O Relatório da CIA - Como será o mundo em 2020 (II)
Por Carlos I. S. Azambuja
As contradições da Globalização
O Relatório da CIA – Como será o Mundo em 2020 fez as seguintes considerações no que se refere ao capítuloGlobalização, que define a crescente inter-relação refletida nos fluxos de informação, tecnologia, capital, bens, serviços e pessoas em todo o mundo. É uma ‘megatendência’, uma força tão poderosa que definirá todas as grandes tendências do mundo em 2020.
Nos últimos 20 anos o alcance da globalização foi ampliado de maneira significativa por conta da liberalização econômica na China e na Índia, do colapso da União Soviética e da revolução da tecnologia da informação em âmbito mundial. Nos próximos 5 anos ela sustentará o crescimento econômico mundial, aumentará o padrão de vida das pessoas e aprofundará substancialmente a interdependência global. Todavia, ao mesmo tempo, abalará profundamente o status quo em quase todos os lugares, gerando enormes convulsões econômicas, culturais e, conseqüentemente, políticas.
Determinados aspectos da globalização, como a crescente interconexão global derivada da revolução da tecnologia da informação, tendem a ser irreversíveis. A comunicação em tempo real, que tem transformado a política em quase todo o mundo, é um fenômeno que até mesmo regimes repressivos têm dificuldade de expurgar ou conter, a não ser pela força, como em Cuba, por exemplo, em que o acesso à Internet depende de uma especial concessão do Estado-Partido.
Será difícil, também, interromper o fenômeno da interdependência econômica, embora o ritmo de expansão da economia global possa refluir. A interdependência aumentou a abrangência eficiente dos negócios multinacionais, permitindo que empresas pequenas, assim como as grandes multinacionais, realizem, cada vez mais, negócios além de suas fronteiras.
Todavia, o processo de globalização, poderoso como é, poderá ser desacelerado significativamente, ou até mesmo revertido, por uma guerra (não provável) ou depressão global - como ocorreu na era da globalização do final do Século XIX e começo do Século XX -. Algumas características associadas com a globalização da década de 1990, como a liberalização econômica e política, estão sujeitas a regredir ‘aos trancos e barrancos’, e dependerão, provavelmente, do progresso de negociações multilaterais, da melhoria na governabilidade nacional e da redução de conflitos. O livre fluxo de pessoas através das fronteiras nacionais continuará a enfrentar obstáculos políticos e sociais, mesmo havendo grande necessidade de trabalhadores migrantes.
O caráter da globalização provavelmente mudará, da mesma forma que o Capitalismo mudou ao longo dos Séculos XIX e XX. Apesar de hoje os países mais avançados – especialmente os EUA – serem importantes forças impulsionadoras de capital, tecnologia e bens, a globalização deverá assumir um rosto não-ocidental durante os próximos 7 anos. Isso porque:
Nos últimos 20 anos o alcance da globalização foi ampliado de maneira significativa por conta da liberalização econômica na China e na Índia, do colapso da União Soviética e da revolução da tecnologia da informação em âmbito mundial. Nos próximos 5 anos ela sustentará o crescimento econômico mundial, aumentará o padrão de vida das pessoas e aprofundará substancialmente a interdependência global. Todavia, ao mesmo tempo, abalará profundamente o status quo em quase todos os lugares, gerando enormes convulsões econômicas, culturais e, conseqüentemente, políticas.
Determinados aspectos da globalização, como a crescente interconexão global derivada da revolução da tecnologia da informação, tendem a ser irreversíveis. A comunicação em tempo real, que tem transformado a política em quase todo o mundo, é um fenômeno que até mesmo regimes repressivos têm dificuldade de expurgar ou conter, a não ser pela força, como em Cuba, por exemplo, em que o acesso à Internet depende de uma especial concessão do Estado-Partido.
Será difícil, também, interromper o fenômeno da interdependência econômica, embora o ritmo de expansão da economia global possa refluir. A interdependência aumentou a abrangência eficiente dos negócios multinacionais, permitindo que empresas pequenas, assim como as grandes multinacionais, realizem, cada vez mais, negócios além de suas fronteiras.
Todavia, o processo de globalização, poderoso como é, poderá ser desacelerado significativamente, ou até mesmo revertido, por uma guerra (não provável) ou depressão global - como ocorreu na era da globalização do final do Século XIX e começo do Século XX -. Algumas características associadas com a globalização da década de 1990, como a liberalização econômica e política, estão sujeitas a regredir ‘aos trancos e barrancos’, e dependerão, provavelmente, do progresso de negociações multilaterais, da melhoria na governabilidade nacional e da redução de conflitos. O livre fluxo de pessoas através das fronteiras nacionais continuará a enfrentar obstáculos políticos e sociais, mesmo havendo grande necessidade de trabalhadores migrantes.
