SABINADA
Ao longo da primeira metade do século XIX, a
província da Bahia foi assolada por agitações provocadas por diversos setores
sociais. Entre elas, a Sabinada, originada em 1837 na cidade de Salvador e que
representou um movimento separatista precedido por largas agitações políticas.
O movimento tomou toda a Capital, com o apoio de
parte das tropas governamentais, mas não conseguiu o apoio do interior, devido
à resistência das forças legalistas locais. Terminou no ano seguinte, devido ao
cerco da cidade por terra e por mar pelas tropas militares enviadas pelo
governo central.
Participaram da revolta, inúmeros setores da
sociedade, principalmente a classe média - jornalistas, comerciantes e
professores - unidos em torno de um ideal republicano. Suas motivações
refletiram a tendência geral das províncias brasileiras durante o período da
Regência: negar a autoridade instituída e os presidentes escolhidos para o
governo provincial.
A Sabinada, liderada por Sabino Rocha Vieira,
destacou-se pela visualização de um separatismo provisório; a república Baiense
existiria somente até a maioridade de D. Pedro II. A guerra civil fez centenas
de vítimas, entre revoltosos e legalistas, e milhares de prisioneiros. Seu
líder foi preso e desterrado para a província de Mato Grosso, onde veio a
falecer.
SABINADA
Movimento autonomista ocorrido na Bahia entre 1837
e 1838, durante o período da Regência. Setores políticos da província ligados
aos liberais radicais e à maçonaria defendem os ideais federativos contra o
centralismo monárquico. Aproveitando a reação popular contra o recrutamento
militar imposto pelo governo regencial para combater a Revolta dos Farrapos,
iniciam a luta em favor da separação temporária da Bahia do resto do império.
Liderada pelo médico Francisco Sabino da Rocha Vieira, a rebelião começa em Salvador, em
7 de novembro de 1837. Apesar de pretender estender-se a toda a província, a
revolta acaba restringindo-se à capital e a algumas localidades próximas.
Também não obtém o apoio esperado entre as camadas populares e entre os
influentes senhores de engenho. Mesmo assim, os "Sabinos" denunciam a
ilegitimidade do regime da Regência e proclamam a República, prevista para
durar até a maioridade legal do imperador. Conseguem tomar vários quartéis na
capital baiana, mas são cercados por terra e por mar pelas tropas legalistas e
derrotados em março de 1838. Muitos morrem nos combates. Três líderes são
executados e outros três deportados. Sabino Vieira é confinado na província de
Mato Grosso.
Fonte: br.geocities.com
SABINADA
1837
A Sabinada constituiu um dos movimentos subversivos
que abalaram o Brasil durante a menoridade de D. Pedro II, mas, ao contrário de
outras, teve diretrizes ideológicas bem definidas, pois se tratou de uma
rebelião cujos objetivos visavam a separação do império e a instalação de um
governo republicano. O nome por que ele ficou conhecido derivou de um de seus
chefes, Francisco Sabino Álvares da
Rocha Vieira, médico e professor, que embora pobre tornou-se famoso na
época não só pelas atividades políticas que exercia, mas principalmente em
razão de seu espírito humanitário, o que o tornava muito querido pelos pobres,
infelizes e oprimidos. Além do mais, era um homem de ciência, um dos mais
cultos entre os elementos que participaram do levante.
A revolta teve início com a fuga do líder
farroupilha Bento Gonçalves, que se encontrava detido no Forte do Mar, em
Salvador. Os registros revelam que em 7 de novembro de 1837. O líder
revolucionário baiano - doutor Francisco Sabino - e mais quatro companheiros
dirigiram-se ao forte, e chegando lá convocaram o corneteiro, ordenando ao
mesmo que executasse o toque "Chamada Ligeira", senha combinada para
dar início à revolução. Em seguida tomaram a instalação militar com apoio da
sua guarnição. Uma vez livre, Bento Gonçalves incentivou o movimento
revolucionário que teve como causa principal a insatisfação da população local
em relação ao governo central. Entre os motivos desse estado de coisas
destacava-se o fato de os regentes imporem governantes para Bahia sem
considerar os interesses e a vontade da população local, o que se agravou com a
circulação de boatos sobre o envio, por determinação das autoridades imperiais,
de tropas baianas para o Rio Grande do Sul, onde na mesma época estava em curso
o conflito conhecido como Guerra dos Farrapos.
