Operadoras
planejam novo tipo de cobrança de internet via celular
Franquia extra em vez de 'velocidade reduzida' fará com que usuário
tenha que contratar pacote adicional
POR BRUNO ROSA
20/10/2014 6:00 / ATUALIZADO 20/10/2014 13:18
Insatisfeita com o serviço, Carla
Devecchi teme gastar mais com o novo modelo de tarifação - Daniela
Dacorso
RIO - Sem alarde, as operadoras de telefonia móvel preparam mudanças na
forma de cobrar internet pelo celular. Assim como já ocorre em diversos países
da Europa e nos Estados Unidos, o usuário, após consumir toda a sua franquia de
dados, não terá mais a opção de continuar navegando com a chamada “velocidade
reduzida”. Ou seja, se quiser trafegar terá que contratar um pacote adicional,
adquirindo mais megabytes (MB). A novidade, que tende a tornar a conexão mais
eficaz, na visão das empresas, pode aumentar as despesas mensais dos
consumidores com telecomunicações.
No próximo mês, quem dá o pontapé inicial é a Vivo, maior companhia do
setor, com 79 milhões de clientes. E os usuários de planos pré-pagos (de
cartão) da operadora serão os primeiros a sentir a mudança: a partir de
novembro, quem consumir toda a franquia do pacote de internet móvel da
operadora, terá a conexão cortada se não contratar nova leva de dados. Oi, TIM
e Claro vão lançar pacote semelhante em breve, dizem fontes. Em um segundo
momento, a estratégia será replicada para os clientes pós-pagos das companhias.
Na Vivo, um dos pacotes pré-pagos mais usados atualmente dá direito a
franquia de 75 MB (a R$ 6,90) por semana. Se consumir todos esses dados antes
do fim do prazo, o cliente terá de pagar um adicional de R$ 2,99 por mais 50
MB, com validade de até sete dias, para continuar navegando na web. Quando
atingir 100% da franquia, o consumidor deverá receber um SMS com a opção de
contratação. A mudança, adotada inicialmente nos estados do Rio Grande do Sul e
Minas Gerais, poderá ser estendida para outras regiões nos próximos meses.
Estima-se que hoje cerca de 30% dos usuários pré-pagos no país acessam a
internet do celular, com gasto médio de R$ 14 por mês.
Segundo a Vivo, “o mesmo ajuste deverá ser implementado futuramente para
os clientes de planos pós-pagos”. E mais: a operadora ressaltou que está
“trabalhando em ajustes sistêmicos e fará o anúncio sobre a mudança aos seus
usuários com a antecedência necessária”.
CONSUMIDORES DEVEM SER AVISADOS
É importante avisar aos consumidores sobre as mudanças para evitar
quebra de contrato, lembram advogados. Pela legislação, as alterações devem ser
notificadas com 30 dias de antecedência.
Nos EUA, assim que um cliente consome metade da franquia de dados, a operadora
já recomenda comprar mais internet. Por exemplo, na Verizon, um pacote com 2GB
mensais custa US$ 60 e na AT&T sai a US$ 40. Já o pacote adicional de 1GB
custa US$ 15 em ambos os casos. Há alguns anos, as operadoras norte-americanas
tentaram oferecer a “velocidade reduzida”, algo que não foi bem recebido pelos
usuários, que reclamaram da baixa qualidade na conexão.
Para especialistas, a estratégia das operadoras é elevar a receita com a
internet móvel, que subiu até 30% no primeiro semestre, sobre igual período de
2013. Mas, apesar do aumento, o país está longe de figurar entre as nações que
mais faturam com dados. Segundo pesquisa recente pela Merril Lynch, e divulgada
pela TIM a analistas, o Brasil ocupa a 30ª posição no “ranking” que mostra a fatia
da receita de dados em relação ao gasto por usuário.
No Brasil, esta relação é de 29% da receita, bem longe do líder Japão
(68%), Coreia do Sul (63%), Austrália (56%), Áustria (48%) e Argentina (47%).
DESAFIO PARA AS EMPRESAS
A qualidade da conexão é um ponto destacado por especialistas. O
analista Hermano Pinto lembra que o desafio para as empresas brasileiras será
manter a velocidade da internet. Hoje, com a demanda crescente, muitos usuários
pós-pagos, que não querem ter a velocidade reduzida, são obrigados a alterar
seus planos de internet com o aumento no número de minutos. Assim, em geral,
quanto maior a franquia de dados, maior será o volume total para falar.
— Nos EUA, por exemplo, se o usuário tem 4G, ele navega no 4G. Não é
como no Brasil que o 4G vira 3G nas áreas onde não há cobertura. Além disso,
por contrato e pela legislação, as empresas podem oferecer apenas uma parte da
velocidade que prometem aos clientes. O desafio de o Brasil aderir a essa
tendência, que é um caminho sem volta, é garantir uma velocidade sempre alta —
destaca.
Procurada, a Anatel não comentou o assunto.
TENDÊNCIA MUNDIAL
Navegar na “velocidade reduzida” significa ter uma velocidade de até um
décimo do total de dados trafegados na franquia — tanto no pré-pago quanto no
pós-pago. Roberto Guenzburger, diretor de Produtos da Oi, diz que o novo modelo
de cobrança é tendência mundial. Segundo ele, a velocidade reduzida vira uma
experiência ruim e afeta a percepção de imagem das operadoras quando, na verdade,
o plano é que é inadequado.
— Estamos olhando essa tendência com atenção até porque, com a
velocidade menor, o cliente não consegue navegar da forma que gosta, assistindo
a vídeos, por exemplo. Com os smartphones, os aplicativos são atualizados automaticamente,
e, sem saber, o cliente está consumindo dados — explica Guenzburger.
A TIM também analisa a nova forma de cobrança, diz o diretor de
marketing Roger Solé. Para ele, há alguns anos fazia sentido oferecer
velocidade reduzida, pois o consumo de dados era baixo:
— Hoje as pessoas consomem muito além de seu pacote de dados. É natural
que, após essa etapa, quando não se tinha noção do consumo de dados, a cobrança
fique mais clara. Estamos lançando um novo serviço que é a internet
compartilhada, no qual o cliente poderá dividir seus dados com mais três
números, sem taxa.
A Claro, que não comentou sobre a tendência, vem apostando em ações
promocionais, permitindo a navegação gratuita de clientes em sites como
Facebook e Twitter. Segundo o consultor Virgílio Freire, a cobrança tende a ser
similar à feita para minutos e mensagens de texto.
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— Com isso, as empresas conseguem gerar mais caixa num momento de forte
expansão de dados — disse Freire. — Mas não se pode deixar de lado os
investimentos. A rede no Brasil precisa melhorar e ficar mais sólida para
atender a essa demanda crescente.
A advogada Carla Devecchi, que já considera o serviço caro e a qualidade
aquém do desejável em parte do tempo, diz que a nova modalidade de cobrança
tende a encarecer a conta.
— Imagina, você está na rua e precisa entrar na internet com urgência.
Vai acabar contratando mais, em vez de esperar chegar em casa ou em algum lugar
com wi-fi — disse.
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