O caráter da globalização provavelmente mudará, da mesma forma que o Capitalismo mudou ao longo dos Séculos XIX e XX. Apesar de hoje os países mais avançados – especialmente os EUA – serem importantes forças impulsionadoras de capital, tecnologia e bens, a globalização deverá assumir um rosto não-ocidental durante os próximos 7 anos. Isso porque:
- grande parte do aumento da população e da demanda mundiais até 2020 ocorrerá em países hoje em desenvolvimento – em especial China, Índia e Indonésia – e as multinacionais dos países atualmente desenvolvidos adaptarão seus perfis e práticas de negócios às demandas dessas culturas;
- as corporações, capazes de difundir a tecnologia e promover o progresso nos países em desenvolvimento, já estão buscando se tornar ‘cidadãs’ ao permitir práticas não-ocidentais nos locais onde operam. As corporações parecem dispostas a tornar a globalização mais palatável para as pessoas preocupadas em preservar culturas exclusivas;
- novas corporações, oriundas de países cujo progresso foi impulsionado pela globalização, farão com que sua presença seja sentida globalmente por meio de comércio e de investimentos exteriores;
- as nações que forem beneficiadas e que conquistarem posições de destaque buscarão obter mais poder nos órgãos internacionais e maior influência para ditar ‘as regras do jogo’;
- nas pesquisas realizadas para a formulação destes cenários hipotéticos, muitos especialistas de diversos países observaram que, enquanto a opinião pública em seus países concorde com os benefícios materiais da globalização, ao mesmo tempo se opõe à perceptível ‘americanização’, que os cidadãos vêem como uma ameaça aos seus tradicionais valores culturais e religiosos. A associação da globalização a valores norte-americanos tem alimentado o antiamericanismo em algumas partes do mundo;
- a economia global deverá ser 80% maior em 2020 do que era em 2000, e a renda per capita média deverá ficar cerca de 50% maior.
Muitas partes do mundo vivenciarão uma prosperidade sem precedentes, e uma classe média numericamente maior deverá ser criada pela primeira vez em algumas nações até então pobres. As estruturas sociais nos países em desenvolvimento serão transformadas, de acordo com o aumento da classe média ocasionada pelo crescimento. Há potencial, a longo prazo, desde que a expansão continue, para que mais países tradicionalmente pobres venham a fazer parte do círculo da globalização.
A maioria das projeções até 2020 – e além – continua a mostrar um crescimento anual mais elevado em países em desenvolvimento do que nos países ricos. Nações como a China e a Índia estarão em posição de atingir um crescimento econômico maior que o da Europa e do Japão, cuja mão-de-obra cada vez mais velha pode inibir o crescimento. Por conta de sua enorme população, o valor em dólar do PIB da China poderá ser o segundo maior do mundo em 2020. Por motivos semelhantes, o resultado positivo da balança comercial da Índia poderá se equiparar ao dos maiores países europeus. As economias de outros países em desenvolvimento, como as do Brasil e da Indonésia, por exemplo, podem ultrapassar em 2020 todas as economias européias, com exceção dos maiores países.
Muitas partes do mundo vivenciarão uma prosperidade sem precedentes, e uma classe média numericamente maior deverá ser criada pela primeira vez em algumas nações até então pobres. As estruturas sociais nos países em desenvolvimento serão transformadas, de acordo com o aumento da classe média ocasionada pelo crescimento. Há potencial, a longo prazo, desde que a expansão continue, para que mais países tradicionalmente pobres venham a fazer parte do círculo da globalização.
A maioria das projeções até 2020 – e além – continua a mostrar um crescimento anual mais elevado em países em desenvolvimento do que nos países ricos. Nações como a China e a Índia estarão em posição de atingir um crescimento econômico maior que o da Europa e do Japão, cuja mão-de-obra cada vez mais velha pode inibir o crescimento. Por conta de sua enorme população, o valor em dólar do PIB da China poderá ser o segundo maior do mundo em 2020. Por motivos semelhantes, o resultado positivo da balança comercial da Índia poderá se equiparar ao dos maiores países europeus. As economias de outros países em desenvolvimento, como as do Brasil e da Indonésia, por exemplo, podem ultrapassar em 2020 todas as economias européias, com exceção dos maiores países.
Mesmo com todo esse esperado crescimento dinâmico, os ‘gigantes’ asiáticos e de outros lugares não tendem a ser comparados qualitativamente às economias dos EUA e de alguns outros países ricos. Eles garantirão alguns setores dinâmicos dentro do quadro mundial, mas a maior parte da sua população trabalhará em fazendas, seus estoques de capital serão menos sofisticados e seus sistemas financeiros tenderão a ser menos eficientes que os de outros países ricos.