Deflagrada a sublevação em Salvador, nesse mesmo
dia 7 de novembro de 1837, populares armados obrigaram o governador da
província, Francisco de Souza Paraíso, a se recolher a um navio de guerra, e
tomaram conta da cidade. Em reunião na Câmara de Vereadores os revolucionários
decidiram: "A Bahia fica inteira e perfeitamente desligada do governo
central do Rio de Janeiro, e passa a ser um estado independente”. Parte da
tropa sediada na capital baiana aderiu ao movimento sem opor qualquer
resistência, o que forçou a fuga das autoridades legais e culminou com a
proclamação da independência da província (elegendo como presidente Inocêncio
da Rocha Galvão, que se encontrava nos Estados Unidos) e a instalação de um
governo republicano comandado interinamente por João Carneiro da Silva Rego,
com duração prevista até a maioridade de D. Pedro de Alcântara (na ilustração,
D. Pedro II em 1840, tela pertencente ao
acervo do Museu Histórico Nacional).
Todavia, somente Itaparica e o povoado de Feira
aderiram à revolta, enquanto os demais centros populosos da província
prepararam-se para resistir aos rebeldes. Mas estes não conseguiram ampliar o
seu campo de ação e por isso ficaram restritos aos limites urbanos. Na
seqüência desses acontecimentos, tropas comandadas pelo general João Crisóstomo
Calado seguiram do Rio de Janeiro para a Bahia, ao mesmo tempo em que além das
forças que também se deslocavam de Pernambuco para Salvador, uma divisão naval
comandada por Teodoro Beaurepaire se punha em linha contra os revoltosos, para
enfrentá-los. Embora articulados com elementos de outras províncias,
principalmente de Pernambuco, os amotinados logo se viram em situação
extremamente difícil, pois o cerco imposto pelas forças legalistas lhes
acarretou uma série de dificuldades praticamente insolúveis. Dessa forma,
sentindo-se acossados pela fome, eles efetuaram diversas sortidas contra as
tropas que os cercavam, mas foram repelidos em todas as investidas feitas.
Em começo de março os legalistas ocuparam
Itaparica, e logo depois, no dia 15 do mesmo mês, o general Calado iniciou o
assalto a Salvador, quando então se travou um encarniçado combate corpo a corpo
que só terminaria no dia seguinte. Procurando impedir a entrada das tropas
governistas os rebeldes incendiaram a cidade, mas para dificultar a situação
dos defensores os atacantes também atearam fogo ás partes deixadas intactas
pelos primeiros, além de praticar outros excessos. Ao final de tudo, a Bahia
foi reintegrada à Regência e devidamente pacificada; as perdas revolucionárias
mencionadas por algumas fontes se elevaram a 1258, de acordo com os
sepultamentos efetuados na cidade; cerca de 160 casas foram destruídas por
incêndios; e 2.298 revolucionários republicanos acabaram presos pelas
autoridades.
Dominado o movimento, os rebeldes capturados foram
julgados por um tribunal composto pelos donos de latifúndios da província,
sendo quatro condenados à morte e muitos outros a desterro e trabalhos
forçados. Posteriormente, com a maioridade do imperador, os condenados tiveram
a pena comutada por ele, impondo-se apenas o desterro dos chefes da rebelião.
Entre esses, Francisco Sabino Vieira,
ficou confinado na Fazenda Jacobina, na remota província de Mato Grosso.
SABINADA
A Sabinada, diferentemente da Cabanagem, foi uma
rebelião de elementos da camada média urbana de Salvador e que não contou com a
participação da massa pobre e com o apoio da aristocracia latifundiária.
Os organizadores do movimento entre os quais destaca
o médico Francisco Sabino da Rocha Viera,
(daí o nome Sabinada), acreditavam que somente a luta armada para derrotar o
governo regencial possibilitaria a solução dos problemas econômicos do país.
Organizado o movimento, os rebeldes, com o apoio de
algumas tropas militares baianas, tomaram o poder na capital da província e
proclamaram a República.
Porém, no ano seguinte, os rebeldes foram cercados
e atacados em Salvador pelas tropas fiéis ao governo e apoiadas pelos latifundiários
baianos.
A repressão foi violenta. Verdadeiros atos de
crueldade foram cometidos pelos soldados, que chegaram a jogar prisioneiros
vivos em casas incendiadas.
Francisco
Sabino, foi preso e desterrado para o Mato Grosso, onde
faleceu posteriormente.
SABINADA
A Sabinada, diferentemente da Cabanagem, foi uma
rebelião de elementos da camada média urbana de Salvador e que não contou com a
participação da massa pobre e com o apoio da aristocracia latifundiária.
