sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A Rússia na mira

A Rússia na mira

05.02.2015
 
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O ataque de Washington à Rússia ultrapassou a fronteira do absurdo e entrou no âmago da insânia.
O novo chefe do US Broadcasting Board of Governors, Andrew Lack, declarou que o novo serviço russo, RT, o qual difunde em múltiplas línguas, é uma organização terrorista equivalente ao Boko Haram e ao Estado Islâmico. Por sua vez, a Standard and Poor's acaba de degradar a classificação de crédito da Rússia ao nível de lixo.
por Paul Craig Roberts
Hoje a RT International entrevistou-me acerca destes desenvolvimentos insanos.
Outrora, quando a América ainda era um país são, a acusação de Lack teria levado a que fosse escorraçado do cargo. Ele teria sido obrigado a demitir-se e desaparecer da vida pública. Hoje, no mundo simulado que a propaganda ocidental criou, a declaração de Lack é tomada a sério. Mais uma ameaça terrorista foi identificada – a RT. (Embora tanto Boko Haram como o Estado Islâmico empreguem o terror, estritamente falando eles são organizações políticas à procura de domínio, não organizações terroristas, mas esta distinção estaria para além da cabeça de Lack. Sim, eu si. Há uma piada que se podia fazer aqui acerca do que falta a Lack [NT] . Um nome adequado.)
No entanto, seja o que for que possa faltar a Lack, duvido que ele acredite na sua declaração disparatada de que a RT é uma organização terrorista. Então, qual é o seu jogo?
A resposta é que os media prostitutos (presstitute) do Ocidente, ao tornarem-se Ministérios da Propaganda de Washington, criaram grandes mercados para a RT, a Press TV e Al Jazeera. Como cada vez mais povos do mundo voltam-se para estas fontes mais honestas de notícias, declinou a capacidade de Washington de falsificar explicações em causa própria.
A RT, em particular, tem uma grande audiência ocidental. O contraste entre reportagens verdadeiras da RT e as mentiras cuspidas pelos media dos EUA está a minar o controle de Washington da explicação. Isto já não é mais aceitável.
Lack enviou uma mensagem à RT. A mensagem é: contenha-se; parece de informar de modo diferente da nossa linha; pare de contestar os factos tais como Washington declara que são e que os presstitutos relatam; embarque nisso ou se não...
Por outras palavras, o "livre discurso" que Washington e seus estados fantoches da UE, canadiano e australiano apregoam significa: livre discurso para a propaganda e as mentiras de Washington, mas não para qualquer verdade. A verdade é terrorismo, porque a verdade é a principal ameaça a Washington.
Washington preferiria evitar o embaraço de realmente fechar a RT, tal como o seu vassalo do Reino Unido fez com a Press TV. Washington simplesmente quer calar a RT. A mensagem de Lark à RT é:   auto-censurem-se.
Na minha opinião, a RT já não diz tudo (understates) nas suas coberturas e reportagens, como faz Al Jazeera. Ambas as organizações noticiosas entendem que não podem ser demasiado diretas, pelo menos não demasiado seguidamente ou em demasiadas ocasiões.
Muitas vezes pergunto-me porque o governo russo permite que 20 por cento dos media russos funcionem como quinta coluna de Washington no interior da Rússia. Suspeito que a razão é que ao tolerar a propaganda descarada de Washington dentro da Rússia, o governo russo espera que algumas notícias factuais possam ser relatadas nos EUA via RT e outras organizações noticiosas russas.
Estas esperanças, tais como outras esperanças russas acerca do Ocidente, provavelmente serão desiludidas no fim. Se a RT for fechada ou assimilada ao padrão dos media presstitutos ocidentais, nada será dito acerca disso, mas se o governo russo acabar com os agentes de Washington, mentirosos descarados, nos media russos, ouviremos para sempre que os malévolos russos suprimem o "livre discurso". Recordem: o único "livre discurso" permissível é a propaganda de Washington.
Só o tempo dirá se a RT decide ser encerrada por contar a verdade ou se somará a sua voz à propaganda de Washington.
AS AGÊNCIAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
O outro ponto da entrevista era a degradação do crédito russo à categoria de lixo.
