quinta-feira, 16 de julho de 2015

Quem foi Solano Lopez

Quem foi Solano Lopez

Editado por Silmara Schupel.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Ernesto Caruso

Não poderíamos deixar de fazer um resumo de quem foi o responsável por deflagrar a Guerra da Tríplice Aliança como um contraponto aos detratores dos heróis nacionais e historicidas - notadamente após o recente documentário "Guerra do Paraguai", exibido pelo History Channel.

Sem entrar no mérito da invasão dos territórios da Argentina e do Brasil pelas tropas do Marechal Francisco Solano Lopez que por si só justificaram a guerra, vamos considerar nestas observações a impar figura do Duque de Caxias que tem sido atacado como cruel comandante e absolvendo o ditador paraguaio, por desconhecimento do terror que submeteu o seu povo para satisfazer a sua ambição expansionista.

O Duque de Caxias comandou, combateu e defendeu o Brasil com ardor patriótico incomparável. Na passagem de Itororó, em dezembro de 1868, o Duque de Caxias, com 65 anos, não da terceira idade de comodistas, da fala mansa, pausada, plena de autoridade, com caneta na mão, mas enfrentando o inimigo, lanças, fogos, metralha e doenças, dando exemplo e motivando, “Sigam-me os que forem brasileiros”.

Como descreve Dionísio Cerqueira, também combatente dos bons: “Passou pela nossa frente animado, ereto no cavalo, o boné de capa branca com tapa-nuca, de pala levantada e presa ao queixo pelo jugular, a espada curva desembainhada com vigor e presa pelo fiador de ouro, o velho general em chefe, que parecia ter recuperado a energia e o fogo dos vinte anos. Estava realmente belo. Perfilamo-nos como se um centelha elétrica tivesse passado por todos nós. ...”

O passado triste de quem foi Solano Lopes foi escrito por seus contemporâneos e compatriotas. Fez muita maldade e levou o seu povo à ruína.

As crueldades ficaram descritas não somente na História dos vencedores mas na dos conterrâneos do caudilho. As famílias consideradas traídoras foram internadas no ínterior do país logo após a evacuação de Assunção em fevereiro de 1868. As mulheres constituiram o grupo das destinadas (Tasso Fragoso) que muito sofreram nas marchas que fizeram para as regiões fronteiriças, açoitadas e flageladas ao longo de caminhos nas matas e florestas.

O escritor paraguaio Hector Francisco Decoud relata o veio do sofrimento. Uma primera concentração foi em Yhú, em 31/05/1869, 2.021 pessoas. Cruzes dos parentes mortos pontilhavam as trilhas por onde passavam. Tinham que construir os seus ranchos e plantar a sobrevivência. Em 19/09/1869 novo destino, Curuguati, com mais gente, 2.500 pessoas.

“A partir do segundo dia, a multidão viu-se obrigada a acelerar a marcha, caminhando todo o dia e a primeira metade da noite, incitada para isso pelos golpes e isultos... O espírito sente-se oprimido contemplando quadros tão desgraçados!...” Ao fim de 14 dias e 6 meias noites, mortes, adultos e crianças desaparecidas. De um ponto ao outro ponto, segundo aquele autor, morretam umas 300 pesoas. Um outro destino seria Panadero, uma petição para que não ocorresse e a autora da ousadia foi atada a um tronco na margem do Itanará-mí, nua, exposta ao sol, executada. As outras mandadas lancear pelo pelo sanguinário Lopez. A 23/10, 2.014 senhoras foram mandadas para o alto da serra de Maracaju e da lá até o rio Iguatemi. Em 7 dias, 65 quilômetros.     

Nada comparável se idêntica situação não fosse vivida pela infortunada mãe do algoz, Senhora Juana Carrillo. “Noutra carreta estavam a mãe e irmãs de Lopez, estas de joelhos, agradecendo a Deus o aniquilamento do tirano. A pobre velha Carrillo fora condenada à morte, e o tenente Muñoz, que a guardava, tinha ordem de lanceá-la, caso aparecessem os inimigos.” Mãe e filhas eram surradas, irmãs do infausto. O amor de mãe tenta abafar o sofrimento no momento do sepultamento, ao que sua filha, suplica: “Não chore, senhora, esse monstro, que não foi filho, nem irmão!” Dona Rafaella lembrara o assassinato de seus irmãos e de seu marido.

Que não assoprem a poeira que encobre esse lado triste do inimigo de outrora, não o povo paraguaio, que merece todo o respeito, mas a vertente da tirania; muito menos de denegrir a vida de tantos brasileiros que deram as suas vidas em combate e enfrentando a cólera como nossos retirantes da Laguna, do escritor épico Alfredo D’Escragnolle Taunay.

Por outro lado, a tirania de Lopez era manter seus homens preparados psicologicamente e coagidos para lutar até a morte. Enquanto existia comando e controle muito centralizados e próximo teve sucesso. Vitória ou morte era a regra. Uma hierarquia de responsabilidade podia levar um comandante a ser açoitado ou fuzilado se os seus subordinados desertassem. Cada combatente era responsável por outros dois.

A rendição e a deserção poderiam trazer conseqüências para as famílias dos que falhavam. Mesmo nas derradeiras operações de recuo, o requinte era destinado a si próprio e à madame Lynch. A escassez de víveres que atingia o restante incluía a própria mãe e irmãs.

Já era tão odiado que os paraguaios quando souberam que estava morto, festejaram e o seu corpo não foi despedaçado porque foram impedidos.
Transcreve-se a seguir o decreto de 17 de agosto de 1869 do Governo Provisório daquele País:

“Considerando: - Que a presença de Francisco Solano Lopez no solo paraguaio é um sangrento sarcasmo à civilização e patriotismo dos paraguaios. Que este monstro de impiedade perturbou a ordem e aniquilou a nossa Pátria com os crimes que tem perpetrado, inundando-o de sangue e atentando contra as leis divinas e humanas, com espanto e horror.

Excedendo aos maiores tiranos e bárbaros de que fazem menção as histórias de todos os tempos e idades; Resolveu e decreta: Art. 1º O desnaturado paraguaio traidor Francisco Solano Lopez fica fora da lei e para sempre banido do solo paraguaio como assassino de sua pátria e inimigo do gênero humano. Art. 2º Publique-se por bando e insira-se no registro nacional, aos 17 dias do mês de agosto de 1869, ano 1º da liberdade da República do Paraguai. Cirilo A. Rivarola, Carlos Loizaga e José Dias de Bedoya.


Ernesto Caruso é Coronel de Artilharia e Estado Maior, reformado.

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