Se Exército intervier, será para
cumprir Constituição e manter
democracia, diz comandante
Luís Adorno
Do UOL, em São Paulo 05/07/2018 12h55
O comandante do Exército, general Villas Bôas, durante cerimônia em homenagem ao soldado Mário Kozel Filho, morto durante a ditadura militar..
Tiago Queiroz / Ag. Estado
O comandante do Exército, general Villas Bôas, durante cerimônia em homenagem ao
soldado Mário Kozel Filho, morto durante a ditadura militar
O comandante do Exército brasileiro, o general Eduardo Villas Bôas, afirmou nesta
quinta-feira (5) que não existe a possibilidade de uma intervenção militar nos
mesmos moldes do período da ditadura militar, entre 1964 e 1985. O comandante
afirmou que, se o Exército intervier, será para respeitar a Constituição e manter a
democracia.
Com relação ao movimento intervencionista, que pede a volta dos militares no
poder, Villas Bôas disse que há uma identificação na população com os valores das
Forças Armadas e uma ânsia pelo reestabelecimento da ordem.
"Eu nem vejo um caráter ideológico nisso. Mas, de qualquer forma, as Forças
Armadas, e o Exército, pelo qual eu respondo, se, eventualmente, tiverem de
intervir, será para fazer cumprir a Constituição, manter a democracia e proteger as
instituições", afirmou.
"Sempre o Exército atuará sob a determinação de um dos Poderes da República,
como aconteceu agora, por exemplo, nessa greve dos caminhoneiros",
complementou.
Villas Bôas classificou a questão como "muito simples": "Quem interpreta que o
Exército pode intervir [como na ditadura], é porque não conhece as Forças Armadas
e a determinação democrática, de espírito democrático, que reina e preside em
todos os quartéis", disse.
Ainda segundo o comandante, os brasileiros perderam a confiança uns nos outros e
estão muito carentes de disciplina social. "Isso nós podemos medir em grandes
eventos como a Copa do Mundo. Está totalmente diferente a reação da população",
Para Villas Bôas, o Brasil está na "iminência de algo muito grave acontecer, que é a
perda da nossa identidade".
"SP deve liderar arrancada", diz comandante em homenagem
a soldado morto na ditadura
O Exército brasileiro, por meio do Comando Militar do Sudeste, promoveu, na
manhã desta quinta-feira (5), uma cerimônia em homenagem a um soldado morto
por guerrilheiros em 1968, durante a ditadura militar. O evento teve Villas Bôas à
frente.
General Luiz Eduardo Ramos durante a cerimônia...
A homenagem ocorreu em memória ao
soldado Mário Kozel Filho, morto há
exatos 50 anos em um ataque da VPR
(Vanguarda Popular Revolucionária).
Os guerrilheiros aceleraram um carrobomba
com dinamites dentro de um
quartel-general de São Paulo. Pós
morte, o soldado foi promovido a
3º sargento. À época, ele tinha 18
anos. Além de Kozel Filho, outros seis
militares ficaram feridos.
Após a ação dos guerrilheiros, dez
suspeitos foram detidos. Entre eles,
Eduardo Leite, o Bacuri, morto
enquanto preso em 1970, em São
Paulo. Um outro suspeito do atentado,
o ex-sargento Onofre Pinto, foi morto em uma ação do Centro de Informações do
Exército, em Foz de Iguaçu (PR).
O comandante Villas Bôas afirmou que "São Paulo deve, novamente, liderar uma
arrancada de desenvolvimento de nosso país, a locomotiva, como fez a partir de
1932. O Brasil precisa de São Paulo, de seus valores, de seu empreendedorismo,
de sua capacidade de inovação".
Suzana Kozel recebeu homenagem ao lado do comandante do Exército,
General Villas Boas (na cadeira de rodas)..
Ainda segundo o comandante, "este
evento significa a celebração de
valores e deve motivar nosso
pensamento, nossa análise, para que
fatos como esse não venham se
repetir no futuro", complementou.
Na sequência, o comandante leu um
comunicado emitido no site do Exército
nesta quarta-feira (4). No texto,
afirmou que a morte do soldado
ocorreu em um "um período de
entusiasmos artificializados, de
intolerâncias incitadas e de paixões
extremadas que faziam os brasileiros
míopes para a realidade civilizada. Foi
um tempo que nos dividiu, que
fragmentou a sociedade e nos tornou
conflitivos."
complementou o informe lido pelo comandante.
Antes do comandante, o general Luiz Eduardo Baptista Ramos Pereira afirmou que
"não existe separação entre civis e militares. A sociedade brasileira, em um grito
unido, disse: 'não aos atos terroristas e à minoria inconformada'. Juntos, civis e
militares lutamos pelas crenças de nossa rica e próspera nação. Sempre capazes
de superar crises de todos os matizes."
"Estamos fazendo, atualmente, exatamente isso. Face a uma crise moral, na qual
valores do bem comum e de amor à pátria, vem sendo afrontada. Somos um povo
conhecido pela tolerância, pela solidariedade", complementou.
Durante a cerimônia, a irmã do soldado, Suzana Kozel, 70, foi homenageada com
um buquê de flores. Ela também deixou um ramo de flores em frente a um busto de
seu irmão. Houve tiros e pétalas de rosas jogadas de um helicóptero no momento.
A cerimônia ocorreu um dia depois à decisão da Corte Interamericana de Direitos
Humanos de condenar o Estado brasileiro pela tortura e assassinato do
jornalista Vladimir Herzog
(https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2018/07/04/corte-condena-brasil-pornao-punir-assassinato-de-herzog-pela-ditadura/),
ocorrido em outubro de 1975, por
militares.
Villas Bôas afirmou que "naquela época, a sociedade brasileira cometeu o erro de
permitir que a linha de confrontação da guerra fria dividisse a nossa sociedade, o
que acabou criando ambientes para que fatos lamentáveis, como a morte de Kozel
e Herzog, tivessem ocorrido", disse.
Estiveram presentes, também, o comandante-geral da PM paulista, Marcelo Vieira
Salles, e quatro deputados estaduais da chamada "bancada da bala".
Ao lado do comandante da PM, Villas Bôas prestou homenagens a um soldado da
corporação que também morreu durante a ditadura. "Igualmente à gloriosa Polícia
Militar de São Paulo, que perdeu o tenente Alberto Mendes Júnior, vítima também
do terrorismo", afirmou.
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