A fuga dos estrangeiros
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Henrique Abrão
O mercado de capitais no Brasil vive um momento decisivo entre agonia e angústia diante da forte recessão, dos erros pretéritos e notadamente a falta de fiscalização. Fizeram o que quiseram as empresas estatais e isso gerou um total descrédito.
A maioria dos investidores pessoa natural sempre depositava suas esperanças em papéis que lhe dessem segurança, tranquilidade e algo mais quando da aposentadoria. Entretanto, o golpe foi trágico e o mico está nas mãos.
Rolam dezenas de ações nos EUA. No Brasil ficamos perplexos. Mas o pior é que não agimos de modo a erradicar do mercado os responsáveis. Não se trata de prestigiar a famigerada arbitragem de interesse individual e flagrantemente a reescrita do artigo 136 A da lei de sociedades anônimas, na medida em que não poderia jamais ter efeito retroativo e livre da anuência do investidor.
Essa circunstância anômala fez com que os investidores estrangeiros batessem em retirada e de forma justificada. Não se trata de fugir pura e simplesmente e acionar um botão para que bilhões dos fundos se mudem de continente. Mas defronte um cenário de falta de racionalidade, mudança e sem pagamento justo de juros sobre o capital e dividendos não há nada mais desconcertante do que assistimos no momento.
E as autoridades do mercado ficam impassíveis, já que não se fala mais de abertura de capital. Ao contrario, boa parte pensa em fechamento mesmo. Excepcionalmente a BR Distribuidora começa a ventilar a hipótese de abertura, mas nada que possa empolgar.
No passado foi uma empresa aberta e ficou fechada por longos anos. Daí porque devemos olhar com atenção essa nova configuração que pretendem fazer, já que o investidor poderá experimentar mais prejuízos aos seus investimentos.
Tempos antes se falava em lucro. Isto mudou de forma drástica na atualidade, já que a moda é tentar perder menos. Eis que todos os negócios se apresentam com desalento e desestimulo.
As industrias parando e demitindo, o comércio em passo de cágado, os serviços sem ajustes, o agronegócio conseguindo reduzir o prejuízo, a falta de água no campo, o alto custo da energia e do repasse de recursos do governo federal.
A saída dos estrangeiros é um perigo inaceitável. Com isso a moeda norte americana dispara e o risco da perda do grau de investimento, a cada dia, se torna mais palatável. Quaisquer caminhos que adotarmos não podemos aplaudir a destruição do mercado de capitais, que na realidade atual beira os 49 mil pontos, no inicio do ano bateu forte nos 70 mil pontos com expectativa de chegar aos 80 mil.
Tudo se radiografou de modo prematuro e sem base de analise alguma. O ideário de se constituir um mercado maior, mais amplo, com aproximação da China, e dos países latino americanos, por enquanto, perde sua razão de ser, haja vista que não garimpamos bons negócios, os papeis começam a perder substancial valor e as commodities também galopam perdendo fôlego.
Em tudo e por tudo o que analisamos evidencia que os estrangeiros não perderão tempo e muito menos dinheiro. Somente com uma transformação de agentes, expondo confiança e credibilidade, é que retornarão ao Brasil. Retomamos nosso terrível voo de galinha, e nesse ano de 2015, será esquecido definitivamente.
Não andamos e recuamos em todos os sentidos, perigosamente em detrimento do equilíbrio das contas, da inflação, e do cambio. Ninguém mais duvida que um plano real 2 seria imprescindível face à conjuntura que atravessamos. Mas antes de qualquer remédio amargo, torna-se essencial e primordial alinharmos nossos governantes à plataforma de governabilidade, responsabilidade e, mais do que isso, de ética no poder, moral na administração e decência na representatividade.
Carlos Henrique Abrão, Doutor em Direito pela USP com Especialização em Paris, é Desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo.
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