segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

OPEP: Guerra dos preços contra produtores norte-americanos

OPEP: Guerra dos preços contra produtores norte-americanos

01.12.2014
 
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A reunião da OPEP em Viena na 5ª-feira foi como divisor de águas, no ir e vir da maré da política de energia. A Arábia Saudita expôs ali, sem meias palavras, a decisão de que não haverá qualquer corte na produção para deter a acentuada queda nos preços do petróleo. Ouviram-se vozes discordantes, mas na OPEP os sauditas mandam e desmandam.
29/11/2014, MK Bhadrakumar, Indian Punchline -- http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2014/11/29/opec-in-price-war-with-us-oil-producers/

Será o raiar de uma 'nova ordem do petróleo'? Os sauditas distribuíram notícias de que a OPEP está realmente em guerra aberta contra os produtores norte-americanos de petróleo de xisto, e de que é guerra necessária, para que se preservem as fatias de mercado dos países reunidos na OPEP.

Mas, privadamente, os sauditas já informam que todos tratem de aprender a viver com menor renda por um ano ou dois, e que se agarrem com unhas e dentes à própria fatia de mercado. Mas nem todos estão convencidos de que a posição dos sauditas seja autêntica.

Há mérito na posição dos sauditas, na medida que já se constatou grande mudança no mercado global de petróleo nos anos recentes. Se o forte aumento nos preços do petróleo em meados dos anos 2000 (graças a forte aumento na demanda global) galvanizou a busca por novas fontes, e eventualmente levou ao uso das revolucionárias tecnologias do fracking e da perfuração horizontal, para extrair petróleo de "formações de xisto" nos EUA, o salto na produção gera a ameaça de crise de excesso de oferta.

Somada ao enfraquecimento da demanda por petróleo na Europa (Alemanha) e Ásia (China e Japão), só a produção adicional dos EUA (4 milhões de barris/dia) significa aumento substancial na oferta (antes baseada em 75 milhões de barris/dia). Além disso, houve aumento na produção de petróleo também no Canadá e na Rússia, e a Líbia está de volta aos negócios, depois da caótica "mudança de regime" pela qual o país passou.

Essencialmente, a OPEP (saudita) decidiu deixar o preço cair a um preço tal que os projetos de perfuração de altíssimo custo em curso nos EUA sintam que a nova produção é antieconômica e sejam forçados a desistir.

É gambito de alto risco, porque ninguém sabe com certeza qual o ponto a partir do qual a extração de petróleo de xisto tornar-se 'não lucrativa'.

Na verdade, a combinação de demanda mais fraca e oferta crescente fez o preço cair de $115/barril em meados de junho, para $80 em meados de novembro. Depois da reunião da OPEP na 5ª-feira, os preços literalmente desabaram. O Brent cru está agora em torno de $70/barril.

Claramente, a influência da OPEP sobre o mercado mundial de petróleo já não é hoje a mesma de antes, historicamente. Até o presente, a OPEP (que produz hoje 40% do petróleo do mundo) podia 'controlar' efetivamente o preço mundial do petróleo pelo método simples de coordenar cortes (ou picos positivos) na produção. Já não é o caso.

"Produziremos 30 milhões de barris/dia nos próximos seis meses, e veremos como se comportam os mercados". Assim o secretário-geral da OPEP, Abdalla El-Badri comentou o resultado da reunião de 5ª-feira em Viena. Em resumo, há à vista uma nova era no mecanismo de fazer preço para o petróleo, na qual o próprio mercado administrará a oferta, não mais a OPEP.

Enquanto isso, para todos os efeitos práticos, a OPEP declarou guerra aos perfuradores norte-americanos de xisto, com os EUA como novo 'produtor duvidoso' [orig. 'swing producer']. O impacto de tudo isso na política mundial não pode ser mais profundo. Se o mundo estava dividido entre países produtores e países consumidores de petróleo, os países consumidores serão os grandes ganhadores.

A queda nos preços do petróleo para $70 ou abaixo disso por barril é como ganhar a sorte grande para aquelas economias e entre elas estão a União Europeia, China, Japão e Índia. A conta a pagar por petróleo importado da Índia, ano passado, chegou a $135 bilhões. A economia é muito substancial.

Moscou deu-se por parte prejudicada, com EUA e Irã, os principais perdedores ante a queda nos preços do petróleo. Mas a história não acaba aí. Moscou parece ter interesses comuns com a Arábia Saudita, como país produtor interessado em desalojar do mercado o petróleo de xisto dos norte-americanos.

Interessante: o ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita Faisal Al-Saud visitou Moscou apenas uma semana antes da reunião da OPEP, e os dois países concordaram amplamente com a abordagem saudita a ser divulgada, como foi, na reunião da OPEP.

Como o ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov disse depois das conversações com o ministro saudita, "quando países exportadores de petróleo veem desequilíbrio entre oferta e demanda, quando veem que a oferta ou a demanda está sendo artificialmente manipulada por atores particulares no mercado, é claro que têm o direito de tomar medidas que visem a corrigir aqueles fatores não objetivos, para devolver o mercado à sua posição natural."

Mais uma vez, a queda nos preços do petróleo teria variados impactos também na China. O ponto é que se sabe que a China tem as maiores reservas do mundo de gás de xisto. Atualmente está às voltas com a extração - o que pode mudar, se a tecnologia norte-americana for acessível.

A assinatura do recente acordo entre China e os EUA pode dar o ímpeto de que os dois lados carecem para cooperar na extração do petróleo de xisto.

Mas, feitas todas as contas, a atitude dos sauditas, de desafio, é jogada arriscada. Com certeza é mais barato bombear petróleo na Arábia Saudita, que extrair petróleo de solos de xisto no Texas ou no Dakota do Norte. Em princípio, claro, se o preço do petróleo continuar a cair, pode acontecer de os produtores norte-americanos fugirem do negócoi - com o que os preços do petróleo se estabilizarão e a OPEP manterá sua fatia de 40% do mercado.

O caso é que ninguém sabe qual terá de ser o preço do petróleo no mercado mundial, para que o boom do xisto realmente fracasse. A Agência Internacional de Energia só sabe que cerca de 4% dos projetos de xisto dos EUA podem ruir, se o preço do petróleo cair abaixo de $80/barril. Por outro lado, muitos projetos na formação Bakken no Dakota do Norte permanecerão nos negócios, a menos que os preços do petróleo caiam abaixo de $42/barril (o que é impensável).

Será longa jornada noite adentro até junho, quando deve acontecer a próxima reunião da OPEP. *****

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