domingo, 28 de dezembro de 2014

Putin cool, impecável.Análise: certa. Resposta ao ocidente: certa

Putin cool, impecável.Análise: certa. Resposta ao ocidente: certa

28.12.2014 00:27
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Embora enfrente o que, analisada sob sejam quais forem as circunstâncias, é uma tempestade perfeita, o presidente Putin teve desempenho extremamente equilibrado na sua maratona anual de conferência e sessão de perguntas e respostas com a imprensa.
A tempestade perfeita desdobra-se em dois fronts: uma guerra econômica aberta - com o país sendo sitiado por sanções; e um ataque de sombras, preparado, urdido, clandestino, contra o coração da economia russa. O objetivo de Washington é claro: quer minar o adversário, serrar-lhe os caninos, para forçá-lo a curvar-se humilhado ante os desejos do Empire of Chaos. E sem parar de vangloriar-se de que esse seria o caminho para a 'vitória' de Washington.

A dificuldade é que Moscou decifrou com acerto impecável o jogo - já bem antes, quando Putin, no Clube Valdai, pôs o dedo na doutrina Obama: "é como se nossos parceiros ocidentais, os próprios pais de teorias do caos controlado não soubessem o que fazer da própria criatura."

Assim sendo, é claro que Putin já tinha ferramentas para compreender o ataque monstro de caos controlado, dessa semana. O Império tem massivo poder de dinheiro; muita influência sobre o PIB de $85 trilhões do mundo, e o poder do banking [da bankerada] por trás disso tudo. Assim sendo, nada mais fácil que usar esse poder mediante os sistemas de banking privado que realmente controlam os bancos centrais, para criar uma corrida contra o rublo. O sonho do 'Empire of Chaos'é, pode-se dizer, derrubar o rublo até que tenha caído 99%. A economia russa terá sido convertida em destroços. Que melhor meio para impor à Rússia a tal 'disciplina imperial'?

A opção "nuclear"

A Rússia vende petróleo denominado em dólares norte-americanos ao ocidente. A empresa LUKoil, por exemplo, tem de receber um crédito em dólares norte-americanos, num banco norte-americano, para pagar pelo petróleo que os russos vendem. Se a LUKoil tem de receber rublos,  então o comprador tem de vender os dólares que tenha depositados e comprar correspondentes créditos em rublos para abastecer a própria conta bancária. Isso, de fato, apoia o rublo. A questão é se Lukoil, Rosneft e Gazprom estão acumulando dólares norte-americanos no exterior e segurando os dólares. A resposta é não. E o mesmo se aplica a outros negócios russos.

A Rússia não está "perdendo suas poupanças" como gargareja a imprensa-empresa ocidental. A Rússia sempre pode exigir que empresas estrangeiras mudem-se para a Rússia. A Apple, por exemplo, pode abrir uma unidade fabril na Rússia. Os recentes negócios firmados entre Rússia e China incluem construção de fábricas chinesas na Rússia. Com um rublo depreciado, a Rússia pode forçar fábricas que foram deslocadas para a União Europeia, a se instalarem na Rússia; é isso, ou essas empresas perdem o mercado. É verdade que Putin, de certa maneira admitiu que a Rússia deveria já ter feito há muito tempo o que só agora fez. Agora, o processo - positivo - é inevitável.

E há uma opção "nuclear" - que Putin nem precisou mencionar. Se a Rússia decide impor controles sobre o capital e/ou impor um "feriado" no pagamento de enormes parcelas da dívida que vencerão no início de 2015, o sistema financeiro europeu conhecerá dias de bombardeio à moda "Choque e Pavor". Afinal, grande parte dos financiamentos bancários e privados russos são levantados na Europa.

O 'calote' da Rússia, por ele só, não é a questão. A questão é a conexão com os bancos europeus. Como me disse um banqueiro de investimentos americano, Lehman Brothers, por exemplo, derrubou a Europa, praticamente tanto quanto derrubou New York City - por causa dos inter-links. E Lehman, claro, tinha sede em New York. O que conta é o efeito dominó.

Se a Rússia servir-se dessa opção "nuclear" financeira, o sistema financeiro ocidental não conseguirá absorver o choque do calote. O que provaria cabal e completamente - de uma vez por todas - que os especuladores de Wall Street construíram um 'Castelo de Cartas' tão frágil e corrupto, que a primeira tempestade que se abater sobre ele o reduz a pó.

À curta distância 
E se a Rússia faz o calote - e cria a mais alucinada confusão da dívida de $600 bilhões, do país? É o cenário que levou os "Masters of the Universe" a mandar Janet Yellen e Mario Draghi criar créditos nos sistemas de banking para prevenção de "dano indevido" [orig. "undue damage"] - como em 2008.

Mas então a Rússia decide cortar o gás natural e o petróleo para o ocidente (mantendo normal o fluxo para o oriente). A inteligência russa pode criar inferno non-stop nas estações de bombeamento, do Maghreb até o Oriente Médio. A Rússia tem como bloquear todo o petróleo e todo o gás natural bombeado em todos os '-stões' da Ásia Central. Resultado: o maior colapso financeiro da história. E fim da panaceia excepcionalista do 'Empire of Chaos'.

Claro que esse é cenário de apocalipse. Mas não provoquem o urso; ursos são muito rápidos.

Putin falou com tanta segurança, tão calmo, tão concentrado - sempre interessado em expor detalhadamente cada ponto - naquela conferência de imprensa, porque ele sabe que Moscou pode mover-se com total autonomia. Claro que, sim, é guerra assimétrica contra um império que está desabando, perigoso. O que pensam da vida aquelas ratazanas intelectualmente subdotadas que enxameiam em torno de Obama Pato Manco? Que convencerão a opinião pública nos EUA - no mundo - de que Washington (de fato, só os cachorrinhos europeus) declarará guerra nuclear, a ser combatida no teatro europeu, em nome do estado falido da Ucrânia?

É jogo de xadrez. O ataque contra o rublo foi concebido para ser o xeque-mate. Não é. Nunca seria, jogado por jogador medíocre. E não esqueçam a parceira estratégica Rússia-China. A tempestade talvez esteja amainando, mas o jogo continua. *****

Timothy Bancroft-Hinchey

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