2015: EUA comandam as potências fascistas da 2ª Guerra Mundial
Na solenidade comemorativa, em Pequim, dia 3/9/2015, que
marcou os 70 anos do fim da ocupação japonesa na China, que encerrou a 2ª
Guerra Mundial, os EUA muito visivelmente se recusaram a aparecer ao lado da
China -, China que foi uma das nações Aliadas pró-democracia, durante aquela
guerra. Assim, também visivelmente, em retrospectiva, os EUA afinal se puseram
ao lado das potências do Eixo, fascistas, Japão e, claro, Alemanha.
A diplomacia internacional é muito atenta ao simbolismo
histórico, o que qualquer pessoa envolvida em estudos ou serviços diplomáticos
entende sem dificuldade. A diplomacia entre nações muito frequentemente tem a
ver com a história e a construção da história; é a própria natureza da
profissão. E o simbolismo histórico nesse específico evento diplomático foi
claro: os EUA abandonaram o lado antifascista dos seus ex-aliados; e os EUA
estão-se alinhando ao Eixo fascista. Os EUA em 2015 já se identificam com os
agressores; os EUA já não se identificam com as nações agredidas na 2ª Guerra
Mundial.
A BBC, na matéria que publicou sobre os preparativos dos
chineses para o evento referiu-se à "notável ausência de líderes
ocidentais" da lista das autoridades que aceitaram o convite. E a BBC
continua na mesma linha de notável - pode-se dizer muito espantosa - boa
vontade: "O desfile portanto tem duplo papel: é reflexão sobre o passado e
sinal para o futuro. A narrativa oficial da China sobre os horrores, para a
China, do tempo da guerra - humilhação histórica nas mãos das potências
coloniais - está intimamente conectada às atuais preocupações da China quanto a
soberania e integridade territorial no Mar do Sul e no Mar do Leste da China. Num
nível visceral dentro da sociedade chinesa, é impossível separar passado e
presente".
A matéria até reconhece a determinação com que o presidente
chinês Xi Jinping "protege interesses chineses fundamentais." É
referência simpática, nada hostil, ao final do tal artigo. A legenda de uma
foto da BBC também era honesta, sem qualquer coloração de propaganda do evento,
que naquele momento ainda estava sendo organizado: "Desfile comemora o que
a China chama de 'Guerra de Resistência do Povo da China contra agressão
japonesa'". É como a China chama e é o que aquela guerra realmente foi. E
a BBC ali apresentava honestamente a perspectiva chinesa sobre um momento grave
da história da China. Não se via, naquela matéria da BBC, sobre os preparativos
para o evento, o ranço anti-China e anti-Rússia que há, infalivelmente, em todo
o 'noticiário' ocidental.
Então, dia 3/9/2015, dia do evento, a agência oficial de
notícias da China, Xinhua (que agora se chama "Agência de Notícias Nova
China", para enfatizar que a China já nada tem a ver com a posição
marxista-maoísta da Guerra Fria), publicou em manchete, "Xi convoca países
a não esquecer a história da guerra e a prosseguir na busca de desenvolvimento
pacífico", e matéria que começava assim:
O presidente chinês Xi Jinping disse na 5ª-feira que todos
os países devem extrair lições da história da 2ª Guerra Mundial e manter-se
firmes na busca do desenvolvimento pacífico.
Xi fez essa conclamação ao discursar depois de um grande
desfile militar em comemoração aos 70 anos da vitória da Guerra de Resistência
do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e a Guerra Mundial Anti-fascista.
"É nossa sincera esperança que todos os países extraiam
sabedoria e força da história; que busquem o desenvolvimento pacífico; e que
trabalhem juntos para abrir um futuro promissor para a paz mundial" -
disse o presidente Xi, a mais de 800 convidados chineses e de outros países.
A vitória chinesa naquela guerra foi grande triunfo do povo
chinês que lutou ombro a ombro com seus aliados anti-fascistas e o povo, em
todo o mundo - disse Xi.
E continuou: "Como principal cenário ocidental da
guerra anti-fascista, a guerra de resistência na China foi contribuição
crucialmente decisiva para chegar à vitória, em todo o mundo".
"Não há força maior que o trabalho solidário, inspirado
por ideia comum", disse o presidente chinês, observando que durante a
guerra, os povos dos aliados anti-fascistas e outros forças, em todo o mundo,
deram-se as mãos na luta contra o inimigo comum.
"Nós, os chineses, jamais esqueceremos o apoio que
recebemos de países justos e amantes da paz, dos povos e das organizações
internacionais, para nossa luta contra os agressores japoneses".
