Por Renato Sant´Ana
Intelectuais brasileiros, inclusive alguns escritores, sem que estejam sob ataque, contra-atacam o escritor peruano (Nobel de Literatura) Mario Vargas Llosa; isso porque ele é dos poucos, entre literatos, que têm lucidez e coragem para denunciar o cruel autoritarismo do regime chavista, que hoje infelicita a Venezuela. Agora, Janio de Freitas, notório esquerdista e um tanto leniente com as patuscadas petistas, faz adequada crítica à vergonhosa omissão do governo brasileiro diante dos obscenos abusos do chavismo. parece concordar com o peruano.
Vargas Llosa denunciou a violência do governo de Nicolás Maduro contra manifestantes nas ruas (dezenas de mortos pela ação da polícia do regime). Denunciou a arbitrária prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, um dos principais líderes da oposição, detido quando se completava um ano da igualmente arbitrária prisão de Leopoldo López (outro destacado opositor) e meses depois da abusiva cassação do mandato da deputada María Corina Machado, submetida a uma perseguição judicial sistemática, só por ser figura de relevo entre os adversários do chavismo.
Em frequentes manifestações públicas - inclusive em sua coluna em La Nación (Buenos Aires), Vargas Llosa tenta abrir os olhos da América Latina, desmascarando o regime venezuelano - que nossos principais jornais, quando se dignam a noticiar, tratam com muita cerimônia. A Venezuela hoje é uma terrível ditadura que se inclina para o totalitarismo: tortura, presos políticos, supressão das liberdades individuais, cerceamento da imprensa livre, um desastre político e econômico (até papel higiênico falta no supermercado. Claro, não falta o discurso governista, acusando inimigos externos para justificar o desastre.
Entrementes, o governo de Dilma Rousseff, a exemplo do que fez Lula, não apenas argumenta em favor de uma suposta legitimidade daquele regime, mas também presta alguns favores (a CPI do BNDES há de informar em pormenores alguns destes).
Pois Janio de Freitas, que tantas vezes tem sido criativo para encontrar atenuantes para os erros petistas, critica em sua coluna na Folha (30/08/2015) o horror a que estão sendo submetidos colombianos pelo regime chavista, e aponta a omissão do governo brasileiro. Descreve ele: "Colombianos expulsos da Venezuela às correrias, com seus pertences miseráveis às costas, cruzando riachos a pé, filhos pendurados no corpo, enquanto seus casebres são incendiados, são parte de um quadro de perversidade intolerável do governo venezuelano."
E assevera que "é intolerável a indiferença com que os demais países sul-americanos, sobretudo o Brasil, testemunham" aquela ignomínia - que ele, Janio, diz ser uma "reprodução cucaracha, criada pelo destrambelhado Nicolás Maduro, do horror de expulsos e fugitivos do Oriente Médio". E termina com acerto advertindo: "A indiferença, no caso, é conivência."
Pronto. Não é um representante "das elites de olhos azuis", mas um
rematado esquerdista quem o diz. E só nos resta acrescentar: a
diplomacia brasileira, outrora uma das mais admiradas e respeitadas do
mundo, adquiriu a cara vulgar da incompetência e do desvario que
caracteriza o governo atual.
Renato Sant'Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito.
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