Os organizadores do movimento, entre os quais, se
destacou o médico Francisco Sabino da
Rocha Viera (daí o nome Sabinada), acreditavam que somente a luta armada
para derrotar o governo regencial possibilitaria a solução dos problemas
econômicos do país.
Organizado o movimento, os rebeldes, com o apoio de
algumas tropas militares baianas, tomaram o poder na capital da província e
proclamaram a República.
Porém, no ano seguinte, os rebeldes foram cercados
e atacados em Salvador pelas tropas fiéis ao governo e apoiadas pelos
latifundiários baianos.
A repressão foi violenta. Verdadeiros atos de
crueldade foram cometidos pelos soldados, que chegaram a jogar prisioneiros
vivos em casas incendiadas.
Francisco
Sabino, foi preso e desterrado para o Mato Grosso, onde
faleceu posteriormente.
SABINADA
O Período regencial é visto tradicionalmente como
um período de crise, tendo de um lado a elite moderada do sudeste pretendendo
consolidar seu modelo de independência, e de outro, as elites regionais e as
camadas populares contestando a centralização, com projetos variados, ou até mesmo
sem um projeto político definido. Nesse quadro encaixa-se a SABINADA, ocorrida
na Bahia entre 1837 e 38.
O texto que se segue, de Júlio José Chiavenato,
procura explicar esse movimento de contestação, comparando-o inclusive com
outros movimentos da época.
O MOVIMENTO
A independência oficial do Brasil, prevalecendo
sobre a libertação sonhada pelos patriotas - para usar uma palavra em voga na
época - frustrou grande parte da população. A independência oficial sedimentou
uma estrutura econômica e política herdada da Colônia, pouco alterando a
situação das massas e, por adotar um centralismo autoritário, pressionava
também o sistema político nas províncias.
A oportunidade perdida de democratizar a prática
política, de um lado, e a insistência em manter inalterado o instituto da
escravidão, de outro, praticamente fizeram aflorar todo o anacronismo do Estado
brasileiro, provocando várias reações. Entre elas a Sabinada, na Bahia, e a
Farroupilha, no Rio Grande do Sul.
Os Sabinos, mesmo manifestando fidelidade
monárquica, proclamaram uma república provisória. Marcavam seu desejo de
separação do governo central respeitando o rei-menino, como demonstra seu
programa, proclamado quando tomam Salvador em 7 de novembro de 1837:
"A Bahia fica desde já separada, e independente
da Corte do Rio de Janeiro, e do Governo Central, a quem desde já desconhece, e
protesta não obedecer nem a outra qualquer Autoridade ou ordens dali emanadas,
enquanto durar somente, a menoridade do Sr. Dom Pedro II."
Apesar da aparente participação popular na
Sabinada, prevalecia entre os revoltosos a classe média. Foi a insurreição mais
discutida da história do Brasil, enquanto se processava. Curiosamente, apesar
de tanta discussão nos inúmeros jornais baianos da época, hoje é geralmente
desprezada pelos historiadores.
Há pontos em comum entre os Sabinos e os farrapos.
O líder farroupilha Bento Gonçalves esteve preso em Salvador, onde influiu
sobre o ânimo dos baianos. Ao contrário dos gaúchos, porém, os baianos agiram
menos e falaram mais.
Esta constatação não diminui os Sabinos: marca o
tom das duas revoltas. Identificavam-se principalmente com o anti centralismo imperial: os Sabinos, mais retoricamente
ideológicos, e os farrapos, mais pragmáticos.
É sintomático que, um dos motivos imediatos da
eclosão do movimento baiano seja a fuga de Bento Gonçalves da cadeia,
facilitada por seus companheiros de idéias em Salvador. É que o líder baiano, o
médico Francisco Sabino Álvares da Rocha
Vieira, que deu o nome à insurreição, cumprira pena no Rio Grande do Sul:
um degredo por assassinar o político conservador Ribeiro Moreira, em 1834. No
Rio Grande, Sabino conviveu com as idéias farroupilhas e ficou amigo de Bento
Gonçalves, que, por sua vez, seguiu preso para a Bahia em 1837.
Só em 1836 é que Sabino voltara à Bahia. Se as
idéias se assemelham, a prática é outra. Os baianos são letrados e propagam seu
ideário pelos jornais. Tentam convencer o povo da justiça de sua causa. E
lutam, pode-se dizer, com uma elegância revolucionária clássica - se isso
existe... Os gaúchos falam para justificar suas ações, as palavras pouco têm
que ver com a realidade e, na guerra, desprezam tudo o que impede a vitória.
