sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Toffoli proibiu que os ministros acompanhassem a apuração…

Toffoli proibiu que os ministros acompanhassem a apuração…


Na apuração secreta criada por Dias Toffoli, nem mesmo os ministros do TSE tiveram acesso aos números
Carlos Newton
Em reveladora e estarrecedora entrevista a Beatriz Bulla, do Estadão, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro João Otávio de Noronha, confirmou que somente um pequeno grupo de técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) assistiu o minuto a minuto da totalização dos votos.
De acordo com o corregedor-geral, foi por ordem direta de Toffoli que o TSE montou um esquema para manter isolados os técnicos responsáveis pela apuração, sem contato inclusive com outros membros da Corte.
E o mais inacreditável é que, ainda segundo o corregedor-geral João Otávio de Noronha, a orientação dada pelo presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, era para que os técnicos não informassem nem a ele o resultado parcial da eleição antes da abertura dos dados para todo o País.
Como todos sabem, essa abertura dos dados somente ocorreu já depois das 20 horas, quando estava assegurada a “eleição” da candidata oficial Dilma Rousseff. Esses são os fatos – verdadeiros, indiscutíveis e irrefutáveis – que marcaram as estranhíssimas inovações desta eleição presidencial, em que não houve transparência nem fiscalização.
NEM OS MINISTROS ACOMPANHARAM…
As declarações do corregedor-geral João Otávio de Noronha são inaceitáveis e assustadoras, porque jamais ocorrera no país uma eleição em que até mesmo as maiores autoridades da Justiça Eleitoral foram proibidas de acompanhar a apuração.
Antigamente, de acordo com o próprio Noronha, os ministros do TSE acompanhavam normalmente a apuração dos votos. Mas desta vez, eles só tiveram acesso aos números quando foi anunciada, de chofre, a vitória de Dilma Rouseff, pois embora se alegasse que “a eleição não estava matematicamente definida”, não havia mais a menor possibilidade de uma virada de Aécio Neves.
Esta é uma página deprimente da História Republicana, escrita primeiro com urnas eletrônicas sabidamente vulneráveis e que não foram submetidas a testes, e depois com uma apuração em sala secreta, à qual nem mesmo os ministros do TSE tiveram acesso. E fica tudo por isso mesmo, no País do Carnaval. E la nave va…
PS – Não deixem de ler a entrevista-bomba da procuradora do PDT na Justiça Eleitoral sobre a fraude das urnas eletrônicas, postada ontem (quinta, dia 30) à noite.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A maior privatização da História do Brasil

A maior privatização da História do Brasil

 Por Ivan Valente, Deputado Federal PSOL/SP

24.10.2013
 
A maior privatização da História do Brasil. 19060.jpeg
Vivemos no dia de ontem (21/10) um momento histórico. Infelizmente, não poderemos nos orgulhar dele. Assim como, nos anos 1990, vimos a entrega do patrimônio nacional e de setores estratégicos para mãos privadas, reeditamos o receituário neoliberal da era FHC, desta vez levado a cabo por um governo eleito pela esquerda, mas que consolidou sua virada histórica para o outro lado.

