Ponte Milagrosa
Por Paulo Roberto Gotaç
Basta às vezes um segundo para que a confiança seja perdida.
No entanto, sua volta ao nível anterior, por maiores que sejam os esforços, leva um tempo infinito.
O nosso país vive hoje em meio a uma crise de confiança que se manifesta praticamente em todos os setores da vida nacional.
Seus principais sintomas, entre muitos outros, são:
governo central perdido, reeleito graças a um campanha selvagem, recheada de mentiras, onde se "fez o diabo", cujas trágicas consequências estão agora aflorando;
legislativo, com mais de 40% de seus componentes envolvidos em algum processo judicial, verdadeiro cupinzeiro pragmático e balcão de negócios que passam ao largo do interesse público;
partidos políticos, numerosos e disformes, meras siglas;
justiça, lenta e, por isso, injusta, com sua Corte máxima aparelhada para apoiar estratégias de poder de quem nomeia;
inchaço administrativo, arrastando incríveis 39 ministérios e milhares de comissionados;
políticos dos três níveis, individualistas e desinteressados em qualquer tipo de reforma eleitoral;
economia incapaz de atrair investimentos sadios, apesar dos apelos às "travessias";
líderes de papel, muitos deles nos bastidores, ex-presidentes intrusivos, que visam somente à manutenção e ampliação do seu naco de poder e notoriedade e, finalmente:
corrupção que vai desde as propinas bilionárias até o "jeitinho" do guarda de trânsito.
A volta a um nível de confiança anterior, que já foi suportável, é improvável, por depender de exemplos inexistentes na melancólica elite política, e portanto, inatingível, por maiores que sejam as piruetas e as lábias dos que permitiram que fosse atingido o presente panorama.
Vale a pena relembrar a recomendação, já gasta, de que o país deve ser passado a limpo? Não funciona mais, mesmo porque ninguém sabe exatamente o que isso significa.
Tudo indica que o precipício está próximo e que só uma ponte milagrosa que lembra, noutro contexto, a abertura do Mar Vermelho por Moisés, poderá salvar-nos.
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.
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