Paradoxalmente, são os gaúchos que conseguem mais
povo na sua guerra: talvez pela visão senhorial da sociedade, encarando os
pobres, especialmente os negros escravos, como massa de manobra a quem não
devem explicações e obrigam a seguir seus donos.
A Sabinada obtém a vitória em 7 de novembro de
1837, com a adesão de parte das tropas do governo. As autoridades imperiais
fogem de Salvador e é proclamada a república. Os Sabinos não conseguem, porém,
convencer o interior da Bahia, especialmente o Recôncavo, a aderir ao
movimento. São os grandes senhores do Recôncavo que ajudam o governo imperial a
sufocar a insurreição.
O Império contra-ataca e vence, em 15 de março de
1838. O comandante Crisóstomo Calado excede-se na repressão, deixando mais de
mil mortos e três mil feridos. Incendeia Salvador e joga nas casas em fogo os
defensores da república baiana. Muitas vezes armavam fogueiras para queimar
vivos os vencidos. Os que escapam com vida são julgados pelos grandes senhores
rurais, os júris de sangue.
Se gente do povo é queimada, só três dos líderes foram
condenados a morte. Mas ninguém é executado: o próprio Sabino tem a pena comutada para degredo interno e morre
pacificamente em Mato Grosso.
Para alguns historiadores parece estranho que um
movimento como a Sabinada, que não chegou a apresentar o perigo de autonomia
popular como a Cabanagem, por exemplo, tenha merecido tão violenta repressão.
Bem mais violenta que a dedicada aos farrapos, que ameaçaram mais gravemente a
coesão do Império.
Porém, se na Sabinada não houve a mesma
participação popular da Cabanagem, nem o vigor da Farroupilha, ela foi muito
mais nítida ideologicamente. As idéias que a nortearam, quase todas da
Revolução Francesa, eram veiculadas nos jornais por intelectuais competentes,
dentro de uma tradição retórica que ensaiava impor-se na práxis política. Com
os farrapos era possível um acordo - Porongos à parte, como veremos - mas com
os Sabinos era diferente: eles tinham convicção ideológica.
Talvez a "vingança" se explique pela
perda de controle dos líderes sobre os setores mais "franceses" da
insurreição. No decorrer da luta surgiram correntes agredindo a aristocracia,
divulgando na imprensa suas perigosas idéias. Estas idéias são bem marcadas num
dos hinos publicados:
Defende o altar e o trono,
Derruba a aristocracia
Porém essa confusão ideológica - altar e trono sem
aristocracia - não significa ascensão do povo. É uma reação contra o apoio que
a aristocracia baiana dá ao Império, fornecendo gente para sufocar a rebelião.
Nem por isso deixou de assustar as classes dominantes, que agiram para
"cortar o mal pela raiz".
Mais uma vez a história repete-se como tragédia:
uma lição do poder, com sua pedagogia do terror, para que seu núcleo ideológico
não seja posto em questão.
Os fatos, às vezes, são menos importantes que sua
interpretação - como ousadamente propôs Edward Carr, em um dos seus ensaios
sobre histórias. As idéias permanecem; os fatos podem ser sepultados em
documentos... que pouco dizem, se não são severamente interrogados, como ensina
o historiador Marc Bloch.
Será que por falarem melhor do que agem, os Sabinos
deixam uma lição mais profícua ao povo?
Será isto que o Império, melhor que os
historiadores entendeu?
SABINADA
No Rio Grande do Sul a Revolução Farroupilha
atingia a sua fase áurea e no Pará ainda resistiam núcleos cabanos. Estas duas
se constituíram nas mais duradouras revoltas do período regencial e os maiores
desafios à pacificação e com possibilidades de envolvimento externo. No norte
com França, no Amapá e ,no Sul com as repúblicas do Uruguai e Argentina no Rio
Grande do Sul .
Na Corte, o Parlamento e Regência se degladiavam!
Nos meios intelectuais do Brasil incidiam várias doutrinas mal assimiladas,
cujos defensores teoricamente se extremavam em defendê-las e colocá-las em
prática, sem levar em conta a viabilidade prática das mesmas, num país gigante
que ensaiava seus primeiros passos, independente.
