BRASÍLIA FERVE COM ESPECULAÇÕES SOBRE UMA IMINENTE PRISÃO DE LULA
Boatos ganham corpo com falta de explicações convincentes sobre sítio e tríplex. Roteiro na mídia parece seguir o de outras prisões impactantes.
No dia 19 de abril de 1980, um barbudo sindicalista era preso em São Paulo por descumprir a Lei de Segurança Nacional ao manter uma greve que já durava 17 dias e havia sido declarada ilegal. Luís Inácio da Silva, vulgo Lula, passaria 32 dias na cadeia. Muito bem tratado pelo delgado Romeu Tuma, que inclusive levou uma TV para que Lula pudesse assistir ao seu Corinthians jogar, ele ainda passou pela tristeza de participar do velório e enterro da mãe enquanto ainda se encontrava encarcerado. Tirando o dado triste, uma coisa é certa: a prisão o catapultou a outro patamar político. O então Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Erasmo Dias, cravou: "Ele tem agora um futuro político garantido e se elege tranqüilamente deputado ou senador". Não podia imaginar que o barbudo chegaria ao topo do comando da República brasileira.
Passados quase 36 anos, o agora ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva se vê às voltas com a possibilidade de ir novamente para a cadeia. Desta vez, não por quebrar a Lei de Segurança Nacional, utilizada pela última vez por José Sarney em uma greve da ainda estatal Companhia Siderúrgica Nacional. Nem mesmo por liderar greves ou algo parecido. Tal e qual os políticos que criticou violentamente durante várias décadas até chegar ao poder, Lula é acusado de ocultar patrimônio adquirido através de tráfico de influência durante seu governo.
Não é a primeira vez que Brasília é tomada por boatos sobre uma iminente prisão de Lula. A diferença agora é a consistência do cenário. Antes, Lula depunha na condição de mero informante. Agora ele e Marisa Letícia são chamados a depor como investigados. Anteriormente, por mais que o maior esquema de corrupção da história do mundo tenha sido concebido e praticado no governo que ele chefiava, as investigações não conseguiam ligá-lo materialmente ao crime. Agora conseguem.
O sítio em Atibaia e o tríplex no Guarujá estão sendo a pedra no sapato que Lula não consegue tirar. Sobre o tríplex, ele tenta alegar que Marisa Letícia teria meramente comprado uma cota do empreendimento, de pouco mais de R$ 47 mil e que acabou desistindo do negócio. O fato é que o tríplex foi concluído, Marisa Letícia chegou a participar de reunião de condomínio no Solaris, a OAS fez toda uma decoração personalizada, coordenada pela mesma Marisa e entre decoração, mobília e acabamento lá se foram mais de R$ 800 mil. O tríplex é avaliado atualmente em mais de R$ 1,5 milhões de rais.
Já o sítio segue um roteiro ainda mais estranho. Está no nome de um sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Sua reforma teria sido acompanhada de perto pelo próprio Fábio. E ao que tudo indica, o que se tem não é um simples sítio: é um verdadeiro resort rural de luxo.
Junte-se a isso o roteiro seguido por Sérgio Moro anteriormente em prisões de amplo impacto. Moro é um obcecado estudioso da Operação Mani Pulite (Mãos Limpas), que desmantelou um vasto esquema de corrupção envolvendo políticos italianos e acabou por desmantelar todo o sistema partidário de então, da direita à esquerda, sem deixar nada de pé no começo dos anos 1990. Na tal Manu Pulite, um dos sustentáculos dos juízes envolvidos era justamente a imprensa.
A lógica era simples: com o sistema político-partidário completamente corrompido, apenas através da utilização da imprensa se poderia ganhar apoio popular para que a operação não fosse destruída pelos investigados. Deu certo. E o que vemos Moro e os desembargadores do Paraná praticarem? Justamente uma farta exposição midiática, buscando um canal de comunicação direto com a população, passando por cima de interlocutores políticos.
Sendo assim, Moro e os procuradores tem sido sistematicamente acusados de vazamentos de informações sobre a operação para a imprensa. Não podemos negar que isso, de fato, parece estar ocorrendo. Então, basta abrir a Folha de São Paulo de hoje para começar a sentir o cheiro da fritura fervendo. Matéria de Marina Dias e Daniela Lima, da sucursal de Brasília, afirma: "Lula é aconselhado a admitir que reforma de sítio foi um 'presente'". A estratégia já esta sendo ensaiada de público pelo homem de confiança de Lula, o ex-ministro Gilberto Carvalho, para quem é "absolutamente normal" empreiteiras presentearem um ex-Presidente da República que as beneficiou largamente em seu governo.
O que isso indica? Que o desespero bateu às portas do velho líder sindical. Às vésperas de ser enquadrado na Lei 9.613/1998, que fala da ocultação de patrimônio e prevê penas de três a 10 anos de cadeia, Lula optaria por reduzir danos. Admitiria a reforma, talvez até mesmo admita a compra do tríplex e tentaria escapar do pior. Algo como alegar o crime de caixa 2 no mensalão para escapar do crime de responsabilidade ao tentar comprar o Congresso, o que fatalmente levaria ao impeachment.
O problema é que admitir, agora, a propriedade do tríplex ou mesmo a reforma do sítio por empreiteiras como um presente para si, abriria o flanco para que Moro pedisse a prisão de Lula por outro crime: obstrução da justiça. Em diversos depoimentos Lula negou ter recebido favores, ser dono do tríplex e manter este tipo de relação com seus amigos empreiteiros. O que estaria tentando ocultar, quando estes mesmos empreiteiros estão presos por sua participação na Lava-Jato?
Se cair em ocultação de patrimônio, igualmente Lula estará ainda mais enrolado. Ocultou por que? Da onde foi oriundo o dinheiro para a compra do tríplex e a reforma do sítio? Tais gastos eram compatíveis com seus rendimentos?
Ainda segundo a matéria da Folha, quem esteve com Lula recentemente notou-o "abatido" e "estarrecido" com o andamento das investigações. Motivos não faltam.
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