Por Ivan Valente, Deputado Federal PSOL/SP

Vivemos no dia de ontem (21/10) um momento histórico. Infelizmente, não poderemos nos orgulhar dele. Assim como, nos anos 1990, vimos a entrega do patrimônio nacional e de setores estratégicos para mãos privadas, reeditamos o receituário neoliberal da era FHC, desta vez levado a cabo por um governo eleito pela esquerda, mas que consolidou sua virada histórica para o outro lado. Mas mesmo o partido tucano poderia invejar o que aconteceu nesta segunda-feira, pois todas as suas privatizações juntas, incluindo Vale e Telebrás, não chegarão à magnitude da entrega do Campo de Libra.
 Com o uso das tropas da Guarda Nacional e do Exército brasileiro, o governo Dilma consumou na tarde deste dia 21 de outubro o leilão do campo de Libra na Bacia de Campos (RJ), a maior reserva já descoberta no pré-sal brasileiro, com um potencial que pode chegar a 12 bilhões de barris no total. A estimativa inicial de extração de 1 milhão de barris por dia foi elevada para 1,4 milhão de barris por dia pela diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard. Para se ter uma ideia do volume de petróleo (de altíssima qualidade) aí contido, a extração diária de Libra sozinha pode representar 65% da produção atual. E o volume total de petróleo deste campo equivale a tudo o que já foi extraído pela Petrobras desde a sua criação, há 60 anos, e ao total das reservas do México, segundo o Heitor Scalambrini Costa, doutor em energia e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE
 A riqueza de Libra é avaliada em R$ 3 trilhões, e por estas dimensões gigantescas, o Leilão do Campo de Libra representa a maior privatização da história brasileira, com valores e potencial de extração muitas vezes superior a privatização da Vale do Rio Doce, considerada uma das maiores mineradoras do mundo e a maior privatização da era FHC.
Em pronunciamento de quase 8 minutos em TV aberta na noite de ontem, a presidente Dilma exibiu com seu típico tom triunfalista números que refletem o otimismo conveniente de quem acabou de entregar o maior patrimônio material do país para desfrutar dos benefícios de curto prazo. "Isto é bem diferente de privatização", disse Dilma, que joga com números que, até se comprovarem por meio da própria produção do petróleo do pré-sal, são fictícios e expressam não apenas a necessidade de colher dividendos políticos, mas também a própria dificuldade do governo em legitimar o próprio privatismo. Mas claro, como justificar um estelionato eleitoral de tamanha envergadura, quando todos sabem que a presidente venceu as eleições de 2010 condenando as privatizações do PSDB e acusando seu adversário de querer fazer o mesmo com a Petrobras e o pré-sal?
Pois bem. Um consórcio de cinco empresas - a anglo-holandesa Shell, a francesa Total, as chinesas CNPC e CNOOC e a Petrobras - foi o ganhador do leilão. Este consórcio, que competiu sozinho, pois não houve outros interessados, arrematou o leilão pela oferta mínima prevista no Edital, que é o repasse de 41,65% do óleo excedente a ser produzido para a União. Por lei, a Petrobras obrigatoriamente seria operadora de Libra e teria participação de 30% da área. Com a oferta de 10% feita pela empresa, a estatal passa a ter 40%, as empresas chinesas ficam com 20%, a Shell com 20% e a Total com 20%. Ou seja, 60% do maior campo do pré-sal está em mãos de empresas estrangeiras, com direito a 35 anos de exploração de suas riquezas.
Segundo o diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP (IEE) e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras no governo Lula, Ildo Sauer, o Estado brasileiro pode deixar de arrecadar até R$ 331,3 bilhões em 35 anos com o leilão do pré-sal. O cálculo considera o modelo de partilha, previsto para o leilão; royalties de 15%; imposto de renda de 34% sobre o lucro; bônus de assinatura de R$ 15 bilhões, conforme determinado em edital; preço do barril de petróleo a US$ 160; e dólar a R$ 2,20. O cálculo não leva em conta taxa de juros e inflação.
Em outros cenários, com o preço do petróleo mais alto ou mais baixo que o estipulado, as perdas podem variar. Com o barril a US$ 60, o governo deixaria de arrecadar R$ 176,8 bilhões; se o barril valer US$ 105, as perdas do governo são de R$ 222,3 bilhões. Disfarçando tamanho prejuízo, Dilma vai a TV comemorar o ganho de R$ 15 bilhões em bônus pela venda da maior reserva brasileira de petróleo de alta qualidade. Bônus estes que serão utilizados para garantir a meta de superávit do governo brasileiro, em grande parte destinada ao pagamento da famigerada dívida pública.
O abismo entre o discurso oficial e a realidade é difícil de ser explicado para o grande público, e assim o governo joga com a desinformação, pois, como se sabe, o diabo mora nos detalhes. Para quem não ignora os meandros da negociata e nem faz o papel de ideólogos do governo, no entanto, a comparação com as privatizações de FHC não são apenas superficiais, mas revelam um modelo fundamentalmente semelhante. Trata-se de modelo tão temerário que, inclusive dentro do PT é possível encontrar vozes dissonantes, como a do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.
Segundo ele, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Ministério das Minas e Energia (MME), para entregar às multinacionais a maior reserva do mundo, estão, premeditadamente, contornando e trapaceando a nova lei do petróleo, assinada por Lula em 2010. Em entrevista ao blogueiro Paulo Henrique Amorim, Gabrielli afirmou que "quando houve a transformação do regime regulatório do petróleo no Brasil, em 2010, essa mudança ocorreu porque, com a descoberta do pré-sal, os riscos de exploração passaram a ser pequenos. (...) O regime anterior, o regime de concessão [lei nº 9.478, de 1997] era adequado para áreas de alto risco exploratório. Esse regime exige, na entrada, um bônus alto, porque o concessionário passa a ser o proprietário do petróleo a ser explorado - e, portanto, ele vai definir a priori quanto vai dar ao Estado".
Trata-se, portanto, de um engodo. O modelo que conta com o "bônus de assinatura" serviria caso houvesse risco para as empresas de que não existisse petróleo. Mas já está comprovado que existe um oceano de petróleo no pré-sal, qual o sentido, então, de se pagar para procurar um petróleo que todos sabem que já existe? Além do mais, a descoberta já foi feita pela própria Petrobras, contratada pela ANP, "que fez as perfurações exploratórias iniciais, já tem uma cubagem mais ou menos conhecida com volume e potencial já conhecidos, e ele é hoje não só o maior campo do mundo, mas da História. Se você pensar em um preço de valor adicionado (preço de exploração) de 10 dólares o barril, vezes, por baixo, 10 bilhões de barris, são 100 bilhões de dólares".
Com a nova lei (lei nº 12.351 de 2010), que instituiu o regime de partilha de produção para o pré-sal, como aponta Gabrielli, "à medida que você coloca um bônus muito alto, a partilha do lucro no futuro é menor. Ao fixar o bônus alto, você tem uma visão de curto prazo, na exploração e no desenvolvimento de um recurso que já tem o grau de confirmação muito alto - não há dúvida de que tem petróleo lá". Ou seja, mesmo com a certeza da existência do petróleo, o governo submete todo o ganho potencial futuro do Estado a uma parcela menor. Nessa operação de R$ 15 bilhões, o governo vai receber de imediato, mas no lucro do futuro, o governo vai ficar com uma fatia menor.
Evidentemente, num campo com tal reserva, o lucro do futuro é imenso e muito maior que esses R$ 15 bilhões. O valor que deveria ser pago em bônus, mais o de investimento para a instalação das plataformas de exploração, serviram de argumento pelo governismo para justificar a privatização, já que segundo eles a Petrobras "não teria recursos para investir sozinha".
Ildo Sauer defende que a Petrobras deveria assumir a exploração do pré-sal sozinha, e não em consórcio com empresas estrangeiras. Segundo ele, a estatal brasileira é a empresa mais capacitada do mundo para fazer exploração de petróleo em águas ultraprofundas, e poderia obter empréstimos junto a bancos. Como afirmou em entrevista ao jornalista Luiz Carlos Azenha, nenhuma empresa pode arcar com estes custos, sendo que tomar empréstimos é exatamente o que as companhias privadas farão. "De fato, a Petrobras fará o trabalho pesado - tem tecnologia e conhecimento para isso. As parceiras terão, lá na frente, um lucro desproporcional ao investimento feito agora."
Ainda segundo Sauer, não dá para calcular, ainda, exatamente com quanto o Brasil ficará da produção de Libra, o que seria por volta de 60%, quando o padrão internacional para empresas estatais é de 80% (no caso da PDVSA venezuelana e da Aramco, da Arábia Saudita). Seria diferente se, por exemplo, o governo tivesse optado por contratar a Petrobras diretamente, o que está previsto em lei.
Alguns ideólogos do governo petista chegaram inclusive a atribuir à presença de empresas chinesas um caráter "anti-imperialista" ao modelo de partilha. Entre os "argumentos" estaria o de que a presença da China deixaria a IV Frota do EUA longe da costa brasileira, ou de que a China, em sua busca por recursos naturais, teria uma "relação de troca" com o Brasil por meio de estímulos ao empreendedorismo etc. Houve até quem questionasse se entregar para estatais chinesas seria ainda assim privatização. Trata-se de uma grande piada, ou desonestidade intelectual pura e simples.
Como afirma Sauer, o interesse da China em relação à exploração de petróleo é convergente ao dos Estados Unidos, pois ambos são grandes consumidores de petróleo e precisam de preços mais baixos no mercado internacional. Em um mundo onde o preço do petróleo é determinado - para cima - pelos países associados à Opep, a entrada do Brasil na produção de petróleo em larga escala e em curto prazo faria o preço cair. Ou seja, além de servir indiretamente aos interesses de EUA e China, o Brasil tem, dentro do consórcio que fará a exploração, os chineses, que são também consumidores.
Há ainda a questão dos royalties associada ao pagamento dos juros da dívida pública brasileira. Segundo Rodrigo Ávila, economista da Auditoria Cidadã da Dívida, os royalties - dos quais 75% iriam para Educação e 25% para a Saúde - equivalerão a apenas 15% da produção, e somente serão obtidos quando o Campo de Libra começar a operar plenamente, o que ocorrerá apenas por volta de 2019. Além do mais, o governo federal já não tem destinado os recursos dos royalties para as suas finalidades legais, mas em grande parte para o pagamento da dívida pública, o que pode ocorrer novamente com o Campo de Libra.
Além do mais, Ávila lembra que, do valor arrecadado pela União com a parcela do "excedente em óleo", apenas 50% serão destinados para as áreas sociais, pois a outra metade será destinada para aplicações financeiras, preferencialmente no exterior (por meio do chamado "Fundo Social"), e apenas o rendimento destas aplicações será aplicado nas áreas sociais. "Se é que haverá rendimento, dadas as baixas taxas de juros no mercado internacional e a abundância de papéis que podem se mostrar "podres" da noite para o dia, em um ambiente de Crise Global", questiona o economista.
Todos os movimentos sociais comprometidos com a defesa da soberania nacional foram contrários ao leilão de Libra, assim como os petroleiros, que continuam em greve e a quem manifestamos todo o nosso apoio e solidariedade.
Importante ressaltar ainda que a Petrobras já foi em grande parte privatizada, pois seu lucro é distribuído preponderantemente aos investidores privados, e a parcela pertencente à União deve ser utilizada obrigatoriamente para o pagamento da dívida pública, conforme manda a Lei 9.530/1997.
Quando o governo FHC promoveu a grande privataria dos anos 1990, um dos argumentos era o de que era necessário ter caixa para pagar os compromissos e respeitar os contratos. Isso implicou na entrega a preços módicos de setores estratégicos da economia - que hoje dão lucros extraordinários aos seus donos privados - em nome do curto prazo, comprometendo o futuro do país. Pois há apenas uma diferença em relação ao que fez o governo Dilma: o tamanho da privatização, que agora pode ser considerada a maior da História. Os benefícios de curto prazo que são agora incorporados ao ufanismo oficial cobrarão o seu preço das gerações futuras.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Coalizão liderada pelos EUA quer combater extremistas na internet

Coalizão liderada pelos EUA quer combater extremistas na internetO sub-secretário de Estado para os assuntos públicos disse que 'o número de pessoas que se juntam ao Daesh (acrônimo do grupo EI) está em queda'

Publicação: 27/10/2014 15:51 Atualização:

Mursitpinar - A coalizão liderada pelos Estados Unidos voltou a bombardear posições do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque, enquanto Washington pediu nesta segunda-feira (27/10) que a batalha contra os jihadistas se estenda à internet. Reiterando que a solução para o problema não pode ser apenas militar, o general americano reformado John Allen, coordenador da coalizão, insistiu na importância de lutar contra "as atividades on-line" do EI, muito ativo nas redes sociais.