Uns defendiam as idéias em moda da Revolução
Francesa e outras do federalismo americano.E as lojas maçônicas eram o fórum de
debates destas idéias, inclusive de defesa do modelo de monarquia
constitucional inglesa.
E na Bahia todas estas idéias estavam em debates em
jornais, os quais de 1831-1837 foram editados em número de 60 .
Mas nesta babel de idéias em debate, havia um consenso
- a necessidade de uma revolução.
Consenso de conservadores exaltados, de
federalistas vencidos em 1832 e 1834, de desiludidos com o Ato Adicional à
Constituição e de republicanos desesperançados com a não adoção da República do
Brasil ,com a consagração do Império ou Monarquia em 1822 e a sua preservação
em 7 de abril de 1831, com a atuação prudente do Exército sob a liderança do
brigadeiro Francisco Lima e Silva e seus familiares militares, onde se incluía
o seu filho cap Luis Alves de Lima e Silva, o nosso futuro Duque de Caxias
Isto, por verem que a Monarquia só teria chance de
vingar com a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho Pedro, menor de
idade.Tese que vigorou para a felicidade do Brasil ,na época ,por ser um penhor
da Unidade Nacional.
A prisão do líder farrapo general Bento Gonçalves
da Silva no Forte do Mar, em Salvador, muito animou os baianos que inclusive
tramaram sua exitosa fuga com apoio da Maçonaria.
E foi dentro deste clima que seria tentada a
revolução baiana,congregando entre suas lideranças civis e militares do
Exército.
Estes como os que aderiram em massa à Revolução
Farroupilha possuíam sérias reservas pelas atitudes erradicadoras do Exército
levadas a efeito por lideranças parlamentares que pretenderam, sob o belo
argumento de destinar o Exército à defesa do litoral e das fronteiras ,lá
colocá-lo em realidade com efetivos reduzidíssimos .
Esta circunstância tem sido omitida por razões
várias. E crê-se hoje que Caxias as entendeu muito bem e procurou administrá-la
dentro do que era possível nas suas circunstâncias da época.
Desenvolvimento da Sabinada
Em 7 nov1837 o líder revolucionário baiano -o
médico Dr. Francisco Sabino A. da Rocha
Vieira, acompanhado de 4 companheiros dirigiram-se a Forte São Pedro.
Convocaram o corneteiro do forte e o mandaram executar o toque "Chamada
Ligeira" que era a senha para ter início a revolução.
E em seguida tomaram o forte com apoio da guarnição
deste. E deram a organização possível ao dispositivo militar revolucionário.
Na esteira dos batalhões revoltados, populares a
eles se reuniram na Praça do Palácio. Divergências entre o Presidente, e o
Comandante das Armas e o Chefe de Polícia da Bahia imobilizaram a reação do
governo.
Em reunião na Câmara de Vereadores os
revolucionários decidiram:
"A Bahia fica inteira e perfeitamente
desligada do governo denominado Central do Rio de Janeiro e considerado estado
independente."
O presidente legal refugiou-se num navio e
renunciou dando parte de doente.
O dr Sabino era um médico pobre, mas por
humanitário, era muito querido dos pobres, infelizes e oprimidos. Era fiel ao
juramento de Hipócrates, parece que uma característica ética da medicina baiana
da época.
Em realidade parece ter sido ele a alma e o cérebro
da revolução que tomou seu nome - A Sabinada.
A reação à Sabinada começou no Recôncavo Baiano. O
Chefe de Polícia Gonçalves Martins foi o líder da contra-revolução, conseguindo
que ela ficasse circunscrita a Salvador sem ganhar o interior baiano.
A primeira medida militar da Regência foi submeter
Salvador a rigoroso sítio terrestre e naval pela Marinha e Exército.
Sítio ou bloqueio que na parte naval era vez por
outra quebrado por navios estrangeiros, por interesses comerciais. Nem os revolucionários
saiam de Salvador, nem estes deixavam ali entrar as forças legais,
Foi nomeado para conduzir as operações contra os
revolucionários o Gen. João Crisóstomo Calado, veterano da Batalha do Passo do Rosário
em 20 de fev 1827, onde tivera papel saliente no comando de uma Divisão de
Infantaria da Esquerda, tendo enfrentado os seus cunhados uruguaios- os irmãos
Inácio e Manuel Oribe. Personagem estudado por seu parente:
FRANCO, Afonso Arinos de M. Um soldado do Reino e
do Império. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1942.
Em 23 de jan 1838, ele assumiu o Comando das Armas
da Bahia, em Pirajá, tendo encontrado a tropa em lastimável estado. E levou 50 dias
para colocá-la em pé de guerra para investir Salvador.
