quarta-feira, 24 de junho de 2015




Delator diz que negociou propina com ex-diretor da Odebrecht

Editado por Silmara Schupel.

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SÃO PAULO - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa prestou nesta terça-feira novo depoimento à Polícia Federal e afirmou que recebeu propinas para agilizar contratos de recebimento de nafta da Petrobras pela Braskem, empresa na qual a Odebrecht é sócia da estatal. Costa disse ter tido uma reunião num hotel em São Paulo com o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino de Salles Ramos de Alencar e com o ex-deputado José Janene (PP), na qual “foi tratado de forma clara o assunto relacionado ao pagamento de vantagens ilícitas em troca de benefícios à Braskem na compra de nafta da Petrobras”.

Costa disse que, apenas para agilizar a entrega dos pedidos de nafta da Braskem, recebeu propinas entre US$ 3 milhões e US$ 5 milhões por ano entre 2006 e 2012, pois sua diretoria de Abastecimento não tinha poder de decisão sobre preços. Segundo ele, havia duas empresas compradoras de nafta da Petrobras - além da Braskem, a Petroquímica Ipiranga - e que havia vantagem em conseguir comprar quantidades maiores da Petrobras, pois a alternativa era recorrer à importação. Segundo ele, é possível que houvesse grande economia, por exemplo, no valor do frete.

EX-DIRETOR PEDIU DEMISSÃO

Alencar era funcionário da Odebrecht desde 1992, foi diretor de relações institucionais da Braskem e atualmente era diretor de desenvolvimento da Odebrecht Infraestrututura. Foi preso na 14ª Fase da Operação Lava-Jato na última sexta-feira e pediu demissão da empresa na segunda. Alegou precisar se dedicar à sua defesa. Ele teve prisão temporária decretada por cinco dias pela Justiça Federal e ontem o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, decidiu prorrogar o prazo por mais um dia para avaliar o pedido da Polícia Federal, que quer o decreto de prisão preventiva.

Alencar havia sido delatado por Alberto Youssef. O doleiro disse que a Braskem, sociedade entre a Petrobras e a Odebrecht, pagou propina de US$ 5 milhões para diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e para o Partido Progressista (PP) em troca de vantagens na compra de nafta pela empresa. Ele havia confirmado ter se encontrado "quatro ou cinco vezes" com Rafael Angulo, que transportava dinheiro vivo para Youssef, e no depoimento de ontem afirmou que o funcionário do doleiro foi ao seu escritório apenas levar documentos de doações oficiais a campanhas políticas, a pedido do então deputado José Janene, do PP, com quem tratava sobre conjuntura política. Angulo teria inclusive levado um currículo da filha dele.

O depoimento de Costa corrobora as informações iniciais de Youssef. O ex-diretor da Petrobras disse que recebeu a propina da Braskem em contas no exterior, aberta pelo operador Bernardo Freiburghaus, dono da empresa Diagonal, que lhe havia sido indicada por um representante da Odebrecht. Outra parte da propina, segundo ele, foi paga no Brasil a Janene por meio do esquema de distribuição montado por Youssef.

Ao dizer que recebeu propina da Braskem e que negociou "vantagens ilícitas" com Alencar, Costa complica a situação do ex-diretor da Odebrecht. Ao decidir se decreta prisão preventiva de Alencar, Moro deve levar em conta as novas informações.

Alencar contou ter conhecido Janene em 2003, quando negociou com deputados para que não houvesse empecilhos para a criação da Braskem, pois os políticos temiam a concentração de mercado nas mãos de uma única empresa. Naquela época, Janene era presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.

Segundo Alencar, Janene lhe apresentou Paulo Roberto Costa e disse que iria sensibilizá-lo para o projeto da Braskem, pois a nafta é o insumo mais importante do projeto da empresa e a única fornecedora no país é a Petrobras. A ideia era que a estatal fornecesse o produto por um preço que não prejudicasse a Braskem. Ele confirmou ter tido encontros com Paulo Roberto Costa, "dois ou três" em hotéis, mas, ao contrário do que disse Costa, afirmou que essas discussões não "surtiram efeito concreto". Em 2007, Costa assumiu o posto de conselheiro da Braskem, ao lado de Graça Foster e Almir Barbassa.

Alencar disse desenvolveu relação próxima a Janene e Youssef, que o acompanhava em todos os encontros, e que discutiam quem a Odebrecht deveria apoiar politicamente. Era discutido, segundo ele, quais políticos deveriam ser apoiados pela companhia e que a Odebrecht fez doações ao PP e a alguns candidatos em 2008 e 2010.


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