Prisões do senador Delcídio e do banqueiro Esteves sinalizam que Cunha, Collor e outros correm risco
A bolsa penitenciária de apostas especula que as próximas prisões de alto impacto político da Lava Jato serão as do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senador Fernando Collor de Mello. A inédita prisão de um senador em mandato, caso do petista Delcídio Amaral, pode render cadeia para outros membros da cúpula petista. Já a prisão do bilionário banqueiro André Esteves, combinada com a quase certa delação do pecuarista José Carlos Bumlai, amigão de Lula, tende a causar problemas para o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e para o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Conselho da Petrobras, Guido Mantega. O ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, também entra na mira da Justiça.
Desde ontem, os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal trabalham sob tensão máxima. Não foi fácil tomar a decisão de ordenar a prisão preventiva de um senador, mesmo com a prova gravada pelo filho de Nestor Cerveró, sobre um plano de fuga e uma mesada de R$ 50 mil para a família do ex-diretor internacional da Petrobras, ilustre delator premiado da Lava Jato. O dono do BTG Pactual foi acusado de ter prometido R$ 4 milhões a um advogado de Cerveró, em troca de silêncio. A obstrução nas investigações da Lava Jato ferrou Delcídio e Esteves.
O STF agora enfrenta o dilema de mandar prender o presidente da Câmara. O nervosismo se amplifica porque Eduardo Cunha já teria entregue ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, documentos contra 180 parlamentares. Cunha teria revelado um esquema de corrupção de políticos, incluindo prefeitos, que mexe com um mega sistema de prostituição na capital federal - que tem vários poderosos como clientes vips (sigla que também pode ser traduzida por "velhos, impotentes e picaretas"). No Congresso, a situação de Cunha é classificada como "pra lá de insustentável". Mas uma eventual prisão dele tem tudo para ampliar a guerra de todos contra todos.
A crise institucional, que já era evidente e gravíssima, também se complica dinda mais. Pelo artigo 53, parágrafo dois da Constituição, o Senado terá que votar a prisão de Delcídio do Amaral. O STF terá 24 horas para enviar ao Senado os documentos que justificam da prisão preventiva de Delcídio. Imagina o caos formado se os senadores, porventura, resolverem derrubar a decisão do ministro Teori Zavascki. O risco de tal absurdo acontecer é concreto. O problema é que os políticos ficarão com seu filme ainda mais queimado. E pode agravar a briga entre os poderes legislativo e judiciário, rumo a um impasse que pode redundar em ruptura. Todos sabem disto em Brasília.
O caso Delcídio é delicadíssimo. O senador petista, com fama de truculento, já tinha sido citado na delação do lobista Fernando Baiano, apontado pela Lava Jato como operador de propinas no esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014. Fernando Baiano revelou que Delcídio do Amaral teria recebido US$ 1,5 milhão em espécie na operação de compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
A prisão Bumlai, amigão de Lula, já tinha acendido a fogueira do inferno. Até que tudo se transformou em um forno siderúrgico com as prisões de Delcídio e de Esteves. Um é apenas o líder do governo no Senado. O outro é um banqueiro que cuida da fortuna de muita gente poderosa e agora sob risco. É quase inevitável que o problema de Bumlai acabe sobrando para Lula - ou para seu ponto mais frágil: algum de seus filhos.
Não vai ser fácil se livrar da pecha de tráfico de influência quem deixou Bulmai entrar 236 vezes no Palácio do Planalto. Isto, fotografado, via portaria, sem contas outras visitas feitas pela garagem, com registro apenas do veículo que o transportava. Informalmente, Bumlai tem frequência digna de um assíduo "funcionário" do governo. Deve ter muita gente com DAS de alto valor sem tamanha "presença" no local de trabalho. Apenas por coincidência, Delcídio foi preso no hotel Golden Tulip, onde mora em Brasília. Ali também morava o empresário José Carlos Bumlai, pego um dia antes.
Já a prisão de Esteves também acendeu uma luz ultravioleta no comando dos maiores bancos brasileiros. Esteves tinha negócios ligados a áreas problemáticas da Petrobras. Vide a empresa Sete Brasil, que fornece sondas para a "estatal". A força tarefa da Lava Jato investiga se ele também intermediava outros negócios para a empresa. No mercado, todos comentam, abertamente, que o dono do BTG Pactual foi beneficiado na aquisição da Petrobras África, em Angola. A investigação também promete um pente fino sobre quem investia com ele, sobretudo gente ligada ao governo. E, para horror dos financistas, a PF, Receita e Coaf estão de olho em operações feitas com a ajuda de outros grandes bancos brasileiros.
O caso Esteves pode chamar a atenção para conexões de operações financeiras, legais ou não, com a Suíça - cujo judiciário firmou um convênio com o Brasil para troca de informações. Desde 2014, o BTG Pactual de Esteves é controlador do banco suíço BSI (Banca della Svizzera Italiana). O 11o maior banco da Suíça por ativos, fundado em 1873, vira alto natural de investigações de transferências de dinheiro a partir do Brasil.
Como o Alerta Total já antecipou, informações e circunstâncias que levaram à prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal e muito próximo do poderoso Luiz Inácio Lula da Silva, levaram a cúpula petista a supor que José Dirceu de Oliveira e Silva tenha feito revelações comprometedoras à Justiça, em uma preparação para uma delação premiada oficial. Petistas já temem o que chamam de "traição de Dirceu", porque o já condenado no Mensalão estaria disposto a fazer de tudo para não continuar preso, em regime fechado, por causa do Petrolão - que estaria previsto, naturalmente, para acontecer, a não ser que haja algum acordo judicial.
Vale repetir por 13 x 13. Neste escândalo, a impressão geral é que o fim está apenas começando...
Releia a primeira edição desta quarta-feira: Petelândia já teme que Dirceu possa estar por trás de delações que levaram à prisão de amigo de Lula
Esperando por Lula
Sem mesada, vira a mesa
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