Os revolucionários Sabinos eram fracos no mar, mas
em terra possuíam expressivos efetivos, cuja força fora potencializada por
escudar-se em trincheiras e em fortes.
Em 13 mar 1838, pela manhã, o general Calado
investiu Salvador com 3 brigadas do Exército, formando cada, uma coluna, e com
mais o reforço de uma brigada pernambucana de 2a linha .A esta caberia em Bate
Folha romper o fogo e dar início ao assalto das trincheiras revolucionárias.
A Brigada do Centro, ao comando do Ten. Cel. Argolo
Ferrão, (baiano que construiria a Estrada do Chaco no Paraguai), em disputado e
sangrento confronto atingiu a região de Sítio do Resgate
.A Brigada da direita ao comando do Cel. Correia
Seara avançou até a região de São Caetano.
A brigada da esquerda do Ten. Cel. Sepúlveda
atingiu a região de São Lourenço.
A luta prosseguiu durante todo o dia 14 de março,
com violência. Os revolucionários começaram a atear fogo em casas. Para prevenir
o incêndio da área comercial para lá o Gen. Calado destacou uma brigada.
Em 15 mar de 1838, o Gen. Calado progrediu com seu
Exército na direção do principal objetivo militar e político da contra
revolução - o Forte de São Pedro.
Ao defrontar-se com o Forte São Pedro os
revolucionários propuseram-lhe anistia para todos.
E Calado envia-lhes por escrito a seguinte resposta
lacônica mas determinada:
"Ao general do Exército Brasileiro com forças
sobre o Forte de São Pedro só convém que a guarnição rebelde se entregue a
descrição ( rendição incondicional).Campo do Forte de São Pedro,15 de março
1838,as 6 horas da tarde ."
Em seguida renderam-se os revoltosos do Forte do
Mar de onde Bento Gonçalves havia fugido para assumir a Presidência da
República Riograndense
O general Bento Gonçalves da Silva, esteve preso no
Forte do Mar por 13 dias , desde o final de agosto até 10 nov 1837 ,data de sua
fuga espetacular e assim desvendada por Pedro Calmon e aqui sintetizada:
Do Forte do Mar, Bento Gonçalves foi levado para a
ilha de Itaparica. Ali foi embarcado num navio que transportava farinha de
trigo destinada a Pelotas e Montevidéu. Foi desembarcado em Florianópolis. Dali
,a cavalo ,seguiu em companhia do catarinense Mateus. Em 3 de nov atingiu
Torres e em 10 de nov atingiu Viamão, Quartel General do sítio terrestre de
Porto Alegre ao comando do Cel. Onofre Pires, com quem duelaria mais tarde por
questões de honra e o feriria de morte com sua espada albana.
Havia decorrido 1 ano e sete meses de sua prisão na
ilha do Fanfa ,no rio Jacuí e 2 meses de sua fuga do Forte do Mar.
Síntese biográfica do líder farrapo na obra nossa
citada O Exército farrapo e os seus chefes.Rio de Janeiro : BIBLIEX,1992.v.1.
Ela esclarece mais o episódio, bem como a figura do
chefe baiano Tem. Cel. Francisco José da Rocha que participou de sua libertação
o qual o líder farrapo acolheria no Rio Grande, finda a Sabinada, fazendo-o
comandante de um batalhão de Infantaria farrapo e a mais alta autoridade
maçônica no Rio Grande
.Por isto ele elevaria a grau compatível o Gen.
Canabarro para que este pudesse assumir o comando do Exército farrapo ao final.
Bento Gonçalves chegou na Bahia "com ar seco,
aspecto melancólico e sisudo" segundo o Jornal local.Mas sua breve
permanência serviu para motivar a Sabinada.
As duas prisões em que o prenderam eram insalubres
e desconfortáveis conforme se conclui de carta de sua lavra:
"Pedia 3 camisas por estarem as suas em
frangalhos,um capote por sentir frio a noite,pois só tinha um lençol para
cobrir-se e , um par de tamancos para poder passear na masmorra em que estava
preso que é toda uma lagoa cheia de imundície e de péssimo cheiro."
A Bahia foi restaurada à Regência e pacificada na
noite de 15 de mar de 1838.
As perdas revolucionárias mencionadas por algumas
fontes se elevaram a morte de 1258, segundo os sepultamentos efetuados e a 160
casas incendiadas e a prisão de 2.298 revolucionários republicanos.