A matéria descreve então a visão que o presidente Xi expôs,
do futuro da China:
"Com dolorosa memória do passado" - disse Xi -, o
povo chinês persistentemente se comprometeu com uma via de desenvolvimento
pacífico e estratégia 'ganha-ganha' de abertura para o mundo.
"Uma China mais forte e mais desenvolvida significa
força sempre maior a favor da paz mundial" - o presidente continuou.
O jornal alemão Economic News, registrou, em matéria que
publicou sobre o evento:
Muitos líderes deixaram de comparecer ao desfile militar -
temendo ofender os norte-americanos, dentre os quais governantes do Japão. A
Alemanha e os EUA enviaram apenas o embaixador. O único governante da UE foi o
presidente tcheco Milos Zeman. O primeiro-ministro japonês, de direita,
ultraconservador, muito criticado na China, Shinzo Abe, foi convidado mas não
aceitou o convite para "cerimônia memorial da vitória do povo chinês
contra a invasão japonesa e a luta contra o fascismo."
Assim sendo, quem, afinal, esteve em Pequim? Quem
realmenteassistiu ao desfile-homenagem? Prossegue a matéria da agência Xinhua:
Dos aproximadamente 30 chefes-de-estado convidados, lá
estavam o presidente da Rússia Vladimir Putin, o secretário-geral da ONU Ban
Ki-moon e a presidenta da Coreia do Sul Park Geun-hye, ambos sul-coreanos, país
que também foi vítima da agressão japonesa. No desfile, marcharam lado a lado
cerca de 1.000 soldados de 17 países (dentre os quais Rússia, Cuba,
Cazaquistão, México, Paquistão e Sérvia).
Em outras palavras, o evento, tão fortemente ligado à 2ª
Guerra Mundial, teve lista de convidados que refletiu divisões da Guerra Fria,
em vez de alguma resistência anti-fascismo. E quem diga "Guerra Fria"
diz guerra entre capitalismo e comunismo (...). A ideologia contra a qual os
EUA inventaram a Guerra Fria, se tivesse sido derrotada, estaria hoje sendo
ignorada, não tratada ainda, em pleno século 21, como se a velha Guerra Fria
estivesse em curso e ainda fosse o ponto focal da política externa dos EUA.
Esse foco na Guerra Fria, pelos EUA, em evento relacionado à
2ª Guerra Mundial, é doentio. E ainda mais doentio em momento em que a mais
grave ameaça que pesa contra o mundo vem dos terroristas do "Estado
Islâmico" [o qual, a bem da verdade, não é nem "Estado" nem
"Islâmico"... (NTs)], ameaça bem real que pesa sobre Leste e Oeste.
Essa 2ª Guerra Fria pode levar a uma 3ª Guerra Mundial, guerra global nuclear.
E por quê? A propósito do quê?
Com certeza absoluta não será guerra contra o terrorismo
e/ou algum terrorista, como ninguém cogitou de tal coisa, no gesto de não
comparecer ao desfile dos chineses. E, por mais que todas as consciências
decentes do planeta saibam que aquilo é passado, não há dúvidas de que os
governantes dos EUA estão empenhadíssimos em restaurar alguma "Guerra
Fria".
Outro artigo distribuído também em Xinhua, registrava em
manchete:"Poucos no ocidente relembram o papel da China na 2ª Guerra
Mundial - diz especialista de Oxford", e começava assim: "Poucos no
ocidente recordam o fato de que a China foi o primeiro país a entrar no que viria
a ser a 2ª Guerra Mundial, e apresentou-se como aliada de EUA e Grã-Bretanha
desde imediatamente depois de Pearl Harbor em 1941 até a rendição do Japão em
1945 - disse o professor de Oxford".
A rede CCTV America noticiou em manchete, dia 25 de agosto:
"China distribui lista de líderes mundiais que comparecerão ao desfile do
Dia da Vitória, e observou: "Jornalistas, na conferência de imprensa,
mostraram-se mais interessados nos líderes que não participarão da
solenidade".
O jornal BRICS Post noticiou que "Exceto Dilma Rousseff
presidenta do Brasil, que enfrenta oposição turbulenta no plano
doméstico,[1]todos os governantes dos países BRICS devem estar presentes ao
desfile do próximo mês, pensando em aprofundar laços com os chineses".