A degradação feita pela Standard and Poor's é, sem qualquer dúvida, um ato político. Ela prova o que já sabíamos e é que as firmas americanas de classificação são operações políticas corruptas. Recordam a classificação "Investment Grade" que as agências de classificação americanas deram ao lixo óbvio da subprime? Estas agências de classificação são pagas pela Wall Street e, tal como a Wall Street, servem o governo dos EUA.
Uma olhadela aos factos permite estabelecer a natureza política da decisão. Não espere que a corrupta imprensa financeira dos EUA examine os factos. Mas neste exacto momento, nós examinaremos os factos.
Na verdade, colocaremos os factos no contexto da situação da dívida estado-unidense.
De acordo com contadores da dívida (debt clocks) disponíveis online, a dívida nacional russa como percentagem do PIB russo é de 11 por cento. A dívida nacional americana em percentagem do PIB dos EUA é de 105 por cento, cerca de dez vezes mais alta. Meus co-autores, Dave Kranzler, John Williams e eu temos mostrado que, quando medida corretamente, a dívida dos EUA em percentagem do PIB é muito mais alta do que o número oficial.
A dívida nacional russa per capital é de US$1.645. A dívida nacional estado-unidense per capita é de US$56.952.
A dimensão da dívida nacional da Rússia é de US$235 mil milhões, menos de um quarto de um trilião. A dimensão da dívida nacional dos EUA é de US$18 triliões (milhões de milhões), 76,6 vezes maior do que a dívida russa.
Colocando isto em perspectiva de acordo com os contadores da dívida, o PIB dos EUA é de US$17,3 triliões e o PIB da Rússia é de US$2,1 triliões. Assim, o PIB dos EUA é oito vezes maior do que o da Rússia, mas a dívida nacional dos EUA é 76,5 vezes maior do que a dívida russa.
Evidentemente, é a classificação de crédito dos EUA que deveria ter sido degradada para o status de lixo. Mas isto não pode acontecer. Qualquer agência de classificação de crédito que contasse a verdade seria fechada e processada. Não importaria quão absurdas fossem as acusações. As agência de classificação seriam culpadas por serem anti-americanas, organizações terroristas como a RT, etc e tudo o mais, e elas sabem disso. Nunca espere qualquer verdade de qualquer cidadão da Wall Street. Eles mentem como modo de vida.
Segundo este sítio web , os EUA deviam à Rússia desde Janeiro de 2013 a quantia de US$162,9 mil milhões. Como a dívida nacional russa é de US$235 mil milhões, 69 por cento desta é coberta pelas obrigações de dívida dos EUA para com a Rússia.
Se isto é uma crise russa, eu sou Alexandre o Grande.
Como a Rússia tem haveres suficientes em US dólar para resgatar toda a sua dívida nacional e ainda lhe sobrar um par de centenas de milhares de milhões de dólares, o que é o problema da Rússia?
ECONOMISTAS NEOLIBERAIS, A QUINTA COLUNA
Um dos problemas da Rússia é o seu banco central. Na sua maior parte, os economistas russos são os mesmos neoliberais incompetentes que existem no mundo ocidental. Os economistas russos estão enamorados dos seus contatos com o Ocidente "superior" e com o prestígio que eles imaginam que estes contatos lhes dão. Enquanto os economistas russos concordam com os ocidentais, obtêm convites para conferências no exterior. Estes economistas russos são de facto agentes americanos, quer o percebam ou não.
Atualmente o banco central russo está a esbanjar desnecessariamente os grandes haveres russos de divisas externas para apoiar o ataque ocidental ao rublo. Isto é um jogo de loucos que nenhum banco central deveria jogar. O banco central da Rússia deveria recordar, ou aprender se não souber, o ataque de Soros ao Banco da Inglaterra.
As reservas da Rússia deveriam ser utilizadas para que se retirasse da dívida nacional em aberto, tornando-a então o único país do mundo sem dívida nacional. Os dólares restantes deveriam ser descarregados em ações coordenadas com a China a fim de destruir o dólar, a base de poder do imperialismo americano.
Alternativamente, o governo russo deveria anunciar que a sua resposta à guerra económica que está a ser conduzida contra a Rússia pelo governo em Washington e pelas agências de classificação da Wall Street é o incumprimento dos seus empréstimos a credores ocidentais. A Rússia nada tem a perder quando já está desligada do crédito ocidental devido às sanções estado-unidenses. O incumprimento russo causaria consternação e crise no sistema bancário europeu, o que é exatamente o que a Rússia precisa a fim de romper o apoio da Europa às sanções estado-unidenses.