O Dr Sabino
buscou proteção na casa do cônsul francêz. Submetidos a julgamento, muitos
revolucionários foram condenados à morte. Foram interpostos sucessivos recursos
até o derradeiro ao Superior Tribunal de Justiça. Antes que este fosse decidido
ocorreu a Maioridade de D. Pedro II que concedeu clemência aos republicanos
baianos e estendeu a anistia a todos os delitos políticos.
Líderes revolucionários foram anistiados e
confinados longe de grandes centros.
E assim terminava mais uma tentativa republicana e
com ela a preservação a Unidade e Integridade do jovem Brasil em seus primeiros
e dificultosos passos na Comunidade das Nações.
O futuro Duque de Caxias continuava a fazer a
segurança do Governo Central e a Segurança Pública da capital do Império e com
medidas preventivas desestimulando novas aventuras insensatas que marcaram no
Rio os primeiros tempos da Regência.
E pacificada a Bahia, dentro em breve seus serviços
seriam reclamados para pacificar a Balaiada no Maranhão, uma espécie de versão
maranhense da Cabanagem como se verá.
SABINADA
A PROVÍNCIA DO
GRÃO-PARÁ ENTRE 1835 - 1840
A Cabanagem, movimento que ocorreu na província do Grão-Pará, entre os
anos de 1835 e 1840, pode ser vista como um prosseguimento da Guerra da
Independência na região.
Desde a emancipação política, em 1822, a Província do Grão-Pará, vivia
um clima agitado. Isolada do resto do país, era a parte mais ligada a Portugal.
Declarada a Independência, a Província só foi reconhecê-la em agosto de 1823. A
adesão ao governo de D. Pedro I foi penosa e violentamente imposta.
Administrada por Juntas governativas que se apoiavam nas Cortes de Lisboa, os
habitantes da Província já estavam acostumados a ver todos os cargos públicos e
recursos econômicos nas mãos dos portugueses.
A Independência não provocara mudanças na estrutura econômica nem
modificara as péssimas condições em que vivia a maior parte da população da
região, formada por índios destribalizados, chamados de tapuios, índios
aldeados, negros forros e escravos e mestiços. Dispersos pelo interior e nos
arredores de Belém, viviam marginalizados em condições miseráveis, amontoados
em cabanas à beira dos rios e igarapés e nas inúmeras ilhas do estuário do rio
Amazonas. Essa população conhecida como "cabanos", era usada como
mão-de-obra, em regime de semi-escravidão, pela economia da Província, baseada
na exploração das "drogas do sertão" (cravo, pimenta, plantas
medicinais, baunilha), na extração de madeiras, e na pesca.
Desde a Guerra da Independência, quando mercenários comandados pelo Lord
Almirante Grenfell, destituíram a Junta que governava a Província, o povo
exigia a formação de um governo popular chefiado pelo cônego João Batista
Gonçalves Campos. No entanto, Grenfell, que recebera ordens para entregar o
Governo a homens da confiança do Imperador, desencadeou violenta repressão,
fuzilando e prendendo muitas pessoas. O episódio ocorrido a bordo do brigue
Palhaço, quando cerca de 300 prisioneiros foram sufocados com cal, não
conseguiu implantar a normalidade. Ao contrário os ânimos ficaram ainda mais
exaltados.
A própria Junta que assumiu o governo da Província, em agosto de 1823
confessava: "Sentimos não poder afirmar que a tranqüilidade está
inteiramente restabelecida porque ainda temos a temer, principalmente a gente
de cor, pois que muitos negros e mulatos foram vistos no saque de envolta com
os soldados, e os infelizes que se mataram a bordo do navio, entre outras vozes
sediciosas deram vivas ao Rei Congo, o que faz supor alguma combinação de
soldados e negros".
A situação da Província do Grão-Pará era, portanto, favorável ao
surgimento de movimentos que expressavam a luta de uma maioria de índios,
mestiços e escravos, contra uma minoria branca formada, principalmente, por
comerciantes portugueses. Essa minoria concentrava-se em Belém, cidade que na
época abrigava cerca de, 12 mil moradores dos quase 100 mil que habitaram o
Grão-Pará. Entre 1822 e 1835 a Província passou por momentos de
intranqüilidade. No interior e na capital ocorreu uma série de levantes
populares, que contaram com a adesão dos soldados da tropa, descontentes com o
baixo soldo, com o poder central e com as autoridades locais.