"Só quando competirmos com a presença do EI na rede, quando negarmos a legitimidade da mensagem que mandam aos jovens, só então venceremos realmente o EI", afirmou Allen durante um encontro realizado na Cidade do Kuwait. O general afirmou que o EI está promovendo seu "tipo de guerra horrível na internet, onde recruta e perverte inocentes".

Para combatê-la, uma outra autoridade americana, Rick Stengel, sub-secretário de Estado para os assuntos públicos, falou sobre a criação de "uma coalizão de informação que atue paralelamente à coalizão militar". Os participantes da reunião - principalmente representantes do Golfo, Iraque, Egito, Grã-Bretanha e França - se comprometeram a reforçar a luta contra as mensagens extremistas do EI, de acordo com a declaração final do encontro.

Stengel disse que "o número de pessoas que se juntam ao Daesh (acrônimo do grupo EI) está em queda". "Acreditamos que ele esteja perdendo o seu apelo", considerou. O EI recrutou milhares de voluntários para a jihad de muitos países árabes, mas também europeus e asiáticos, que se juntaram as suas fileiras na Síria ou no Iraque, onde o movimento criou um "califado" nas vastas áreas sob seu controle.

Entre seus combatentes, "quase 2.000" seriam provenientes de países da União Europeia, segundo indicou recentemente o ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve. Muitos deles foram atraídos pelas campanhas sofisticadas lançadas por recrutadores nas redes sociais, onde são divulgados, entre outras coisas, vídeos glorificando os feitos do EI.

Peshmergas prontos para Kobane

No plano militar, a coalizão realizou novos ataques contra posições do EI em torno de Kobane, a cidade síria curda que resiste há mais de 40 dias ao assédio jihadista. Auxiliados por esses ataques, os curdos conseguiram repelir as últimas investidas dos combatentes extremistas, que cometeram dois atentados suicidas domingo no leste da cidade, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A incerteza continua acerca da chegada a Kobane de cerca de 200 peshmergas, os combatentes curdos iraquianos. "Estamos prontos para enviá-los", mas "esperamos para saber qual é a postura adotada pelo Estado turco", declarou Mustafa Qader, chefe do ministério responsável pelos peshmergas em Erbil, principal cidade da região autônoma do Curdistão iraquiano.

A Turquia surpreendeu recentemente ao permitir, sob pressão dos Estados Unidos, a passagem dos peshmergas por seu território. Ainda na Síria, os jihadistas do EI decapitaram no leste do país quatro membros da tribo sunita dos Shaitat, vítima de um massacre cometido pelo grupo extremista, relatou o OSDH. "O EI decapitou no domingo quatro homens da tribo Shaitat na cidade de Bukamal, na província de Deir Ezzor, acusando-os de colaboração com o regime diante de uma multidão que assistia à execução" de Bashar al-Assad, afirmou à AFP Rami Abdel Rahmane, diretor da ONG.

Bukamal, na fronteira com o Iraque, é uma das principais cidades sob controle do EI, que domina grande parte do leste sírio, onde impõe sua interpretação extremista do Islã sunita. Também nesta segunda-feira, a Frente Al-Nosra, braço da Al-Qaeda na Síria, e outros grupos rebeldes iniciaram uma vasta ofensiva na cidade de Idleb, um dos últimos redutos do regime sírio no noroeste do país. 

Em um ano, os rebeldes e a Frente Al-Nosra perderam muitos redutos para o Exército, que tem o apoio do movimento xiita libanês Hezbollah, sobretudo nas províncias de Homs e Damasco.

Chegada do inverno preocupa

No Iraque, pelo menos 14 pessoas morreram em um atentado suicida com carro-bomba em uma área estratégica ao sul de Bagdá, onde estavam posicionadas forças do governo e milícias xiitas, informou uma fonte médica. Fontes das forças de segurança confirmaram a explosão de um veículo carregado de explosivos que também deixou 25 pessoas feridas em Khourf al-Sakhr, uma localidade que o governo havia retomado do EI no último fim de semana.

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Os aviões da coalizão realizaram mais três ataques nas proximidades da barragem de Mossul, segundo o Exército americano. No âmbito humanitário, a situação tem se agravado no Iraque com a aproximação do inverno. Segundo o diretor de Assuntos Humanitários da ONU, Rashid Khalikov, "5,2 milhões de iraquianos precisam de ajuda, enquanto 1,8 milhão deixaram suas casas desde janeiro". "Um inverno rigoroso se anuncia e começa a fazer muito frio à noite (...) 800.000 pessoas precisam de abrigo com urgência", ressaltou Khalikov, que pediu à comunidade internacional um amento nas doações.

Após reeleição, Bovespa fecha em queda e dólar atinge maior valor desde 2005

Após reeleição, Bovespa fecha em queda e dólar atinge maior valor desde 2005Moeda norte-americana vale R$ 2,52 e Bolsa de Valores de São Paulo tem desvalorização de 2,77%

Publicação: 27/10/2014 17:44 Atualização:

 (AFP PHOTO/Yasuyoshi CHIBA)


No primeiro dia após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda de 2,77%, aos 50.503 pontos, e o dólar comercial registrou alta 2,68%, sendo vendido a R$ 2,52, no maior valor desde maior de 2005. A volatilidade tomou conta das ações nesta segunda-feira (27/10).

O Ibovespa, que abriu o dia aos 51.916 pontos, chegou a registrar desvalorização de 6%, aos 48.729 pontos, às 10h23 da manhã. A cotação da moeda norte-americana atingiu R$ 2,61, o valor mais alto desde dezembro de 2008, mas recuou após a abertura e desvalorizou-se ao longo do dia.

As ações da Petrobras lideraram as perdas. O papéis preferências (aquelas em que os acionistas têm preferência no pagamento de dividendos) caíram 12,33%. Já as ações ordinárias (que garantem direito a voto aos donos dos papéis) fecharam o dia em queda de 11,34%

Outra estatal que somou perdas foi a Eletrobras. Enquanto as ações do tipo ON caíram 11,68, as do tipo PN tiveram queda de 9,63. Já a Vale (ON) viu seus papéis desvalorizarem 4,01%.

Segundo analistas ouvidos pelo Correio, a volatilidade tende a permanecer no mercado. Segundo especialistas, os investidores deverão ficar atentos a escalação dos novos ministros, principalmente o da Fazenda.

“O mercado está reagindo ao resultado das eleições. Uma parte já havia se antecipado, na semana passada (quando a bolsa caiu 6,7%), depois do avanço de Dilma nas pesquisas”, disse à agência France Presse André Leite, analista da TAG Investimentos. “É urgente que a presidente anuncie nesta semana quem será seu ministro da Fazenda”, opinou o economista da Gradual Investimentos, André Perfeito.

