Rússia de volta a Afeganistão
Na véspera da retirada das tropas ocidentais do Afeganistão, a Rússia reforça sua actividade a essa direção. O governo de Hamid Karzai está pronto a cooperar. Ordenou a construção de um Centro Cultural Russo em Cabul. Afegãos também apoiam a Federação da Rússia de volta. Será que o governo vai encontrar um compromisso com o Talibã? A resposta, de facto, é importante.
É óbvio que o interesse de Moscou após a retirada das tropas da OTAN no Afeganistão, prevista para 2014, irá aumentar dramaticamente. Este país tem sido sempre na zona de interesses soviéticos e russos. Por exemplo, em 27 de março de 1919, o governo da Federação Russa foi o primeiro entre todos os outros Estados a ter reconhecido oficialmente a independência e soberania do Afeganistão.
No século 20, a União Soviética conseguiu tornar-se um dos mais importantes parceiros do país. Em 1979, a URSS implantou o seu contingente no Afeganistão, a pedido do governo afegão para evitar uma guerra civil, mas ficou envolvido em um conflito purulento. Após a retirada das tropas soviéticas em 1989, a opinião geral desta assistência, tanto no Afeganistão, como na Rússia foi negativa.
Porém, tudo é relativo. Hoje em dia, ao assistirem o que os americanos deixam no Afeganistão, a presença soviética parece aos afegãos uma bênção. Soldados soviéticos são lembrados com respeito no Afeganistão. Não atropelavam a dignidade dos afegãos na lama e podiam negociar.
É simbólico que são a cultura e a língua russa a estarem voltando primeiras ao Afeganistão. Cabul lançou a construção do novo Centro Cultural Russo, informa Reuters. O centro deverá abrir suas portas em 2014. Vai ensinar o idioma russo, música, dança e artesanato tradicional da Rússia. Haverá uma grande sala de concertos, igual àquela que havia em 1983, disse com orgulho o embaixador russo em Cabul, Andrey Avetisyan.
"Estamos aqui, na região, e vamos ficar aqui para sempre. E para termos um bom relacionamento, amigável e de boa vizinhança, é preciso começar com o desenvolvimento da componente cultural", continuou. De acordo com o embaixador, o interesse pela língua russa tem sido crescente entre os afegãos, considerando a Rússia de um parceiro importante do Afeganistão no período pós-americano.
Mohammad Rahim Banaizada, um dos seis professores de russo na Universidade de Cabul, compartilha essa opinião. "Nossos alunos são jovens demais para se preocuparem com o passado. Ao invés disso, eles consideram a língua russa como uma ponte para realizar suas oportunidades sociais e econômicas", disse Banaizada. Observou que o número dos alunos, estudando russo na Universidade, actualmente é cinco vezes maior do que era há cinco anos. "A Rússia é o nosso vizinho, amamos a sua cultura. Tudo estava sendo bem, quando os russos ficavam aqui", cita Reuters um estudante do terceiro ano.
A linha política da Rússia no Afeganistão está em fase de desenvolvimento. Vai depender das ameaças específicas e, acima de tudo, da actividade do Talibã e capacidade do governo de Karzai para manter o poder. É óbvio que é preciso criar novos vectores regionais de influência com o Paquistão, a Índia, os países da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, especialmente, com Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão. Hoje podemos dizer com certeza que a Rússia vai enfrentar a necessidade de combater o tráfico de drogas que aumentou centenas de vezes durante a estadia das tropas da OTAN.
Também devemos aguardar o fortalecimento da ameaça terrorista. A situação no Afeganistão está se deteriorando em todas as regiões do país. O Movimento Islâmico do Uzbequistão (IMU) que domina o norte, representa uma ameaça considerável para ex-repúblicas soviéticas. O movimento conduz a "guerra de minas" e efectua ataques terroristas. Muito provavelmente, a Rússia terá que enviar conselheiros militares para ajudar o exército local e da polícia que por agora estão fracos. No entanto, o governo russo vê perspectivas de paz, caso contrário, não haveria necessidade de reavivar o Centro Cultural.
A direção principal do retorno pacífico da Rússia para o Afeganistão é assistência econômica e do investimento em infra-estrutura, que quase completamente foi construída por especialistas soviéticos e ainda é mantida com a ajuda do equipamento soviético.
A primeira reunião da Comissão Bilateral Rússia-Afeganistão sobre comércio e cooperação econômica ocorreu em março. Segundo os dados apresentados, em 2011, o volume de comércio entre os dois países totalizou 984,96 milhões dólares, aumentando 12 vezes em relação a 2004.
É interessante também a "capacidade de trânsito" do Afeganistão na implementação de gasoduto TAPI (Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia) e CASA-1000 (a construção da linha de energia elétrica a partir de Quirguistão e Tadjiquistão ao Paquistão através do Afeganistão), em que as empresas russas estão ativamente envolvidas. O ministro das Finanças afegão, Omar Zahelval, observou que o Afeganistão estava interessado nos projetos relacionados ao transporte e construção.
"Estamos prontos para considerar as condições especiais para a participação da Rússia na reconstrução da fábrica de materiais de construção em Cabul e uma fábrica de cimento em Jabal Seraj", disse Zahelval, observando que empresas russas poderiam contar com condições privilegiadas nesses projectos. Mas a tarefa mais importante é desenvolver os programas de reorientação dos camponeses afegãos a cultivarem alimentos em vez de papoula.
Os americanos tentam fazer as pessoas acreditarem que os agricultores afegãos não podem fazer mais nada, mas é a opinião errada. O Serviço Federal de Controle de Drogas da Federação da Rússia diz que a produção de ópio no Afeganistão tem reduzido durante o último período da permanência dos talibãs no poder. No entanto, aumentou drasticamente após a ocupação do país. Em 2001 (o último ano do governo Talibã no Afeganistão), havia 185 toneladas de ópio bruto recolhidos, e em 2004 — 12.000 toneladas. De acordo com o serviço, a produção de opiáceos no país aumentou 44 vezes nos últimos sete anos.
O plano da Rússia de "Rainbow-2", que, em contraste com o plano de mesmo nome ocidental "Rainbow", prevê a recuperação da economia e no Afeganistão como um todo através do desenvolvimento de infra-estrutura, especialmente no campo de energia e electrificação com criação de, pelo menos, 2 milhões de vagas de emprego.
Lyuba Lulko
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