quinta-feira, 30 de julho de 2015

No quintal de Dilma

No quintal de Dilma


Por Josias de Souza

De todos os persistentes horrores da Lava Jato, o pior, o mais constrangedor, é o horror da descoberta de que os escândalos se concentram no setor de Minas e Energia, supostamente controlado com mão de ferro por Dilma Rousseff há 13 anos. Primeiro, o petrolão. Agora, o eletrolão. O constrangimento vira desalento quando se verifica que a presidente, assim como seu criador, encontra na mesma desculpa prepotente —“eu não sabia”— a justificação absolvedora que a livra de enxergar no espelho uma culpada ou uma cúmplice.

Em sua 16a fase, batizada de Radioatividade, a Lava Jato chega ao setor elétrico, outro quintal de Dilma. Os alvos são, por ora, as obras de Angra 3 e Belo Monte, levadas à frigideira em março pelo delator Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa. O cardápio é o mesmo servido na Petrobras: licitações viciadas, cartel de empreiteiras e distribuição de propinas.

No seu primeiro mandato como presidente, Dilma exibiu um jeitão franco e desengonçado que chegou a encantar os brasileiros. Mesmo quem torcia o nariz via nela uma senhora decente, em todos os sentidos que a palavra engloba. A popularidade alta indicava que, para a maioria dos brasileiros, aquele era um governo com uma boa cara.

Sobrevieram os erros políticos, as burradas econômicas e as perversões éticas… Hoje, o brasileiro se dá conta de que a boa cara não assegura um bom governo. Cada vez que Dilma faz cara de nojo diante dos escândalos —“eu não respeito delator”, “a Lava Jato mastigou um ponto percentual do PIB”— a plateia se horroriza.

Sete das dez maiores obras do PAC, programa que Dilma controlava como mãe, já frequentam os inquéritos como espécies de chicagos ocupadas por capones. A presidente talvez devesse parar de manusear o cinismo como uma criança que brinca no barro depois do banho.

Josias de Souza é Jornalista.

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