“O primeiro desafio da presidente agora será anunciar o rumo da política econômica e das contas públicas. A presidente tem que tentar recuperar a confiança perdida dos setores econômicos”, afirmou o José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do banco de investimentos Fator. Dilma prometeu em seu discurso na noite de domingo tomar medidas para recuperar o ritmo de crescimento.

Porém, a longo prazo a tendência deverá se reverter e o mercado voltará a se acalmar. “Esses movimentos de baixa no real e na bolsa estão deixando o Brasil muito barato, é bem possível que essas quedas se revertam, que atraiam os investidores”, avaliou Perfeito.

Obama erra e erra: o ISIL é, sim, Islâmico; e é sim, Estado

Obama erra e erra: o ISIL é, sim, Islâmico; e é sim, Estado

22.09.2014
 
Obama erra e erra: o ISIL é, sim, Islâmico; e é sim, Estado. 20901.jpeg
"Estamos combatendo uma ideologia, não um regime."
- John Kerry, secretário de Estado dos EUA
"Vamos deixar bem claras duas coisas: o ISIL não é "Islâmico". Nenhuma religião prega o assassinato de inocentes, e a vasta maioria das vítima do ISIL foram muçulmanas. E o ISIL com certeza não é Estado. Foi antes afiliado da al-Qaeda no Iraque, e extraiu vantagens da luta sectária e da guerra civil na síria, para ganhar território dos dois lados da fronteira Iraque-Síria. Não é reconhecido por nenhum governo, nem pelo povo que subjuga. O ISIL é organização terrorista pura e simples. E não tem qualquer outra visão além do massacre de todos que se interponham no caminho dele."
- Barack Obama, presidente dos EUA

Falando claro, mas claro mesmo: a premissa básica do presidente Obama (e de Kerry), de que os EUA e aliados estão combatendo uma ideologia desviante, não islâmica, que deve e pode ser deslegitimada reunindo contra ela o mundo árabe sunita para que a declare "não islâmica" só faz provar e comprovar o quão pouco a dupla realmente SABE sobre o ISIL - contra o qual estão indo à guerra.

No Islã não existe "verdadeiro Islã". Jamais houve qualquer autoridade central no Islã que pudesse definir tal entidade. Para o melhor e para o pior (principalmente para o melhor), o Islã sempre teve muitas faces. Mas, paradoxalmente, há hoje uma orientação que, sim, é a única que se apresenta como o tal 'verdadeiro Islã': o wahhabismo.

Como observa o professor As'ad AbuKhalil:

"O que Mohammed Ibn 'Abdul-Wahab dizia e repetia - e seus seguidores dizem e repetem hoje - é que os homens com a espada julgam em nome de Deus na terra, e sobre todos os assuntos, dos maiores aos menores. É onde o Reino Saudita e o ISILcombinam perfeitamente. Estão fora dos limites do Islã mainstream, porque se recusam a conceder, sequer, que falam só como representantes de uma seita. Os wahhabistas (de todas as bandeiras) protestam até contra o adjetivo "wahhabistas": "somos os únicos muçulmanos", dizem. Significa que só eles são muçulmanos, e o resto do mundo é povoado por kafirs [incréus] que têm de ser combatidos como os antigos pagãos do tempo de Maomé. Os wahhabistas dizem que representam o 'verdadeiro Islã', quando a força do Islã ao longo das eras sempre esteve no fato de que jamais existiu essa coisa de 'o verdadeiro Islã'."

Assim sendo, só a Arábia Saudita - e o ISIL repete - insistem nessa noção de 'verdadeiro Islã que Obama-Kerry tentam ressuscitar. Apenas para registrar a informação: essa comunhão de ideias deriva de a Arábia Saudita e o ISIL partilharem uma mesma base doutrinal, "O livro do monoteísmo", texto chave de Abd al-Wahhab.

Em resumo, o ISIL é tão wahhabista quanto o rei Abdullah da Arábia Saudita. Há aqui, sem dúvida, uma engraçada ironia: Obama e Kerry estão aí, super empenhados na tarefa de tentar "deslegitimar" a própria doutrina da qual nasceu o reino saudita!

Fato é que o defensor-promotor do "verdadeiro Islã" e guardião de Meca é também fiel zelador do "mesmo" Islã que o ISIL. Como poderia o rei Abdullah denunciá-lo?

Ao mesmo tempo, como pode alguém supor que algum muçulmano, que vive familiarizado com essas questões e conhece a fundo essas discussões, algum dia levará a sério essa 'conversa' de Obama-Kerry?

E SIM, SIM, O ISIL É ESTADO

John Kerry estaria certo se dissesse que a al-Qaeda é uma ideologia, não um regime. Mas erra sobre o ISIL. Diferente da al-Qaeda que só tinha "uma ideia", o ISIL tem projeto e objetivos claros: estabelecer o "principado" de Deus aqui e agora. Tem uma doutrina para como fazer existir tal estado (extraída das guerras lançadas para estabelecer o Estado Islâmico original); controla hoje território maior, em tamanho, que a Grã-Bretanha; tem consideráveis recursos financeiros; tem exército muito bem armado e equipado (cortesia dos EUA, da Grã-Bretanha e outros); tem comandantes militares competentes; e tem um líder que, na opinião de muitos, disse muito bem a que veio (pelo menos, na única ocasião em que se deixou ver em público).

Em resumo, esse desenvolvimento (o "Estado Islâmico") pode, sim, ser problema muito mais grave, com fundamentos muito mais firmes, com muito mais apelo às massas muçulmanas, que a conversa fiada ocidental sobre "bandidos" e "degoladores cruéis" pode(ria) fazer crer.

O verdadeiro alvo dos EUA e seus aliados árabes é o presidente Assad

Vários estados árabes e do Golfo alistaram-se com Washington para combater o ISIL, mas exclusivamente porque planejam enfiar um Cavalo de Troia na agenda da "guerra".

Os soldados escondidos na barriga do "cavalo" de madeira estão reunidos - não para dar combate ao ISIL -, mas para guerra muito diferente. Querem converter a guerra em renovada ofensiva contra o presidente Assad e a Síria. De fato, na reunião preliminar feita em Jeddah, os estados árabes definiram uma nova arquitetura de segurança árabe que converteria a "guerra contra o ISIL" em guerra não só contra o ISIL, mas também contra o presidente Assad e todos os islamistas (esperam, claramente, empurrar o ocidente para guerra maior contra a Fraternidade Muçulmana, Hamas, Hezbollah, etc.). Em artigo recente, o conhecido colunista saudita Jamal Kashoggi:

"Pode-se pois dizer que eliminar o ISIL exige também a eliminação de Assad (...) A operação deve visar o aliado de Moscou em Damasco e derrubá-lo, ou preparar o caminho para derrubá-lo (...) Essa talvez seja a explicação lógica de por que a Arábia Saudita aprovou manter campos de treinamento para a oposição síria moderada. É equivalente a declarar guerra indireta ao regime sírio (...) A Aliança de Jeddah  [orig. Jeddah alliance] é a oportunidade de um recomeço, para todos. Não se limita à tarefa imediata de eliminar o ISIL, mas também inclui a possibilidade de expansão no rumo de reformar a situação no Iraque e na Síria."

A posição dos EUA é nuançada: não será de "coordenação" com Damasco, mas vai "desconflitar" [orig. deconflict] (palavras de Kerry) a relação com Damasco.

