domingo, 15 de dezembro de 2013

Amazônia brasileira: Dossiê Acre

Amazônia brasileira: Dossiê Acre

14.12.2013 | Fonte de informações: 

Pravda.ru

 
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Por Lucas Matheron*

A Amazônia é um mar de florestas que cobre um território maior que a União Europeia, abriga a maior biodiversidade do mundo e possui um dos maiores rios do planeta, mas é também uma terra de cobiça, de conflitos e às vezes de miséria.
Em Maio último, no Estado do Acre, na região amazônica, uma operação da Polícia Federal brasileira prendia quinze pessoas suspeitas de fraudes em licitações e desvios de verbas públicas. Dentre elas, membros de alto escalão do governo estadual, servidores públicos de diversas autarquias, magistrados e empresários da construção civil. Levado pela tempestade, até o sobrinho do governador do Estado foi preso [1].
Embora proibidos de deixar a cidade e suspensos nas suas atividades profissionais, a Justiça Federal lhes concedeu liberdade temporária algumas semanas depois [2].
Atualmente, o processo segue seu curso com inquérito judiciário e o presidente do Supremo Tribunal Federal até pediu proteção para a desembargadora encarregada do dossiê que já teria recebido ameaças [3].
Mas a história volta à tona em fim de Novembro por causa de uma declaração do Secretário de Comunicação do Estado do Acre contra o coordenador do CIMI regional (Conselho Indigenista Missionário) [4], Lindomar Padilha, na qual ele rejeitava a acusação de imobilismo e de abandono proferida pelo CIMI, detraindo a organização indigenista e o próprio coordenador com acusações graves e infundadas.
Esse último reagiu através do seu blog afirmando:
"Não há como permanecer calado enquanto o governo, por meio da financeirização e mercantilização da natureza, das culturas e povos, segue promovendo a espoliação dos territórios e patrocinando a concentração e uma nova acumulação "primitiva" de capital." [5]
Esse posicionamento veemente encontrou o respaldo de um professor doutor da Universidade Federal do Acre que lançou recentemente um livro oriundo da sua tese de doutorado e justamente intitulado: "(Des)Envolvimento Insustentável da Amazônia Ocidental" [6] no qual ele retrata criticamente o modelo de desenvolvimento implementado no estado amazônico.
Numa matéria defendendo a organização e seu coordenador, o Professor Elder de Paula denuncia: "[...] uma fina sintonia com a bancada ruralista e todos os demais inimigos dos povos indígenas, por outro, ilustra com nitidez a intolerância e autoritarismo do governo de plantão no estado Acre."
E ele bate o martelo declarando: "[...] não é o CIMI que deve explicações à sociedade, mas sim, o governo do Estado do Acre" sugerindo que este deve "as prestações de contas" e cita "o esquema de corrupção denunciado na "operação G7" levada a cabo pela da Policia Federal".
E como notável conhecedor da situação nesse Estado que estudou nos mínimos detalhes, ele acrescenta:
"Mais ainda, o governo estadual deve explicações sobre a entrega das terras e territórios deste estado para fazendeiros, madeireiros, especuladores financeiros que operam com os famigerados mercados de créditos de carbono etc."
O Professor Elder conclui denunciando as expulsões sumárias perpetradas contra posseiros "com todos os requintes utilizados no tempo da ditadura militar" bem como as "as constantes pressões para desocuparem seus territórios" [7].
Faz alguns anos que a questão dos povos indígenas aparece recorrentemente em primeiro plano, geralmente com forte conotação desfavorável aos índios por parte da grande mídia. Entretanto, para quem milita nos meios próximos a essas realidades, o discurso "oficial" soa falso e se sente o peso do pensamento conservador que nunca deixou de dominar: os ruralistas e latifundiários, os industriais, as multinacionais e a finança, todos jogando juntos na exploração das imensas riquezas que possui o país.
Notas:
[4]  CIMI: Organização ligada à Comissão Pastoral da Igreja que atua junto às comunidades indígenas há mais de 40 anos: http://www.cimi.org.br
* Lucas Matheron, francês de origem, radicado no Brasil há 30 anos, tradutor independente nos idiomas francês e português. Ecologista, participou de diversas organizações socioambientais no Extremo-Sul da Bahia onde dirigiu projetos educacionais, agroecologia e educação ambiental. Membro da  Aliança RECOS (Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras) desde 1999, da qual é coordenador de comunicação para os países francofonos. www.lucas-traduction.trd.br

Artigo publicado inicialmente em francês no site AgoraVox, a mídia cidadã.

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