Embora o padrão de vida de muitas pessoas nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos tenda a aumentar nos próximos anos, a renda per capita na maioria desses países não será comparável à do Ocidente em 2020. Continuará a haver grande número de pobres, até mesmo nas economias emergentes que estão crescendo rapidamente. A proporção que a classe média representará nesses países tende a ser significativamente menor que as atuais classes médias das nações desenvolvidas. Especialistas estimam que, depois de 2020, levaria mais 30 anos para a renda per capita da China, por exemplo, atingir os atuais percentuais das economias desenvolvidas.
Estima-se que mesmo que a classe média chinesa representasse 40% de sua população em 2020 – o dobro do que é agora – ainda assim estaria abaixo dos 60% dos EUA. Além disso, a renda per capita da classe média chinesa seria significativamente menor que a das classes médias dos países ocidentais.
Na Índia, estima-se que hoje haja 300 milhões de trabalhadores de classe média que ganham entre 2 mil e 4 mil dólares por ano. Tanto esse número quanto os ganhos desses trabalhadores tendem a crescer rapidamente, mas seus salários continuarão a ser substancialmente menores que as médias dos EUA e de outros países ricos, mesmo em 2020.
Por outro lado, os países não vinculados à economia mundial continuarão a sofrer. Até mesmo as projeções mais otimistas admitem que o crescimento econômico impulsionado pela globalização não enriquecerá muitas nações nos próximos 7 anos. Os cenários projetados pelo Banco Mundial indicam, por exemplo, que a África subsaariana continuará muito atrasada, mesmo nos cenários mais otimistas. Atualmente, a região tem a maior proporção de pessoas vivendo com menos de 1 dólar por dia.
Se os problemas da pobreza crônica e de maus governos em países problemáticos da África subsaariana, Eurásia, Oriente Médio e América Latina persistirem, essas áreas tenderão a se tornar um terreno fértil para o terrorismo, o crime organizado, e para as pandemias. A migração forçada também tende a ser uma importante conseqüência desse tipo de problema nessas áreas. A comunidade internacional deverá encarar dilemas quanto à maneira de intervir nesses problemas, a que custo intervir e até ‘se’ deverá mesmo intervir.
O texto acima é um resumo das páginas 102 a 129 do livro O Relatório da CIA – Como será o Mundo em 2020, editora Ediouro, 2006.
Embora o padrão de vida de muitas pessoas nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos tenda a aumentar nos próximos anos, a renda per capita na maioria desses países não será comparável à do Ocidente em 2020. Continuará a haver grande número de pobres, até mesmo nas economias emergentes que estão crescendo rapidamente. A proporção que a classe média representará nesses países tende a ser significativamente menor que as atuais classes médias das nações desenvolvidas. Especialistas estimam que, depois de 2020, levaria mais 30 anos para a renda per capita da China, por exemplo, atingir os atuais percentuais das economias desenvolvidas.
Estima-se que mesmo que a classe média chinesa representasse 40% de sua população em 2020 – o dobro do que é agora – ainda assim estaria abaixo dos 60% dos EUA. Além disso, a renda per capita da classe média chinesa seria significativamente menor que a das classes médias dos países ocidentais.
Na Índia, estima-se que hoje haja 300 milhões de trabalhadores de classe média que ganham entre 2 mil e 4 mil dólares por ano. Tanto esse número quanto os ganhos desses trabalhadores tendem a crescer rapidamente, mas seus salários continuarão a ser substancialmente menores que as médias dos EUA e de outros países ricos, mesmo em 2020.
Por outro lado, os países não vinculados à economia mundial continuarão a sofrer. Até mesmo as projeções mais otimistas admitem que o crescimento econômico impulsionado pela globalização não enriquecerá muitas nações nos próximos 7 anos. Os cenários projetados pelo Banco Mundial indicam, por exemplo, que a África subsaariana continuará muito atrasada, mesmo nos cenários mais otimistas. Atualmente, a região tem a maior proporção de pessoas vivendo com menos de 1 dólar por dia.
Se os problemas da pobreza crônica e de maus governos em países problemáticos da África subsaariana, Eurásia, Oriente Médio e América Latina persistirem, essas áreas tenderão a se tornar um terreno fértil para o terrorismo, o crime organizado, e para as pandemias. A migração forçada também tende a ser uma importante conseqüência desse tipo de problema nessas áreas. A comunidade internacional deverá encarar dilemas quanto à maneira de intervir nesses problemas, a que custo intervir e até ‘se’ deverá mesmo intervir.
O texto acima é um resumo das páginas 102 a 129 do livro O Relatório da CIA – Como será o Mundo em 2020, editora Ediouro, 2006.
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