As Forças Armadas sírias são comprovadamente efetivas, em termos militares, e os EUA sabem disso; e, afinal "o único jogo na cidade" (como se diz) é o ISIL. Assim sendo, os EUA, ao que parece, concederam - como migalha jogada ao Golfo, para mantê-lo engajado - que os sauditas de certo modo modificassem a "guerra contra oISIL" e a reorientassem na direção de derrubar o presidente Assad.

Essa reorientação combina confortavelmente com a narrativa de 'desculpas preventivas' do Golfo, de que o ISIL não seria alguma espécie de movimento neo-wahhabista de vanguarda, mas, meramente, uma "reação" natural dos sunitas, brotada das políticas sectárias de Assad e do ex-primeiro-ministro Maliki do Iraque.

A Arábia Saudita - como contribuição para derrotar o ISIL - pois treinará e armará 5 mil oposicionistas "moderados" para que retornem à Síria. Os EUA compreendem perfeitamente bem que o objetivo desses "moderados" (como se seus patrocinadores sauditas) será derrubar Assad - não combater o ISIL (com os quais os "moderados" sírios já estão entendidos e coordenados em campo e já têm um pacto de não agressão).

O exército sírio tem 130 mil soldados, mais 100 mil auxiliares. Não é que as brigadas sauditas sírias - até aqui sem registro de sucesso em campo - possam derrubar o presidente Assad, mas deixará a política dos EUA ainda mais incoerente e a Síria ainda mais ensanguentada.

Se há dois protagonistas na Síria - o Exército Árabe Sírio e o ISIL - então os EUA não têm escolha: é seu dever preferir Assad. Mas os EUA não podem fazer tal coisa, sem ofender a Arábia Saudita. Então os EUA entram nessa guerra com um braço amarrado às costas (pelos próprios árabes do Golfo, 'aliados' dos EUA).

No quintal sírio tão estrategicamente importante para o ISIL, os EUA não têm parceiro visível e direto - de fato, como comentou Ryan Crocker, ex-embaixador dos EUA no Iraque e na Síria: "Temos de fazer todo o possível para descobrir quem é a oposição [síria] não-ISIL. Francamente, não temos nenhuma pista" - mas só podem trabalhar com Assad de modo indireto e que possa ser completamente negado (o que os EUA já estão fazendo).

Mas os EUA não podem, de fato, acalentar qualquer esperança de derrotar o ISIL nas atuais circunstâncias - e com os 'aliados' no Golfo (e muitos think-tanks também 'aliados') fazendo de tudo para turvar as águas e meter dentro da Síria o próprio exército de 'moderados' treinados pelos sauditas, para enfraquecer Assad; enquanto isso, Kerry vai "desconflitando" a coisa com o presidente da Síria.

Ataques aéreos dos EUA vistos como antissunitas, não como anti-ISIL

Mesmo no Iraque, as limitações da coalizão anti-ISIL já se vão tornando mais visíveis. Ataques aéreos ali serão vistos, não como ataques contra o ISIL mas como ataques contra as próprias comunidades sunitas nas quais o ISIL fundiu-se e nas quais mergulhou. (O governo iraquiano já teve de suspender ataques aéreos, pela mesma razão.)

Os xiitas iraquianos defenderão seus territórios com o  máximo vigor, mas podem bem decidir não entrar no Vale do Eufrates, que tem longa história como coração do território de sunitas militantes. Bagdá não quererá converter a guerra em total conflito sectário, e a guerrilha Peshmerga não terá nem desejo nem meios para fazer mais do que proteger as próprias comunidades. Em resumo, o ISIL pode vir a descobrir que, na verdade, não há desejo regional algum de reparar a fratura do Iraque; que a região só deseja, mesmo, que a fratura seja contida e não aumente.

ISIL NÃO AMEAÇA OS EUA

Tudo isso considerado, o Estado Islâmico é algum tipo de ameaça? Vale a pena recordar que, diferente da al-Qaeda, o objetivo primário do ISIL não é tanto provocar os EUA para uma super-reação, até a implosão (como Bin Laden acreditava que a guerra no Afeganistão tivesse feito à União Soviética).

ISIL não é, obviamente, indiferente aos EUA, mas o seu foco principal é implantar o Principado de Deus na Terra e instituir a Lei de Deus. Não surpreende que vários funcionários do governo dos EUA digam que o ISIL não ameaça, atualmente, a pátria norte-americana.

Ao ISIL o que interessa é ganhar território por meios militares, firmar e dar segurança às suas fronteiras, eliminar a idolatria e a heresia e implantar fisicamente, no mundo real, um Califato. 

"Um respeito decente às opiniões da humanidade"

"Um respeito decente às opiniões da humanidade"

26.10.2014
 
Se o Parlamento britânico tivesse aprovado resolução a favor de ocupação israelense na Cisjordânia, a reação da imprensa israelense teria sido a seguinte: "Em atmosfera de grande entusiasmo, o Parlamento britânico aprovou por imensa maioria (274 votos a favor, meros 12 contra) uma moção pró-Israel... Mais da metade dos assentos estavam ocupados, quórum maior que o usual. Os inimigos de Israel esconderam-se e não se atreveram a votar contra."
*
18/10/2014, Uri Avnery, Gush Shalom [Bloco da Paz], Israel
http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1413545746 
Infelizmente, o Parlamento britânico aprovou essa semana uma resolução pró-palestinos, e a reação da imprensa israelense foi quase unanimemente a seguinte:

"Metade da sala estava vazia (...) não se viam sinais de entusiasmo (...) exercício burocrático sem sentido (...) Apenas 274 membros votaram a favor da resolução, que não é obrigatória (...) Muitos membros nem se deram o trabalho de comparecer (...)".

Mesmo assim, a imprensa de Israel noticiou longamente os procedimentos e os jornais publicaram vários artigos sobre o assunto. Verdadeira orgia de notícias, sobre ato desprezível, negligenciável, sem importância, insignificante, sem consequências, trivial, mínimo.

Um dia antes, 363 judeus cidadãos israelenses pediram que o Parlamento britânico aprovasse a resolução, que conclama o governo britânico a reconhecer o Estado da Palestina. Entre os signatários da petição havia um laureado do Prêmio Nobel, vários portadores da mais alta condecoração israelense civil, dois ex-ministros do Gabinete e quatro membros o Parlamento (entre os quais eu), diplomatas e um general.

A máquina oficial de propaganda israelense não entrou em ação. Sabendo que a resolução seria aprovada, tentaram esvaziar e encobrir o evento o mais possível. Ninguém conseguiu falar com o embaixador de Israel em Londres.

Terá sido, mesmo, evento insignificante? Em sentido procedimental estrito, sim, foi. Em sentido mais amplo, não foi, não, de modo algum. E para a liderança israelense, foi uma, dentre várias outras más notícias.

Poucos dias antes, notícias semelhantes chegaram da Suécia. O primeiro-ministro de esquerda recém eleito anunciou que seu governo está analisando a possibilidade de, em futuro próximo, reconhecer o Estado da Palestina.

A Suécia, como a Grã-Bretanha, sempre foi considerado país "pró-Israel", que sempre votou lealmente contra quaisquer propostas de resolução "anti-Israel" aparecidas na ONU. Se essas importantes nações ocidentais estão reconsiderando as suas atitudes em relação à política de Israel... O que significa essa reconsideração?

Outro golpe inesperado veio do Sul. O ditador egípcio Muhammad Abd-al-Fatah al-Sisi, desautorizou a versão, cara à liderança israelense, de que os estados árabes "moderados" formariam como aliados de Israel contra os palestinos. Num discurso duro, al-Sisi avisou à sua recém descoberta alma-gêmea, Binyamin Netanyahu, que os estados árabes não cooperarão com Israel, enquanto não firmarmos a paz com um estado palestino.

