29.09.2015
Não é surpresa, de modo algum, exceto pela rapidez do processo. Em pouco mais de uma década, desde a facinorosa decisão do governo Bush de invadir e ocupar o Afeganistão e depois o Iraque em março de 2003, os EUA só fizeram perder influência e aliados em todo o Oriente Médio. Não só os iranianos xiitas, que o presidente Obama crê que sejam gratos a Washington, mas também, pela primeira vez, a Arábia Saudita e os estados do Golfo e o Egito, todos em processo de unir-se a novos aliados ou parceiros colaborativos, que encontram no oriente, não no ocidente.
Dia 11/9/1990, em discurso numa sessão conjunta do Congresso, o então presidente George Herbert Walker Bush falou triunfantemente dos EUA como a única superpotência, para criar o que ele chamou de Nova Ordem Mundial. A União Soviética acabava de se autodissolver em caos. Sob as presidências de Bush e adiante, de Clinton, e até o dia de hoje, a política de Washington consistiu exclusivamente em avançar contra, para desvalorizar, destruir, desconstruir e desmembrar a Federação Russa, praticamente como Washington fez contra a Líbia de Gaddafi depois da guerra de Hillary Clinton, lá, em 2011.
Durante os anos 1990s, o presidente Bill Clinton apoiou a "terapia de choque" econômico financiada pelos EUA, com pesado apoio do seu amigo bilionário e corretor financeiro George Soros e das Fundações Sociedade Aberta [orig. Open Society Foundations] de Soros. Soros trouxe pessoalmente vários Harvard-boys, como Jeffrey Sachs, para a Rússia, logo depois de eles terem devastado a Polônia, a Ucrânia e outros estados ex-comunistas no leste da Europa. O regime corrupto de Yeltsin, que só queria saber de encher a cabeça de vodka e os bolsos de dólares, pouco se incomodava com o que acontecesse aos demais russos.
Mas... Como as coisas mudaram, para Washington, desde aqueles dias de depois de 1990!
Hoje, a Única Superpotência, o Hegemon Indesafiável, está sendo desafiado como nunca antes, afundado na pior depressão econômica desde os anos 1930s. O governo dos EUA tem dívida federal de mais de 103% do PIB. O desemprego real, não a definição delirante com que o Departamento do Trabalho 'opera', está hoje acima de 22%. O Federal Reserve está afundado há oito anos na pior crise financeira da história, sem conseguir aumentar os juros acima de 0%.
E agora, a meta estratégica de toda a projeção de poder dos EUA desde 1945 - controlar os fluxos de energia do Oriente Médio - está sumindo à vista de todos, como algodão-doce ao vento.
Pânico em Washington
A prova mais clara de que está perdendo influência no Oriente Médio é a reação do governo Obama às ações dos russos para pôr fim à terrível guerra de Washington na Síria - que é a verdadeira fonte da crise de refugiados que atualmente faz subir as tensões sociais em toda a Europa.
Dia 12/9, Barack Obama falou contra as recentes atividades da Rússia. Obama rejeitou os chamamentos da Rússia para cooperação militar contra o ISIS, declarando que a estratégia russa de apoiar o governo sírio contra o ISIS estaria "condenada ao fracasso". Sobre a Rússia estar enviando ajuda diretamente ao governo de Bashar al-Assad, que Washington 'exige' que renuncie, Obama atacou: "A estratégia que estão usando agora, de 'dobrar o blefe' [orig. doubling down] em Assad é um erro." Double down é expressão de cassino, das mesas de "Blackjack", que nesse caso significa 'adotar comportamento de risco quando [o jogador] já está em posição precária'.
A lógica da posição de Washington, de 'exigir' que Assad saia não é lógica: é perfeito absurdo. Como o ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov seguidamente destaca, a Rússia, aliada da Síria há décadas, continuará a manter a assistência militar que sempre deu ao governo legítimo de Assad em sua batalha para derrotar os terroristas islamistas: "Só posso repetir, mais uma vez, que nossos soldados e especialistas militares estão lá para operar o equipamento militar russo e para dar treinamento ao exército sírio para que possa operar equipamento novo. E continuaremos a garantir a mesma assistência ao governo sírio, para garantir que tenha prontidão adequada de combate em sua luta contra o terrorismo."
