sábado, 1 de agosto de 2015

O exemplo arrasta

O exemplo arrasta


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Paulo Ricardo da Rocha Paiva

No  Jornal " O SUL",  de Porto Alegre/ RS, em sua edição de 4 de outubro de 2008, a matéria de autoria de Emerson Rogério de Oliveira deixava registrado o seguinte (transcrição): -" Relembro um fato inédito que chamou a atenção dos presentes `a cerimônia de entrega de medalhas no dia 25 de agosto de 2005, por ocasião das comemorações do DIA DO SOLDADO,  em Brasília.

Com a presença de Ministros de Estado, Comandantes das Forças Armadas, convidados e familiares, foi entregue a Medalha do Pacificador. Depois do dispositivo pronto, um senhor idoso, apoiado em uma bengala, vestindo roupas escuras e uma gravata preta, portando em seu peito a  Medalha do  Pacificador atravessou toda a frente do dispositivo até o local onde estava a autêntica espada do  Duque de Caxias.

Com lágrimas nos olhos, retirou a medalha do peito, elevou-a ao alto, à  esquerda e à direita Depois de beijá-la, colocou-a no seu antigo estojo e a depositou aos pés da coluna onde estava a espada do Duque de Caxias. Voltou, passou silenciosamente pela frente do dispositivo, indo sentar-se na arquibancada de cimento, diante do palanque.

Perguntado por que devolveu a medalha, respondeu que ela havia sido desonrada e desprezada, em flagrante desrespeito à figura do insigne Patrono do Exército, o Duque de Caxias, por já ter sido distribuída a pessoas que não mereciam tal honra.Disse mais, que, se a recebeu num ato solene, seria justo devolvê-la também num ato solene" 
 (fim da transcrição).

O oficial protagonista deste desagravo conheci como cadete. Era capitão, comandava uma companhia do 2º Ano/AMAN. Nunca  tive o privilégio de servir sob o comando do, hoje, Coronel de Infantaria REF Cícero Novo Fornari, mas isto nunca impediu que eu apreciasse, mesmo que à distância, o estilo inconfundível do soldado de escol, que nunca perdeu e mantém acendrado até os dias de hoje.

Fico a imaginar a tristeza do SENHOR CORONEL Fornari naquele momento solene. Todavia, parece que estou vendo o "velho soldado" orgulhoso de vive-lo cheio da honra e do brio que caracterizam os verdadeiros profissionais das armas. Naquele instante falava mais alto o seu coração, magistralmente conduzido pela lucidez de uma cabeça pensante, imperiosamente resultante de quase quarenta anos de serviços prestados ao nosso Exército, arrasadoramente indiferente à galera de críticos que confundem a indignação de quem se dá ao respeito com a vontade de aparecer!

As palavras podem até convencer, mas só o exemplo arrasta! Fique certo, Coronel Fornari, aquele mesmo cadete de "18" anos, hoje com mais "50", não esqueceu da sua imagem marcial respeitada e admirada por tantos quantos tiveram o privilégio de cruzar com o senhor durante o decorrer da carreira.

No próximo dia "25 DE AGOSTO" (ou na data da formatura alusiva), caso nossa comenda ainda esteja de posse de notórios gatunos "mensaleiros", que não fizeram nada, absolutamente nada em termos de "assinalados serviços prestados ao Exército Brasileiro", para merecê-la, deverei, sem fugir um milímetro do seu ritual solene, fazer a minha devolução. Que não se duvide, com ou sem formatura, vou faze-lo junto ao comando da guarnição de Santa Maria/RS.

PS - O assunto em questão poderia ser tratado apenas entre militares, entretanto, de tão chamativo e gritante, vexaminoso até, na medida em que está sendo comentado à larga pela mídia, devo repassá-lo sem constrangimento de forma a que não fique a ideia que todos os militares estão concordes com a forma, no mínimo dúbia, com que vem sendo tratado o humilhante imbróglio.


Paulo Ricardo da Rocha Paiva é Coronel de Infantaria e Estado-Maior, na reserva.

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