BRICS/OCX semeiam pânico no Excepcionalostão
Editado por Silmara Schupel.
16.07.2015 18:28
Com a Europa devastada pelo arrocho [não é 'austeridade'; é arrocho] vendo suas "instituições" nada democráticas a espancar a tragédia grega, e com os EUA recuando para um acordo nuclear justo com o Irã, placas geopolíticas tectônicas movimentam-se nos Urais.
Alguém aí consegue sentir um mundo multipolar em germinação? Bem, basta olhar bem aqui, para a Declaração dos BRICS, de Ufá-2015. A UE praticamente não aparece na declaração dos BRICS e não por acaso.
Esqueçam o G7, natimorto. As duas reuniões simultâneas BRICS/ Organização de Cooperação de Xangai (OCX) - são o que realmente conta, para 2015. A jogada de mestre da diplomacia russa foi aproximar para a mesma cidade essas duas reuniões - dos BRICS e da OCX - e uma terceira, reunião informal, da União Econômica Eurasiana (UEE).
Afinal, algumas nações cujos governantes estavam presentes em Ufá são membros de pelo menos uma dessas organizações. Mas o que realmente conta é que, com os governantes dos BRICS, da OCX e da UEE reunidos num mesmo local, vê-se a evidência muito concreta de que está emergindo, sim, uma nova ordem mundial coordenada, que envolve a Eurásia e em alguns aspectos é impulso mundial, não ditada pelos excepcionalistas.
E há também o Irã. O presidente Rouhani encontrou o presidente Putin em Ufá para discutirem impressionante lista de tópicos. Dentre outras, e não é pouca coisa, a inclusão do Irã como membro da Organização de Cooperação de Xangai, assumindo-se que haja acordo em Viena e depois de levantadas as sanções da ONU [o acordo já aconteceu, e as sanções serão levantadas (NTs)[1]].
Na sequência, e tampouco por acidente, o presidente Barack Obama dos EUA emitiu ordens para o secretário de Estado John Kerry para recuasse de algumas posições que todo o corpo diplomático de Irã/P5+1 já dava por inalteráveis - como confirmou, em conversa comigo em Viena, um alto negociador iraniano.
Assim, eis a mensagem não muito velada enviada a Rouhani e ao ministro Zarif de Relações Exteriores: o Irã será 'punido' se se aproximar demais de Moscou.
Já há estratégia, vamos viajar
Só a Rússia é membro das três organizações - BRICS, OCX e UEE. Rússia e China são membros chaves de duas delas - BRICS e OCX. E a UEE, puxada pela Rússia vai lenta mais continuadamente misturando-se com a(s) Nova(s) Rota(s) da Seda puxadas pela China. O quadro estrutural chave é a parceria estratégica Rússia-China, em constante solidificação.
Enquanto o Pentágono lá fica, autoabsorvido em sua Doutrina de Dominação de Pleno Espectro requentada de 2002, Rússia e China contragolpeiam com cooperação de pleno espectro nos campos político, econômico, financeiro, diplomático e de defesa.
O fechamento dessa jogada - que será o ápice do atual Novo Grande Jogo na Eurásia - é uma nova estrutura geopolítica global ancorada na integração eurasiana. Daí a importância do Irã: (...) o Irã é o nodo/entroncamento vital na Eurásia.
Foi uma longa estrada para a OCX. Lembro quando euroburocratas, há apenas uns poucos canos, desmentiam, como conversa à toa, que a organização estivesse sendo constituída. O que começou como fórum de segurança para integrar os "-stões" da Ásia Central, para evitar que fossem atacados pelo terrorismo e pelo extremismo, evoluiu até se converter em organização econômico-política séria.
Agora, a OCX começa a somar-se e a basear-se na sempre crescente cooperação econômica dos BRICS, que mostra dois pilares principais: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) e o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (NBD). Quanto à UEE, é também indiretamente ligada à China, como parte da parceria estratégica Rússia-China.
Tudo isso se traduzirá dentro de poucos anos num complexo tecido de redes econômicas e de trocas/comércio, que atravessará a Eurásia. Podem chamar de mapa do caminho para as muitas Nova(s) Rota(s) da Seda.
Rápido, rápido! Tirem do armário aqueles planos de guerra!
Eis aqui uma amostra do que ficou decidido em Ufá: Putin e o presidente chinês Xi Jinping discutiram ativamente, um diante do outro, várias interconexões na(s) Nova(s) Rota(s) da Seda; ano que vem, a Índia será membro pleno da OCX; o ministro de Finanças da Rússia Anton Siluanov foi indicado presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) dos BRICS, que financiará projetos de infraestrutura, não só nos cinco países BRICS, mas também em outros países em desenvolvimento. E tudo isso negociando em suas respectivas moedas, deixando de fora o dólar norte-americano.
