ordenamento agora reformado pede espaço para a lei de arbitragem nas companhias, o que seria um abuso quase autoritário do controlador, principalmente nas sociedades de economia mista, as quais são utilizadas usadas e desviadas dos seus padrões aos desmandos do majoritários e falta completa de fiscalização.

Uma série de erros nos levou ao fundo do poço, inclusive o pré sal foi um deles senão o maior o mais gritante com sua pseudo capitalização
e o estado atual das empresas estatais e o preço dos seus papéis cotados na bolsa de valores. Pensávamos anos atrás que nos tornaríamos uma potencia mundial, que a crise não nos solaparia e nosso ritmo de crescimento seria forte.

No entanto o modelo é fragilizado baseado no consumo individual e financiamento que somente deixa mais ricos o sistema que jorra dinheiro no mercado e acentua o risco da inadimplência, razão pela qual milhares de ações na justiça discutem os critérios de atualização, indexadores e o famigerado juros capitalizados.

Não há poupança interna ou investimentos pesados no campo da tecnologia e cada dia mais nos vemos dependentes de insumos e produtos agrícolas com preços fixados pelo mercado externo.

O Brasil para sobreviver à crise precisa de uma revolução de idéias, de pensamentos e fundamentalmente de sua classe política, da representação, do próprio modelo. Continuaremos a dar voo de galinha na economia e causar desastres profundos sem uma noção do que é feito e daquilo a ser modificado em curto espaço de tempo. A sociedade necessita participar e arejar os campos de decisão, sem  medidas demagógicas ou paliativas.

O tempo rareia, e essa aridez de novas ideias e conjugação de esforços nos imobiliza tirando a capacidade de investimentos, de novos rumos e sobretudo do futuro, do amanhã e da evolução dos fatores formadores de uma tempestade perfeita, a qual precisa ser desarmada, já a fim de que não sejamos vitimas dos ladravazes do dinheiro público, impunes e com suas riquezas amealhadas à custa do contribuinte disseminadas mundo afora


Carlos Henrique Abrão, Doutor em Direito pela USP com Especialização em Paris, é Desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo.

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