Assim al-Sisi furou o balão recentemente inflado e posto a flutuar por Netanyahu - que os estados árabes pró-EUA, como Egito, Arábia Saudita, Jordânia, os Emirados, Kuwait e Qatar, se declarariam abertos aliados de Israel.

Na América do Sul, a opinião pública já mudou de campo e é hoje marcadamente contra Israel. O reconhecimento da Palestina está ganhando campo também em círculos oficiais. Até nos EUA, o apoio incondicional ao governo de Israel parece ir-se tornando cada vez menos unânime.

Que diabos está acontecendo?

O que está acontecendo é mudança profunda, como talvez uma deriva tectônica, na atitude pública em relação a Israel.

Já há anos, Israel aparece na mídia mundial, principalmente, como o país que ocupa terras palestinas. Fotos jornalísticas de israelenses quase sempre mostram soldados pesadamente armados e blindados, sempre em confronto com palestinos que protestam e, não raro, crianças. Poucas dessas fotos têm efeito dramático imediato, mas o efeito cumulativo, incremental, não deve ser subestimado.

Um serviço diplomático verdadeiramente ativo já teria alertado seu governo há muito tempo. Mas o serviço diplomático de Israel está terrivelmente desmoralizado. Chefiado por Avigdor Lieberman, leão-de-chácara peso pesado, brutamontes tido por semifascista por muitos de seus colegas pelo mundo, todo o corpo diplomático israelense está aterrorizado. E preferem manter-se calados.

Esse processo alcançou um ponto máximo com a recente guerra de Israel contra Gaza. Não foi basicamente diferente das duas guerras de Gaza que a precederam nem faz muito tempo, mas por alguma razão teve impacto muito mais forte.

Durante um mês e meio, dia após dia, as pessoas em todo o mundo foram bombardeadas com imagem de cadáveres, seres humanos, mortos, feridos, crianças dilaceradas, mães desesperadas, prédios de apartamentos destruídos, hospitais e escolas destruídos, massas de refugiados sem-teto. Graças à Cúpula de Ferro [Iron Dome], não se viram prédios israelenses destruídos, nem qualquer civil israelense morto.

Qualquer pessoa comum decente, seja em Estocolmo ou Seattle ou Cingapura, não pode ser exposta a sequência continuada daquelas imagens horríveis sem ser afetada - primeiro inconscientemente, depois conscientemente. A imagem do "israelense" vai mudando na mente, lenta, quase imperceptivelmente. O bravo pioneiro que enfrenta os selvagens que o cercam vai mudando, até mostrar um feio animal que aterroriza população indefesa.

Por que os israelenses não se dão conta disso? Porque Nós Estamos Sempre Certos.

Já se disse: o principal perigo da propaganda, de qualquer propaganda, é que a primeira vítima é o próprio propagandista. A propaganda convence o propagandista, muito mais que seu público-alvo. Se você torce um fato e o repete cem vezes, você se condena a acreditar na sua própria invenção.

Considerem a ideia de que nós seríamos obrigados a bombardear instalações da ONU na Faixa de Gaza, 'porque' o Hamás as utilizaria para lançar foguetes contra nossas cidades e vilas. Jardins de infância, escolas, hospitais e mesquitas foram atacados por artilharia, aviões, drones e barcos de guerra de Israel. 99% dos israelenses acreditam que foi necessário. E ficaram muito chocados quando o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que visitou Gaza essa semana, declarou que todos esses ataques sempre foram totalmente inadmissíveis.

Será que o Secretário-geral não foi informado de que o exército de Israel é o Exército Mais Moral do Mundo?!

Outra ideia é a de que aqueles prédios seriam usados pelo Hamás para esconder armas. Alguém, com a minha idade,[1] nos recordou essa semana, pelo Haaretz, que os israelenses fizemos exatamente o mesmo, em nossa luta contra o governo britânico na Palestina e atacantes árabes: nossas armas eram escondidas em jardins de infância, escolas, hospitais e sinagogas. Em alguns desses pontos há placas, hoje, como orgulhosos memoriais, para que ninguém esqueça o que fizemos.

Aos olhos dos israelenses médios, a matança e a vasta destruição durante a recente campanha foi completamente justificada. Ele já é quase incapaz de compreender a indignação planetária. E por falta de qualquer outro motivo, atribui tudo ao antissemitismo.

Depois de uma das guerras do Líbano (esqueci qual delas), recebi uma mensagem estranha: um general do exército me convidava para dar uma palestra para os oficiais sob comando dele, sobre o impacto da guerra na imprensa mundial. (Provavelmente, queria impressionar os comandados com sua atitude ilustrada.)

Eu disse aos oficiais que o campo de batalhas está hoje completamente mudado, que as guerras modernas são combatidas sob o fogo da imprensa mundial, que os soldados hoje têm de ser capazes de considerar essa evidência quando planejam e quando combatem. Todos ouviram respeitosamente e fizeram-me perguntas pertinentes, mas duvido que tenham realmente absorvido a lição.

Ser soldado é profissão como qualquer outra. Qualquer profissional, seja ele/ela advogado ou varredor de rua, adota um conjunto de atitudes adequadas àquela profissão.

Generais pensam com realismo: quantos soldados para tal tarefa, quantos canhões. O que é necessário para quebrar a resistência do inimigo? Como reduzir ao mínimo as nossas baixas?

Generais não pensam sobre fotos no New York Times.

Na campanha de Gaza, nem as crianças foram mortas nem as casas foram destruídas arbitrariamente: tudo teve uma razão militar. É preciso matar pessoas, para reduzir o perigo de morte a que nossos soldados estão expostos. (Melhor cem palestinos mortos, que um soldado israelense.) As pessoas têm de viver aterrorizadas, para que se voltem contra o Hamás. Bairros inteiros têm de ser destruídos para que os soldados israelenses consigam avançar e, também, para ensinar à população uma lição da qual se lembrará durante anos, o que ajudará a adiar a próxima guerra.

Tudo isso faz perfeito sentido militar para um general. Ele está lutando uma guerra, santo Deus, e não pode perder tempo com considerações não militares. Como o impacto sobre a opinião pública mundial. Seja como for, depois do Holocausto...

O que o general pensa, Israel pensa.

Israel não é uma ditadura militar. O general al-Sisi pode até ser o melhor amigo de Netanyahu, mas Netanyahu não é general. Israel gosta de fazer negócios, principalmente negócios com armas, com militares ditadores em todo o mundo, mas em Israel, propriamente dita, até os militares obedecem ao governo civil eleito.

Sim, mas...

Mas o Estado de Israel nasceu de uma guerra duríssima, o resultado da qual absolutamente não era garantido naquele momento. O exército era então, e é até hoje, o centro da vida nacional de Israel. Pode-se dizer que o exército é o único elemento realmente unificador na sociedade israelense. É onde homens e mulheres, asquenazes e orientais, religiosos e seculares (exceto os ortodoxos), ricos e pobres, tradicionais e imigrantes recém-chegados reúnem-se e são doutrinados pelo mesmo espírito.

A maioria dos judeus israelenses são ex-soldados. A maioria dos oficiais, que deixam o exército com pouco mais de 40 anos, espalham-se pela elite administrativa, econômica, política e acadêmica do país. Resultado disso, a mentalidade militar é dominante em Israel.