O NBD tem potencial para acumular coisa como $400 bilhões em capital, segundo o presidente KV Kamath. O capital inicial é de $100 bilhões.
A mudança de moedas também anda a passos largos. Já se aplica a Rússia e China em transações de comércio futuro, e Putin considerou "interessante" a expansão da mesma prática para outras nações.
Foi concebida uma estratégia para a parceria econômica entre os BRICS, que "considera a responsabilidade de diferentes ministros e exige coordenação de alto nível", nas palavras do ministro de Desenvolvimento Econômico da Rússia Aleksey Ulyukaev, o que significa, essencialmente, comércio facilitado entre nações BRICS.
Os dois, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) liderado pela China e o NBD têm sede na China. Mas não farão concorrência um ao outro: são estruturas complementares.
O Fundo de Investimento Direto da Rússia (FIDR) assinou memorando de entendimento com os demais países BRICS. São parceiros chaves também, significativamente, o Fundo da Rota da Seda, chinês, e a Companhia de Financiamento do Desenvolvimento da Infraestrutura (CFDI), indiana.
A Rússia levantará as restrições à operação de bancos chineses na Rússia, acelerando o impulso de Pequim para investir em todos os setores da
Economia russa.
Rússia propôs um mapa do caminho para cooperação em investimentos. Crucialmente, aí está incluída a possibilidade de uma associação para energia, segundo Putin, e um centro internacional de pesquisa em energia.
E o tema da energia, nos leva até a Grécia. O gasoduto Ramo Turco da Rússia - mais um contragolpe diplomático/de energia, depois que a UE marcou proverbial gol contra, ao bloquear o Ramo Sul - será conectado à Grécia.
Não surpreende que tudo isso tenha gerado pânico no Excepcionalostão. E se "o flerte" do Syriza com Moscou tornar-se mudança de estratégia, o que reduziria a cacos o flanco leste da OTAN?
Não importa que a Rússia deseje uma União Europeia forte - e a UE não será forte sem a Grécia, como o ministro Sergey Lavrov de Relações Exteriores da Rússia enfatizou em Ufá.
Tudo isso considerado, o que a OTAN propõe para tentar atrair todo mundo por toda a Eurásia, para bem longe do frenesi de atividade econômico/política dos BRICS, OCX e UEE? Nada menos que uma obsessão com uma "estratégia repensada". Em outras palavras, detalhados cenários "secretos" para uma guerra em solo europeu!
É tudo que é preciso saber sobre quem quer o quê, na nova ordem geopolítica emergente. *****
Esqueçam o G7, natimorto. As duas reuniões simultâneas BRICS/ Organização de Cooperação de Xangai (OCX) - são o que realmente conta, para 2015. A jogada de mestre da diplomacia russa foi aproximar para a mesma cidade essas duas reuniões - dos BRICS e da OCX - e uma terceira, reunião informal, da União Econômica Eurasiana (UEE).
Afinal, algumas nações cujos governantes estavam presentes em Ufá são membros de pelo menos uma dessas organizações. Mas o que realmente conta é que, com os governantes dos BRICS, da OCX e da UEE reunidos num mesmo local, vê-se a evidência muito concreta de que está emergindo, sim, uma nova ordem mundial coordenada, que envolve a Eurásia e em alguns aspectos é impulso mundial, não ditada pelos excepcionalistas.
E há também o Irã. O presidente Rouhani encontrou o presidente Putin em Ufá para discutirem impressionante lista de tópicos. Dentre outras, e não é pouca coisa, a inclusão do Irã como membro da Organização de Cooperação de Xangai, assumindo-se que haja acordo em Viena e depois de levantadas as sanções da ONU [o acordo já aconteceu, e as sanções serão levantadas (NTs)[1]].
Na sequência, e tampouco por acidente, o presidente Barack Obama dos EUA emitiu ordens para o secretário de Estado John Kerry para recuasse de algumas posições que todo o corpo diplomático de Irã/P5+1 já dava por inalteráveis - como confirmou, em conversa comigo em Viena, um alto negociador iraniano.
Assim, eis a mensagem não muito velada enviada a Rouhani e ao ministro Zarif de Relações Exteriores: o Irã será 'punido' se se aproximar demais de Moscou.
Já há estratégia, vamos viajar
Só a Rússia é membro das três organizações - BRICS, OCX e UEE. Rússia e China são membros chaves de duas delas - BRICS e OCX. E a UEE, puxada pela Rússia vai lenta mais continuadamente misturando-se com a(s) Nova(s) Rota(s) da Seda puxadas pela China. O quadro estrutural chave é a parceria estratégica Rússia-China, em constante solidificação.
