sábado, 27 de julho de 2013

Mau passo estratégico

Mau passo estratégico

27.07.2013
 
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Milton Lourenço (*)     
Que o governo passado deu um mau passo estratégico ao levar o País a assumir a responsabilidade de organizar festejos esportivos tão custosos, como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e a Olimpíada de 2016, não há dúvida. Até porque estavam à vista de todos as carências que existiam (e se agravaram nos últimos tempos) na infraestrutura do País em setores fundamentais, como transporte, saúde e educação. É o que mostraram as recentes manifestações nas ruas.

No caso da infraestrutura logística, está evidente o caos provocado pelas supersafras agrícolas que prejudica não só agricultores, operadores e exportadores como a sociedade, que vê seu dia a dia afetado por tantos congestionamentos, que são causados por intermináveis filas de caminhões à espera de carregar ou descarregar nos portos. Tudo isso é resultado da ausência, nos últimos 20 ou 30 anos, de um plano estratégico que tivesse previsto investimentos em infraestrutura logística. Mais: se esse plano existiu, nunca saiu das gavetas dos ministérios.
Só mesmo a cegueira política e administrativa dos gestores públicos pode explicar a prioridade dada a gastos com a construção de estádios e obras viárias em seus arredores para abrigar eventos esportivos que, depois de realizados, poucos benefícios deixam à população. As conseqüências desse mau passo são agora imprevisíveis.

            Se tivessem sido mais prudentes e equilibrados, os administradores públicos teriam priorizado ou estimulado investimentos em portos públicos ou privados que pudessem escoar a produção agrícola, acompanhados pela modernização ou ampliação da rede ferroviária e pelo estabelecimento de uma rede de armazéns nas áreas de plantio que pudessem regular o escoamento da produção.

            Como pouco ou nada disso foi feito, a perspectiva é de que vêm por aí maiores transtornos na articulação da exportação das safras, especialmente de soja e açúcar, pelo Porto de Santos, responsável pelo escoamento de 70% da produção total de commodities. Até porque a previsão é de que o espaço reservado ao plantio da soja no Mato Grosso deve crescer, em cinco anos, de 7 milhões para 16,4 milhões de hectares.

            Como o preço da soja está em alta no mercado internacional, os prejuízos causados pelas dificuldades para o escoamento da produção têm sido absorvidos, mas não se sabe até quando serão. Nos últimos dias, pelo menos dez navios chineses cancelaram seus embarques no Porto de Santos por causa de atrasos na chegada das cargas aos terminais.

            Uma saída, além do aumento da utilização da rede ferroviária, é o incremento do modal hidroviário, com a ampliação de seu potencial como via de transporte. O problema é que essa opção exigirá investimentos astronômicos na construção de eclusas em usinas hidrelétricas que permitam a interligação entre os trechos navegáveis dos rios. Sem contar as pontes que haverão de ser implodidas ou terão seus vãos ampliados para permitir a passagem de barcaças carregadas. Como se vê, a tarefa assume proporções ciclópicas. E exigirá gestores públicos sérios e comprometidos com o futuro do País.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.

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