Assim sendo, os israelenses são quase incapazes de compreender a função que tem a opinião pública mundial. O que querem de nós aqueles suecos, britânicos e japoneses? Será que pensam que gostamos de matar crianças, destruir lares? (Como disse Golda Meir: "Podemos perdoar os árabes por matar nossas crianças, mas nunca os perdoaremos por nos obrigar a matar as crianças deles".)

Os fundadores de Israel eram muito conscientes da opinião pública mundial. É verdade que David Ben-Gurion declarou certa vez que "pouco importa o que os goyimdizem, o que importa é o que os judeus fazem", mas na vida real Ben-Gurion era muito consciente da necessidade de convencer a opinião pública mundial. Assim também o seu adversário, o líder dos sionistas de direita Vladimir Jabotinsky, que disse uma vez a Menachem Begin que, se fosse dar atenção à consciência do mundo, acabaria "pulando no [rio] Vistula".

A opinião pública mundial é importante. Mais que isso, é vital. A resolução que o Parlamento britânico aprovou pode não ser obrigatória, mas manifesta a opinião pública, a qual, mais cedo ou mais tarde, decidirá sobre a ação de seus governos na compra de armas, nas resoluções do Conselho de Segurança, nas decisões da União Europeia, numa direção ou em outra. Como disse Thomas Jefferson, "Se o povo decide e lidera, mais cedo ou mais tarde os líderes seguirão o povo." O mesmo Jefferson também recomendou "um respeito decente às opiniões da humanidade." *****


* Expressão que aparece no 1º parágrafo da "Declaração de Independência dos 13 estados unidos da América", lida ante o Congresso, no dia 4/7/1776 [aqui traduzido]: "Quando, no curso de eventos humanos, torna-se necessário para um povo dissolver os laços políticos que o tenham ligado a outro povo, e assumir, dentre as potências da Terra, o status separado e igual ao qual o capacitam as Leis da Natureza e o Deus da Natureza, um respeito decente às opiniões da humanidade exige que declarem as causas que levam aquele povo à separação" (http://goo.gl/TB1n) [NTs].
[1] Avnery completou 91 anos em setembro (http://pt.wikipedia.org/wiki/Uri_Avnery) [NTs] .

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Um califa numa selva de espelhos


Um califa numa selva de espelhos

16.10.2014
 
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Ele é invencível. Ele degola. Ele contrabandeia. Ele conquista. Ele é totalmente o bamba dos bambas. Nem Tomahawk nem Hellfire conseguem tocá-lo. Ele sempre obtém o que quer, em Kobani; na província Anbar; com a Casa de Saud (que ele quer substituir), para ver se faz Putin (que ele quer degolar)sofrer por causa dos preços baixos.

I'm aiming at you, lover / Estou mirando você, amor,
Cause killing you is killing myself
/ Porque matar você é matar-me eu mesmo 
Orson Welles (dir.), The Lady from Shanghai,1947

Ele é invencível. Ele degola. Ele contrabandeia. Ele conquista. Ele é totalmente o bamba dos bambas. Nem Tomahawk nem Hellfire conseguem tocá-lo. Ele sempre obtém o que quer, em Kobani; na província Anbar; com a Casa de Saud (que ele quer substituir), para ver se faz Putin (que ele quer degolar) sofrer por causa dos preços baixos.
15/10/2014, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MID-01-151014.html
Se fosse versão remake do clássico noir de Orson Welles, A Dama de Xangai na sequência do espelho, o advogado (norte-americano?) e a femme fatale(xiita?) também acabariam mortos; mas O Califa do Estado Islâmico sobreviveria como um Welles maior que a vida, livre para vagar ao léu, saquear e "oferecer meu amor ao nascer do dia" - como num Bravo Mundo Califado fulgurante no "Siriaque" sobre as cinzas do Acordo Sykes-Picot. 

Ele está ganhando todas na província de Anbar, no Iraque. Os bandidos d'O Califa estão agora já próximos de - e logo que lugar! - Abu Ghraib; ex-Central de Tortura de Dábliu, Dick e Rummy. Estão a meros 12 km do aeroporto internacional de Bagdá. Podem derrubar um jato de passageiros com um míssil terra-ar disparado do ombro (ou MANPAD). Com certeza, não algum voo da Emirates - afinal, são importantes patrocinadores. 

Hit, na província de Anbar, é agora território d'O Califa. As forças policiais e o comando operacional da província já perderam quase completamente o controle sobre Ramadi. O Califa controla agora o eixo crucial formado por Hit, Ramadi, Fallujah; a Autoestrada 1 [Highway 1] entre Bagdá e a fronteira da Jordânia; e a Autoestrada 2, entre Bagdá e a fronteira síria. 

Os bandidos d'O Califa já estão tomando nada menos que todo o famoso cinturão de Bagdá, antigamente chamado "triângulo da morte" naqueles dias linha-dura da ocupação pelos norte-americanos, nos idos de 2004. Mensagem para Donald Rumsfeld: lembra-se dos seus "remanescentes"? Voltaram. E estão no comando. 

As duas cidades, Ramadi e Fallujah, foram reduzidas a um acúmulo de escolas, hospitais, mesquitas e pontes bombardeadas. As ruas residenciais estão já virtualmente abandonadas. Segundo a ONU, já há pelo menos 360.803 desalojados internos na província de Anbar, além de 115 mil outros em áreas sob o controle d'O Califa. Pelo menos 63% das 1,6 milhão de pessoas que vivem na província estão classificadas como "carentes" - acesso apavorantemente mínimo à água, comida e cuidados de saúde, e recebendo de pouca a absolutamente zero ajuda humanitária daquela ficção, a "comunidade internacional". A embaixadora dos EUA à ONU Samantha Power não está pondo os bofes pela boca de tanto gritar a favor da "responsabilidade de proteger" (R2P). 

Como seria possível que a espetacular Dominação de Pleno Espectro do Pentágono não veja acontecer nada disso? É claro que veem. Mas não dão a mínima. O Pentágono vez ou outra usa helicópteros Apache AH-64 para atacar alguns dos bandidos d'O Califa em Ramadi e Hit. Mas Apaches podem ser facilmente atingidos com MANPADS. Estão estacionados no Internacional de Bagdá e sua única missão é proteger o aeroporto. Quem liga para "dano colateral" local e civil? 

De caso com a Máfia
Em Kobani, antes a terceira maior cidade no Curdistão Sírio, no extremo nordeste, O Califa também matou a pau. Outro êxodo de proporções bíblicas já chega a 300 mil refugiados - e continua a aumentar, com mais de 180 mil deles a caminho da Turquia. 

O Califa conta com ajuda indireta de O Sultão (ou Califa alternativo), também conhecido como presidente Tayyip Erdogan da Turquia. Teerã está - com toda a razão - furiosíssima, ao ver o "ocidente" - e a Turquia - traindo os curdos outra vez. Não é segredo que O Sultão Erdogan nada está fazendo, porque quer ferrar os guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e o Partido da União Democrática Sírio-Curdo (PYD); eles que morram, em vez de repelir a dominação turca sobre aquelas áreas imensas, essencialmente curdas, da Anatolia. Assim, a única coisa que O Sultão Erdogan faz é apoiar o bombardeio sem alvo pelo Pentágono cum a tal coalizão dos covardes-sem-noção. 