Por que o pânicoA razão pela qual Washington literalmente pirou não é a possibilidade de que a Rússia venha a agravar a situação na Síria. Depois de mais de um ano de bombardeamento destrutivo por aviões dos EUA e da OTAN, que gerou a atual crise de refugiados na União Europeia, dificilmente a situação piorará se a Rússia conseguir isolar o ISIS. O que deixa (mais) ensandecidos os facinorosos fazedores de guerra em Washington é a possibilidade de a estratégia russa ser bem-sucedida e pôr fim ao reino de terror do ISIS.
O chamamento russo visa a constituir uma coalizão internacional, convidando também os EUA a unir forças com estados da região e da Organização do Tratado de Segurança Coletiva [orig. Collective Security Treaty Organisation (CSTO)].
Dia 15/9/2015, em encontro em Dushanbe, Tadjiquistão, governantes dos estados membros da CSTO denunciaram o terrorismo no Iraque e na Síria, com atenção especial ao chamado 'Estado Islâmico'. Declararam-se prontos para enviar tropas para a Síria, sob patrocínio da ONU, como a OTAN está fazendo sem sucesso. Esse é desenvolvimento que Washington não aprecia, haver dois jogadores jogando o jogo. Os estados-membros da CSTO discutirão sua estratégia para criar uma coalizão global contra o ISIS, durante a reunião de todos, em setembro, para a Assembleia Geral da ONU em New York. A CSTO reúne Rússia, Bielorrússia, Armênia, Cazaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão. Seguindo o rodízio, a Rússia na presidência do Conselho de Segurança da ONU durante esse mês.
Segundo relato de Thierry Meyssan, editor francês de Voltaire.net que tem base em Damasco, o mais recente movimento de apoio russo à guerra que o governo do presidente Assad faz contra os terroristas inclui a criação de uma Comissão Militar Conjunta Sírio-Russa; transmissões de inteligência recolhida pelo satélite russo; envio de especialistas russos em várias áreas e o fornecimento de armamento sofisticado. Inclui também significativa modernização e expansão do porto sírio deLatakia.
Recentes atividades da Rússia, de ampliação e modernização do porto em Latakia apanharam de surpresa a OTANMatéria recentemente publicada na Der Spiegel alemã diz que as entregas russas à Síria também incluem carros blindados de fabricação russa para transporte de tropas, BTR-82A. Esse BTR-82A está em uso nos exércitos da Rússia e do Cazaquistão. É veículo com traços impressionantes: pode operar em combate sem parar, 24 horas por dia. Sua principal arma é um canhão automático de carregamento duplo de 30mm capaz de perfurar a blindagem de foguetes rastreadores, munição de fragmentação, incendiária e rastreadora de explosivos. Além do canhão, o BTR-82A leva também uma metralhadora coaxial de 7,62mm e três lançadores de granadas de fumaça de 81mm de cada lado. A cabine do artilheiro conta com sistema para controle de fogo dia/noite. O comando opera com comunicações e mapas topográficos avançados. E uma câmera de vigilância armada com laser, permite detectar qualquer alvo inimigo no raio de 3 km. Ah, e o veículo leva um dos mais robustos motores turbo-diesel da indústria russa, o KAMAZ 740.14-300 de 300hp e velocidade máxima de 100 km/h, mesmo em terreno acidentado; para completar, é totalmente anfíbio, com propulsão a jato, na água.
O respeitado blogueiro The Saker, citando fontes russas, crê que a Rússia também esteja enviando ao Exército Sírio sistemas de combate em campo que podem ajudar muito, incluindo radares antibaterias (radares que identificam de onde a artilharia inimiga está atirando) e sistemas de guerra eletrônica. O Saker destaca também que, de um ponto de vista estratégico militar, o fator que pode realmente alterar o jogo, e que a Rússia expôs há poucos dias, é ter escolhido o porto de Latakia. Segundo o Saker,
E o Saker conclui:
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