sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Carta de fé e de confiança

Carta de fé e de confiança


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Sérgio Pedro Bambini

Há algum tempo, no limiar de completar 47 anos de serviço, deixei a Força Aérea Brasileira.

Em minha mensagem de despedida, enfatizei dois fatos, para mim, relevantes. Eu era o último Oficial-Aviador cuja formação dera-se, totalmente, no lendário Campo dos Afonsos. Também, e mais importante, eu era o último Oficial, que já fazia parte do Corpo de Oficiais da Aeronáutica no dia 31 de março de 1964.

Em minha formação de Oficial, durante os anos de Escola Preparatória e de Escola de Aeronáutica, em nossas aulas, pouco aprendemos e debatemos sobre diversos aspectos de nossa história, então, recente. Fatos relevantes, como a Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932, a implantação do Estado-Novo e a destituição de Getúlio Vargas eram, apenas, comentados ligeiramente. Esses fatos, ocorridos há menos de 35 anos da época em que vivíamos eram parte do passado e ponto. Fatos atuais como as revoltas de Jacareacanga e Aragarças, assim como a renúncia de Jânio Quadros, também, não eram fruto de estudos aprofundados.

Minha geração atual, composta de militares inativos deseja, com ardor insistente, que os militares da ativa sejam especialistas, solidários e responsáveis pelos valores do movimento revolucionário de 1964. Muito justo. No entanto, há que se considerar e ter presente que toda a geração de militares, hoje na ativa, das três Forças, é formada a partir do final dos anos setenta e depois.

A formação destes militares seguiu outros parâmetros, que, por sua vez, têm evoluído considerável e constantemente.

E isto é um fato!

Os valores, porém, dos militares de hoje são os mesmos dos militares de ontem. Eles são capazes, sim, de fazer, no presente, o que nós e aqueles que nos antecederam, fizemos no passado. Basta a Pátria necessitar e eles não lhe faltarão.

Os militares de hoje estão presentes e disponíveis. Procuram inteirar-se dos problemas e estudam suas soluções. Mantém a mentalidade operacional, com plena consciência que sua destinação é a guerra e o seu preparo a melhor dissuasão. Eles são exemplo e, por isso, plenamente aceitos pela sociedade brasileira, que neles deposita total confiança.

Tenhamos confiança e sejamos crentes.

Nossos militares trabalham além da simples obrigação formal. Eles vibram com a profissão que livremente escolheram. Vislumbremos que, para o cumprimento da missão a eles confiada, são igualmente importantes aqueles encarregados da atividade-fim e aqueles encarregados da atividade-meio, independentemente de postos ou graduações. Na Força Aérea, os que voam, os que fazem voar e os que apoiam o voo.

Eles sabem. São militares por opção própria e estão cientes que fortalecer a cadeia de comando é o caminho correto de aprimorar a mútua confiança entre superiores e subordinados, chave para o enfrentamento vitorioso de conflitos.

Eles vivem em constante aprimoramento da disciplina, pois  não a exercendo, ou não a exigindo, estarão corroendo um dos pilares básicos da Instituição Militar e  preservar esse baluarte é dever de cada um. Assim, estão conscientes, não podem ser tolerantes com pequenas faltas, que solapam a disciplina e tornam-se precursoras de grandes transgressões.

Eles exercitam e fortalecem, constantemente, as qualidades que são desejáveis no cidadão e requisitos de vida para o militar – patriotismo, civismo, honestidade, lealdade, coerência, dignidade, humildade, eficiência, ética,  confiança – lembrando que tais qualidades não são fracionáveis e definem o perfil do indivíduo.

Eles primam pela segurança no trabalho – qualquer trabalho – fazendo, cada um, sua parte para o bom andamento do serviço.

Não, meus caros companheiros de inatividade, os militares da ativa não são diferentes do que fomos.

Eles saberão honrar seu juramento e saberão agir se e quando necessário.

Confiemos e peçamos ao bom Pai que os abençoe, os ilumine e lhes dê a força necessária para cumprir sua missão.


Sergio Pedro Bambini é Tenente Brigadeiro tendo sido declarado Aspirante a Oficial Aviador em 1963 e foi Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.

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