O South China Morning Post, que publicou a matéria mais
detalhada sobre a lista de presentes, escreveu em manchete: "Só 'amigos
verdadeiros' da China comparecerão ao desfile do 70º aniversário. Líderes
ocidentais chaves e Kim Jong-un não irão". E o texto dizia: "O único
chefe de estado ou governo da UE é o presidente tcheco Milos Zeman. O
primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe não irá, mas o ex-primeiro ministro
japonês Tomiichi Murayama, sim. Pyongyang [República Popular Democrática da Coreia,
"Coreia do Norte"] enviará Choe Ryong-hae, do Politburo. EUA, Canadá
e Alemanha enviarão representantes das respectivas missões diplomáticas na
China [alguém da embaixada]; França e Itália enviarão ministros de Relações
Exteriores". Mas o ex-primeiro-ministro britânico lá esteve. E os
presidentes Vladimir Putin da Rússia, e Park Geun-hye, da Coreia do Sul.
Em outras palavras: EUA, Canadá, Alemanha e Coreia do Norte
enviaram representantes do nível mais inferior; República Tcheca e Coreia do
Sul, do nível mais superior; e França, Itália, Grã-Bretanha e Japão ficaram no
meio termo.
A China é um dos países BRICS, portanto só esse fator já
torna natural que os BRICS tenham enviado representantes do mais alto nível. A
Coreia do Norte, ao enviar membro do Politburo, mostra que Piongueangue está
profundamente insatisfeita com o nível de apoio que a China lhe tem dado. O
Japão, ao enviar um ex-primeiro-ministro mostra que o governo japonês realmente
não deseja nova guerra entre dois gigantes econômicos da Ásia. A presença do
ex-primeiro-ministro japonês na cerimônia é concessão extraordinária, feita
pelo país cuja derrota, afinal de contas, é o motivo da celebração.
Aquela lista de convidados é um livro completo de
informações sobre como as coisas realmente estão, na estrutura das relações
internacionais. É uma declaração histórica, sobre o presente, tanto quanto
sobre o passado. Atos simbólicos podem não ser tão claros quanto palavras, mas
são muito mais significativos, porque são a realidade nua, sem palavras que só
a representam (e podem representá-la muito gravemente mal).
Claramente, o governo Obama fez de tudo, para apoiar, hoje,
as potências fascistas da 2ª Guerra Japão e Alemanha, agora contra a China.
O Japão parece menos disposto que a Alemanha a unir-se ao
esforço dos EUA para reconstruir os conflitos contemporâneos e repô-los no pé
em que estavam pouco antes da 2ª Guerra Mundial - mas com a diferença de que os
EUA já completaram giro de 180 graus, e já se converteram na grande potência
fascista do mundo contemporâneo (substituindo a Alemanha nesse triste papel).
A Itália tampouco dá sinais de querer curvar-se ante o novo
papel dos EUA como líder do fascismo global. E a Grã-Bretanha tampouco dá
sinais de ter-se rendido completamente ao novo projeto fascista dos EUA. (A
aliança EUA-GB está em frangalhos.)
A Coreia do Norte, sim, está com os EUA nesse assunto, mas
só porque suas relações com a China atravessam período difícil. A Coreia do Sul
está mais interessada em não ofender a China do que em continuar como estado
100% vassalo desses neo-EUA já claramente fascistas. É extraordinário, mas faz
sentido, se se pensa no enfraquecimento das relações da Coreia do Norte com a
China.
Para compreender mais profundamente essa virada dos EUA a
favor do fascismo nos negócios internacionais, há algumas matérias publicadas
que me parecem particularmente relevantes e cuja leitura recomendo,
especialmente porque comentam desenvolvimentos anteriores, na mesma direção
geral - o percurso dos EUA na rota para se tornar a atual superpotência líder
mundial fascista:
"U.S.
Among Only 3 Countries at U.N. Officially Backing Nazism &
Holocaust-Denial; Israel Parts Company from Them; Alemanha Abstains".
"The
U.S. Is Destroying Europe".
"Jimmy
Carter Is Correct that the U.S. Is No Longer a Democracy". *****
A presidenta Dilma
Rousseff foi representada em Pequim pelo Ministro da Defesa Jaques Wagner. É
ABSOLUTAMENTE impossível encontrar essa notícia em qualquer dos 'jornais' (só
rindo!) brasileiros na Internet. Mas, sim, se encontra, afinal, numa página de
especialistas em defesa aérea e naval (?)
emhttp://www.defesaaereanaval.com.br/tag/ministerio-da-defesa?print=print-page
Parece claro, também, que a presidenta Dilma Rousseff não
foi a Pequim para não 'provocar' o governo dos EUA. Toda a América Latina está
sob ataque ou às vésperas de ser duramente atacada pelos EUA, na disputa pelo
controle do continente [NTs].
4/9/2015, Eric Zuesse, Strategic Culture
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