Enquanto o Pentágono lá fica, autoabsorvido em sua Doutrina de Dominação de Pleno Espectro requentada de 2002, Rússia e China contragolpeiam com cooperação de pleno espectro nos campos político, econômico, financeiro, diplomático e de defesa.
O fechamento dessa jogada - que será o ápice do atual Novo Grande Jogo na Eurásia - é uma nova estrutura geopolítica global ancorada na integração eurasiana. Daí a importância do Irã: (...) o Irã é o nodo/entroncamento vital na Eurásia.
Foi uma longa estrada para a OCX. Lembro quando euroburocratas, há apenas uns poucos canos, desmentiam, como conversa à toa, que a organização estivesse sendo constituída. O que começou como fórum de segurança para integrar os "-stões" da Ásia Central, para evitar que fossem atacados pelo terrorismo e pelo extremismo, evoluiu até se converter em organização econômico-política séria.
Agora, a OCX começa a somar-se e a basear-se na sempre crescente cooperação econômica dos BRICS, que mostra dois pilares principais: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) e o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (NBD). Quanto à UEE, é também indiretamente ligada à China, como parte da parceria estratégica Rússia-China.
Tudo isso se traduzirá dentro de poucos anos num complexo tecido de redes econômicas e de trocas/comércio, que atravessará a Eurásia. Podem chamar de mapa do caminho para as muitas Nova(s) Rota(s) da Seda.
Rápido, rápido! Tirem do armário aqueles planos de guerra!
Eis aqui uma amostra do que ficou decidido em Ufá: Putin e o presidente chinês Xi Jinping discutiram ativamente, um diante do outro, várias interconexões na(s) Nova(s) Rota(s) da Seda; ano que vem, a Índia será membro pleno da OCX; o ministro de Finanças da Rússia Anton Siluanov foi indicado presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) dos BRICS, que financiará projetos de infraestrutura, não só nos cinco países BRICS, mas também em outros países em desenvolvimento. E tudo isso negociando em suas respectivas moedas, deixando de fora o dólar norte-americano.
O NBD tem potencial para acumular coisa como $400 bilhões em capital, segundo o presidente KV Kamath. O capital inicial é de $100 bilhões.
A mudança de moedas também anda a passos largos. Já se aplica a Rússia e China em transações de comércio futuro, e Putin considerou "interessante" a expansão da mesma prática para outras nações.
Foi concebida uma estratégia para a parceria econômica entre os BRICS, que "considera a responsabilidade de diferentes ministros e exige coordenação de alto nível", nas palavras do ministro de Desenvolvimento Econômico da Rússia Aleksey Ulyukaev, o que significa, essencialmente, comércio facilitado entre nações BRICS.
Os dois, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) liderado pela China e o NBD têm sede na China. Mas não farão concorrência um ao outro: são estruturas complementares.
O Fundo de Investimento Direto da Rússia (FIDR) assinou memorando de entendimento com os demais países BRICS. São parceiros chaves também, significativamente, o Fundo da Rota da Seda, chinês, e a Companhia de Financiamento do Desenvolvimento da Infraestrutura (CFDI), indiana.
A Rússia levantará as restrições à operação de bancos chineses na Rússia, acelerando o impulso de Pequim para investir em todos os setores da
Economia russa.
Rússia propôs um mapa do caminho para cooperação em investimentos. Crucialmente, aí está incluída a possibilidade de uma associação para energia, segundo Putin, e um centro internacional de pesquisa em energia.
E o tema da energia, nos leva até a Grécia. O gasoduto Ramo Turco da Rússia - mais um contragolpe diplomático/de energia, depois que a UE marcou proverbial gol contra, ao bloquear o Ramo Sul - será conectado à Grécia.
Não surpreende que tudo isso tenha gerado pânico no Excepcionalostão. E se "o flerte" do Syriza com Moscou tornar-se mudança de estratégia, o que reduziria a cacos o flanco leste da OTAN?
Não importa que a Rússia deseje uma União Europeia forte - e a UE não será forte sem a Grécia, como o ministro Sergey Lavrov de Relações Exteriores da Rússia enfatizou em Ufá.
Tudo isso considerado, o que a OTAN propõe para tentar atrair todo mundo por toda a Eurásia, para bem longe do frenesi de atividade econômico/política dos BRICS, OCX e UEE? Nada menos que uma obsessão com uma "estratégia repensada". Em outras palavras, detalhados cenários "secretos" para uma guerra em solo europeu!
É tudo que é preciso saber sobre quem quer o quê, na nova ordem geopolítica emergente. *****
[1] "Acordo histórico com o Irã reinicia o Grande Jogo da Eurásia", 14/7/2015, Pepe Escobar, Asia Times Online (ing.)[NTs].
13/7/2015, Pepe Escobar, RT
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