Qualquer um que acredite no que o Comando Central anda espalhando, que os jatos da Casa de Saud e dos Emirados Árabes Unidos conduzem "ataques com bombardeio" nos arredores de Kobani ganha passagem só de ida para Oz. Imaginem se aqueles palhaços seriam capazes de usar bombas guiadas de precisão ou detectores a laser treinados. Para começar, o Pentágono tem inteligência-zero, do local - porque há zero operadores capazes de apontar os alvos, com laser. Assim sendo, a "coalizão" mal e porcamente consegue acertar o tanque velho (dos 25 em torno de Kobani) ou o Humvee, dos 2.000 que enchem um vale já agora por duas semanas. 

Mas a "coalizão" com certeza consegue - miraculosamente! - acertar a infraestrutura síria, como instalações de energia. Em junho, a desculpa oficial do Pentágono era "Não temos drones no Iraque". Agora já não há desculpas para os drones capazes de ler que "Esse produto é prejudicial à saúde" num maço de Marlboro não acertarem os homens d'O Califa em Kobani - ou na província de Anbar, se for o caso. Portanto, a coisa resume-se a uma mistura de incompetência e negligência. Muito mais fácil foi atingir festas de casamento de pashtuns nos Waziristões. Sobretudo porque, então, ninguém estava prestando atenção. 

Os bandidos do próprio Erdogan, entrementes, instituíram um toque de recolher em todas as principais cidades e vilas no sudeste, na Anatolia, e já estão fuzilando até manifestantes curdos pacíficos. 15 milhões de curdos na Anatolia não podem estar errados: Erdogan quer que Kobani caia. Ankara permanece, para todas as finalidades práticas, principal eixo logístico para os bandidos d'O Califa. O Sultão está usando O Califa como exército 'por procuração' para esmagar os curdos. 

Evidência definitiva foi dada pelo líder do PYD curdo, Salih Muslim, que se encontrou com militares da inteligência turca e pediu ajuda. Condições: desistir que qualquer esperança de autodeterminação para os curdos sírios; entregar todas as cidades e regiões autogovernadas por vocês; e assistam aí enquanto nós instalamos uma "zona tampão"/zona aérea de exclusão turca, dentro de território sírio. 

Que ninguém espere que o governo "Não façam merda estúpida"/"Não temos estratégia alguma" de Obama sentencie que "Erdogan tem de sair". Além do mais, o patético clube da Conselheira de Segurança Nacional Susan Rice e seu vice, Ben Rhodes, não têm nem ideia do que se passa. 

Para a Zona Verde!

Teerã, por sua vez, identificou claramente o jogo imundo de Erdogan. O Sultão sabe que bombardeiros-monstro B1-B sobrevoando Kobani são absolutamente inúteis - enquanto os bandidos d'O Califa usam explosões massivas de carros-bomba e continuam a avançar. Serão necessários "coturnos em solo". Entra a Turquia, agente da OTAN. Mas com uma condição: mudança de regime em Damasco, ou, pelo menos, prelúdio disso, com a tal zona "tampão"/zona aérea de exclusão sobre a Síria. 

O Grande Quadro permanece o mesmo. O Sultão Erdogan e a Casa de Saud querem mudança de regime em Damasco (Erdogan sonham com um fantoche sunita como vassalo de Ankara; os sauditas querem seu próprio agente wahhabista). Israel concorda esfuziante. E se a coisa vier com brinde - atacar o novo governo do Iraque, ainda apoiado pelo Irã, na Zona Verde fabricada pelos EUA -, melhor ainda. Resumo de tudo isso: "Não faça merda estúpida" traduz-se como: Conselho de Cooperação do Golfo, Turquia e Israel estão usando Washington para fazer avançar sua agenda bastante explícita. 

O Sultão Erdogan, como capo mafioso, parece ter assimilado uma coisinhas do filmeOs bons companheiros, de Martin Scorsese. Está extraindo o maior naco de carne possível da completamente desentendida equipe do "Não façam merda estúpida". O Sultão tem em vista pôr coturnos turcos em solo para gloriosamente invadirem a Síria em modo "intervenção humanitária" padrão OTAN. E tudo isso vendido como se a OTAN estivesse oferecendo "proteção" a estado-membro. O novo secretário da OTAN, ex-primeiro ministro da Noruega Jens Stoltenberg, acaba de visitar Ankara. A Arábia Saudita já "votou" a favor da zona "tampão"/aérea de exclusão. O mesmo vale para o general François Hollande, aquele lamentável arremedo de presidente da França. 

Mais uma vez, Teerã aparece para o resgate. O ministro de Relações Exterioresanunciou devidamente que o Irã está pronto para libertar Kobani do jugo dos bandidos d'O Califa (e pode fazê-lo), se o presidente Bashar Al-Assad solicitar. Agora, o tabuleiro de xadrez é assim: a OTAN ficou sem qualquer pretexto para montar uma invasão à Síria, com ou sem participação de Erdogan, capo mafioso. 

Operação "Tire as Mãos do meu Toyota"

O Califa também ganha muito no departamento "faça-sangrar o Pentágono". Um único "ataque" contra os bandidos d'O Califa - envolvendo F-15s, F-16s ou F-22s - custa até US$500 mil. O Pentágono acaba de informar que já gastou nada menos que $1,1 bilhão contra O Califa desde junho. 

E para quê? Virtualmente todos os bens que estão sendo destruídos pelas bombas norte-americanas são fabricados nos EUA, entregues ao exército do Iraque e depois capturados na ofensiva de O Califa. Eis aí pois o Império do Caos gastando uma fortuna do Tesouro dos EUA para detonar tanques, Humvees e outros itens pelos quais os contribuintes norte-americanos pagaram. Não surpreende que os mesmos contribuintes estejam furiosos. Eis a Operação Tire as Mãos do meu Toyota. 

Além do mais, o Pentágono não tem nem ideia de como construir sua força "rebelde" por procuração, como Obama mandou, para combater contra O Califa (sem soldados ou marines norte-americanos, só fanáticos wahhabistas e sortimento variado de mercenários). 

Para começar, não têm nem ideia de o que, diabos, seria um "rebelde moderado". A malta deve ser "avaliada" - e, se aprovada, deve então ser mandada para a Arábia Saudita (mas... para a Arábia Saudita?!) para ser treinada. Lá, o sujeito encarregado será - e o que mais poderia ser - um honcho das Operações Especiais, major-general Michael Nagata. Mesmo sob o mais otimista dos cenários, o Pentágono não conseguirá pôr esse seu exército de "rebeldes moderados" no solo, na Síria, antes do verão de 2015. 

Podem-se apostar caixas e caixas de Chateau Margaux, que esse primor de armamento acabará capturado pelos bandidos d'O Califa. Aplica-se também aos "rebeldes" confiáveis em solo. 

Mas a obra-prima de dadaísmo real é que, primeiro, esses rebeldes serão polidamente solicitados pelo Pentágono a esquecer qualquer plano de livrar-se de Assad, para lutar contra O Califa. Pelo menos por enquanto. Re-entra em cena Stoltenberg, novo comandante da OTAN: "Ano que vem, na reunião ministerial, tomaremos decisões sobre a chamada frente de ataque, mas, mesmo antes de estar estabelecida, a OTAN, afinal, tem um exército forte. Podemos deslocá-lo para onde quisermos." Oh, grande homem! Por que não para o "Siriaque"? 

Se tudo isso parece roteiro da série de sucesso Blacklist, é porque é. Por que não escalar Red (James Spader) para lugar contra O Califa? E depois, quem sabe... e se Red é O Califa? Finge que se persegue, ele contra ele mesmo - e sempre ganha, maior elegância. De volta à Dama de Xangai, de Welles: "Matar você é matar-me eu mesmo". O caso é que ninguém quereria ver morto O Califa, quando é tal, tamanho, imenso, indiscutível sucesso de bilheteria. *****