Publicitários, produtores e cineastas do mercado publicitário prestaram depoimento nesta quarta-feira ao juiz federal Sergio Moro, em Curitiba, e reforçaram a tese do Ministério Público de que o ex-deputado petista André Vargas recebia dinheiro de bônus de volume de agências publicitárias por meio das empresas fantasmas LSI e Limiar. As duas empresas eram ligadas a Vargas, mas os investigadores afirmam que as firmas serviam de fachada para lavagem de dinheiro. A Operação Lava Jato detectou um esquema de repasse de dinheiro realizado pela agência de publicidade Borghi/Lowe, contratada pelo Ministério da Saúde, pela Caixa Econômica Federal e pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Segundo a Polícia Federal, a agência repassava 10% dos ganhos a título de bônus de volume a empresas de Vargas e seu irmão, Leon, sem haver qualquer prestação de serviço que justificasse os pagamentos.
Na prática, em vez de pagar o bônus à agência principal, prática comum no mercado da publicidade, as produtoras subcontratadas pela Borghi/Lowe para gravar filmes publicitários e spots de rádio para órgãos públicos - e que de fato prestavam serviços - pagaram para as duas empresas de Vargas e seu irmão.
A publicitária Silvia Neves Sivieri, diretora comercial da produtora Sagaz, por exemplo, confirmou ter feito pagamentos de bônus de volume para a Limiar e a LSI sem saber que as empresas não eram vinculadas à Borghi/Lowe. "O bônus de volume deveria voltar para a Borghi/Lowe, mas eu tinha uma relação de tanta confiança que nunca me ative que isso não era uma nota legal ou que não era uma nota lícita. Eu achei que essa nota era uma nota deles", disse a testemunha. De acordo com ela, o publicitário Ricardo Hoffmann, apontado pelos investigadores como parceiro de André Vargas no esquema de pagamento de propina e lavagem de dinheiro, orientou que os pagamentos dos bônus de volume fossem feitos para a Limiar e para a LSI.
O cineasta Hugo Prata Filho, dono da Zulu Filmes, também afirmou no depoimento à Justiça ter pago os bônus de volume de contratos publicitários, por orientação de Ricardo Hoffmann, às empresas de André Vargas, sem, contudo, saber que a Limiar e a LSI não eram vinculadas à Borghi/Lowe. "Em uma reunião que fizemos com os advogados, o senhor Ricardo Hoffmann falou que fazia isso porque o senhor André Vargas pedia isso para ele. Ele não negou [o pedido] e repassou para a gente. Ele foi bastante vago e não disse [porque André Vargas havia pedido os repasses]", relatou. "Quando recebi a notificação, para a minha surpresa, a gente descobriu que não era uma empresa do grupo Lowe. A gente pagava para essa empresa LSI o bônus de volume", completou o dono de uma produtora de som E-noise Rodrigo Pereira Prado, também contratada pela Borghi.
Nesta quarta-feira, em um dos processos a que o ex-deputado André Vargas responde na Operação Lava Jato, seis testemunhas foram ouvidas pelo juiz Moro, incluindo dois funcionários das empresas do político. Além dos publicitários, que confirmaram repasses para as empresas fantasmas, Rodrigo Kasuo Yoshitani e Alessandra Gonçalves Sasaki disseram terem sido contratados pela empresa LSI, a convite do irmão de André Vargas,para serviços administrativos, mas nunca viram nenhum cliente ou qualquer outro funcionário da empresa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário