Bem-vindo ao século XXI: dia 9 de Maio começa oficialmente a nova Guerra Fria
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por Antônio Ribeiro Ferreira, no Jornal i, de Lisboa
Putin convidou os líderes da China, Irã, Egito, Coréia do Norte, Venezuela, Turquia e Grécia para assistirem ao 70.º aniversário do fim da II Guerra Mundial. O Ocidente fica de fora, com a OTAN dividida
O divórcio oficial entre a Rússia e os seus aliados, por um lado, e o bloco ocidental, por outro, vai acontecer em Moscovo, no dia 9 de Maio. As comemorações do 70.º aniversário do fim da II Guerra Mundial marcarão o princípio de uma nova ordem mundial. Ao lado de Putin estarão o presidente da China, Xi Jinping; do Irão, Ali Khamenei; do Egipto, marechal Sisi; da Coreia do Norte, Kim Jong-un; da Venezuela, Nicolás Maduro; da Turquia, Erdogan; e da Grécia, Tsipras, entre outros líderes de países, como a Bielorrússia, que sempre estiveram ao lado de Moscovo nos bons e maus momentos.
Obama, Merkel, Hollande, Cameron e tantos outros vão ficar de fora, com a OTAN a ver dois dos seus membros ao lado de Putin. A Guerra Fria do século XXI vai, assim, começar oficialmente, muito embora as relações entre o Leste e Oeste nunca tenham sido felizes e muito menos amistosas.
– As humilhações russas –
Basicamente, a paz durou pouco tempo e só existiu verdadeiramente na última década do século XX, com a Rússia de gatas depois do fim da Guerra Fria e da queda do império soviético e da Cortina de Ferro. Com Boris Ieltsin ao leme, Moscovo viveu tempos difíceis e teve de sofrer várias humilhações de um Ocidente arrogante com a vitória alcançada. A mais grave aconteceu em 1999, quando a OTAN, leia-se os Estados Unidos, declarou guerra à Sérvia por causa da ocupação do Kosovo. Belgrado era então o único aliado de Moscovo nos Balcãs e umas semanas de bombardeamentos chegaram para pôr fim ao regime pró-Rússia de Milosevic. A Rússia engoliu a humilhação e Boris Ieltsin passou os comandos do Kremlin ao desconhecido Vladimir Putin.
Iludidos com o novo líder, os vencedores ocidentais voltaram ao ataque e levaram a Geórgia a tentar recuperar a Ossétia do Sul e a Abecásia. O conflito começou em Agosto de 2008, quando tropas da Geórgia avançaram, decididas, para a Abecásia. Tudo acabou em Outubro. Putin, já líder incontestado da Rússia, enviou as suas tropas e obrigou os georgianos a recuar de forma desordenada. Só então o Ocidente percebeu que tudo era diferente e que a velha Rússia estava de volta.
– Ofensiva da OTAN –
Mas antes da ofensiva da Geórgia, a OTAN e os Estados Unidos avançaram decididos para leste e integraram em 2004, na Aliança Atlântica, os três países bálticos – Estónia, Letónia e Lituânia – e a Polónia. A Rússia ficava com quatro países integrantes do velho inimigo junto à sua fronteira.
Ucrânia, o espaço vital Agora, em 2014, 14 anos depois da chegada de Putin ao poder, nova ofensiva ocidental, desta vez na sensível Ucrânia, velha relíquia da Rússia dos czares e da União Soviética, que só conheceu a independência em 1991. Evidentemente que a Ucrânia sempre foi uma região disputada por russos e alemães. Hitler definiu-a como o espaço vital alemão e Stalin via-a exatamente da mesma maneira.
Em 2014 surgiu a oportunidade, há muito esperada pelo Ocidente, para pôr o pé na Ucrânia. E foi assim que, a reboque da Alemanha de Merkel, a União Europeia tentou o presidente pró-russo Yanukovitch a assinar um acordo de parceria muito aplaudido pelos ucranianos do Oeste. Putin chamou Yanukovitch a Moscovo e obrigou-o a assinar uma parceria com a Rússia.
Os protestos na Praça Maidan, em Kiev, subiram de tom, alimentados por forças nacionalistas e fascistas. O massacre de dezenas de manifestantes em Fevereiro, crime que ainda hoje não está esclarecido, fez cair Yanukovitch.
Na madrugada de 23 de Fevereiro, Putin tomou duas decisões: salvar o seu aliado ucraniano e trazer a Crimeia de volta à Rússia. E decidiu também criar uma zona de segurança junto à fronteira com a Ucrânia, que sonha agora integrar a OTAN. Com a Crimeia anexada e as regiões de Donetsk e Lugansk controladas, Putin garante o acesso ao mar Negro e ao oceano Atlântico e protege a sua fronteira dos avanços da OTAN.
A aliança com a China A posição russa face ao Ocidente é, nesta fase do conflito, defensiva. Moscovo quer uma nova ordem na Europa, com novos acordos sobre segurança e armas convencionais, e responde à ofensiva ocidental com alianças estratégicas que podem alterar rapidamente as relações de força no mundo. A mais importante é com Pequim. Não é apenas uma parceria energética; é uma aliança militar e política em que os dois países estão juntos em todos os teatros internacionais. Mas se Moscovo se voltou para a Ásia, também não esqueceu o Médio Oriente. Além do Irão e da Síria, a Rússia voltou a ter no Cairo um amigo.
O mundo está a mudar. E a Guerra Fria está de volta.
(observação: este escrevinhador, realizou pequenas adaptações, trocando a grafia de NATO para OTAN, e de Estaline para Stalin – aclimatando o texto ao leitor brasileiro, que ainda assim notará o simpático fraseado lusitano no post).
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