Na minha opinião, os economistas neoliberais que controlam a política económica russo são uma ameaça muito maior à soberania da Rússia do que as sanções económicas e as bases de mísseis dos EUA. Para sobreviver a Washington, a Rússia precisa desesperadamente de pessoas que não sejam românticas acerca do Ocidente.
Para dramatizar a situação, se o Presidente Putin conceder-me cidadania russa e permitir-me nomear Michael Hudson e Nomi Prins como meus representantes, assumirei o comando do banco central russo e colocarei o Ocidente fora das operações.
Mas isso exigiria que a Rússia assumisse os riscos associados à vitória. Os Integracionistas Atlantistas no interior do governo russo querem a vitória para o Ocidente, não para a Rússia. Um país cheio de traição dentro do próprio governo tem possibilidades reduzidas contra Washington, um jogador determinado.
Outra quinta coluna a operar contra a Rússia a partir de dentro são as ONGs financiadas pelos EUA e Alemanha. Estes agentes americanos mascarados como "organizações de direitos humanos", "organizações de direitos da mulher", "organizações para a democracia" e quaisquer outros títulos politicamente corretos de que se servem e que são incontestáveis.
Ainda outra ameaça à Rússia vem da percentagem da juventude russa que cobiça a cultura depravada do Ocidente. Permissividade sexual, pornografia, drogas, auto-absorção. Estas são as ofertas culturais do Ocidente. E, naturalmente, matar muçulmanos.
Se os russos quisessem matar pessoas por diversão e consolidar a hegemonia dos EUA sobre si próprios e o mundo, eles deveria apoiar a "integração atlantista" e virar as costas ao nacionalismo russo. Por que serem russos se você podem ser servos dos americanos?
Que melhor resultado para os neoconservadores americanos do que terem apoio russo à hegemonia de Washington sobre o mundo? Isso é o que os economistas neoliberais russos e os "integracionistas europeus" apoiam. Estes russos estão desejosos de serem servos americanos a fim de fazerem parte do Ocidente e serem bem pagos pela sua traição.
Quanto fui entrevistado pela RT acerca destes desenvolvimentos, o âncora do noticiário esteve a tentar confrontar as acusações de Washington com osf atos. É espantosos que os jornalistas russos não entendam que os factos nada têm a ver com isto. Os jornalistas russos, aqueles independentes de subornos americanos, pensam que os factos importam nas discussões acerca das ações russas. Eles pensam que os assaltos a civis pelos nazis ucranianos apoiados pelos americanos são um facto. Mas, naturalmente, nenhum de tais factos existe nos media ocidentais. Nos media do Ocidente os russos, e apenas os russos, são responsáveis pela violência na Ucrânia.
A narrativa de Washington é que a malévola intenção de Putin de restaurar o império soviética é a causa do conflito. Esta linha dos media no Ocidente não tem relacionamento com quaisquer factos.
Na minha opinião a Rússia está em grave perigo. Os russos estão a confiar nos factos e Washington está a confiar na propaganda. Para Washington, factos não são relevantes. As vozes russas são escassas em comparação com as vozes ocidentais.
A falta de uma voz russa deve-se à própria Rússia. A Rússia aceitou viver num mundo controlado pelos serviços financeiros, legais e de telecomunicações dos EUA. Viver neste mundo significa que a única voz é a de Washington.
Por que a Rússia concordou com esta desvantagem estratégica é um mistério. Mas em consequência deste erro estratégico, a Rússia está com uma desvantagem.
Considerando as intrusões que Washington tem dentro do próprio governo russo, os oligarcas economicamente poderosos e os empregados do estado com conexões ao Ocidente, bem como os media russos e a juventude russa, com as centenas de ONGs financiadas por americanos e alemães que podem colocar russos na ruas para protestar contra qualquer defesa da Rússia, o futuro da Rússia como um país soberano é duvidoso.
Os neoconservadores americanos são implacáveis. O seu oponente russo está enfraquecido pelos êxitos no interior da Rússia da propaganda ocidental de guerra fria e que retrata os EUA como o salvador e o futuro da espécie humana. 
A escuridão do Sauron América continua a propagar-se sobre o mundo.
 [NT] Jogo de palavras intraduzível.

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