A REVOLTA DOS CABANOS
A abdicação de D. Pedro I teve reflexos violentos no Grão - Pará. Sob a
liderança do cônego Batista Campos, os cabanos depuseram uma série de
governantes nomeados pelo Rio de Janeiro para a Província. Além disso, exigiam
melhores condições materiais e a expulsão dos portugueses, vistos como os
responsáveis pela miséria em que viviam. Em dezembro de 1833, o Governo da
Regência Trina Permanente conseguiu retomar o controle da situação, e Bernardo
Lobo de Sousa assumiu o governo da Província.
Segundo o historiador Caio Prado Júnior, "é neste governo que
propriamente se inicia a revolta dos cabanos." Logo após ser empossado,
Lobo de Sousa iniciou uma violenta política repressiva. Perseguiu, efetuou
prisões arbitrárias e deportações em massa. No entanto, foi o recrutamento para
o Exército e a Armada imperiais, medida extremamente impopular, que precipitou
uma rebelião generalizada. O recrutamento permitiu que fossem afastados os
elementos considerados "incômodos" ao governo da Província. Para
Domingos Antonio Raiol, contemporâneo dos acontecimentos, a política de Lobo de
Sousa conseguiu eliminar aqueles que "eram conhecidos por suas doutrinas
subversivas, que pregavam e inoculavam no seio da população e que ameaçavam a
ordem pública pela influência perigosa que exerciam entre as massas."
As atitudes de Lobo de Sousa aumentaram a agitação e o descontentamento
da população. A revolta se alastrou pelo interior da Província. Os cabanos
receberam o apoio dos irmãos Antônio e Francisco Vinagre, lavradores do rio
Itapicuru do seringueiro Eduardo Nogueira Angelim, e do jornalista do Maranhão
Vicente Ferreira Lavor, que, através do periódico A Sentinela, propagava as
idéias revolucionárias. À medida que o movimento avançava, os revoltosos se
dividiam: a ameaça de radicalização fez com que muitos se retirassem temendo a
violência das massas populares, enquanto outros, como o cônego Batista Campos,
esperavam obter as reformas que defendiam na recém-criada Assembléia
Legislativa Provincial. A partir daí a elite que liderara a revolta recuou e os
cabanos assumiram o controle.
Em janeiro de 1835, dominaram Belém, executando o governador Lobo de
Sousa e outras autoridades. O primeiro governo cabano foi entregue ao
fazendeiro Félix Antonio Malcher, que, com medo da violência das camadas mais
pobres da população, entrou em choque com os outros líderes perseguindo os
elementos mais radicais. Chegou a mandar prender e deportar Angelim e Francisco
Vinagre. Além disso, manifestou a intenção de manter a Província ligada ao
Império, ao jurar fidelidade ao Imperador, afirmando que só ficaria no poder
até à maioridade. Esse juramento ia de encontro ao único ponto que unia os
revoltosos: a rejeição à política centralizadora do Rio de Janeiro, vista como
preservadora dos privilégios dos portugueses. Malcher acabou sendo deposto e
executado.
Francisco Vinagre foi escolhido para o segundo governo cabano. No
entanto não foi capaz de resolver as divergências entre os revoltosos, e foi
acusado de traição por ter feito um acordo com as tropas legalistas enviadas
pelo Rio de Janeiro.
Vinagre ajudou as tropas e navios sob o comando do Almirante inglês
Taylor, e prometeu entregar a presidência da Província a quem fosse indicado
pelo Governo Regencial. As forças regenciais retomaram Belém.
Os cabanos, vencidos na capital, retiraram-se para o interior. Aos
poucos foram tomando conta da Província. Profundos conhecedores da terra e dos
rios infiltraram-se nas vilas e povoados, conseguindo a adesão das camadas mais
humildes da população. Liderados por Vinagre e Angelim, reforçaram suas tropas
e retomaram Belém, após nove dias de lutas violentas. Com a morte de Antônio,
Eduardo Angelim foi escolhido para o terceiro governo cabano que durou dez
meses. Angelim era um cearense de apenas 21 anos que migrara para o Grão- Pará
após uma grande seca ocorrida no Ceará, em 1827.
No entanto, os cabanos, durante todo o longo período de lutas, não souberam
organizar-se com eficiência. Abalados por dissidências internas, pela
indefinição de um programa de governo, sofreram ainda uma epidemia de varíola,
que assolou por longo tempo a capital.
A REPRESSÃO DA
REGÊNCIA
O regente Feijó decidiu restabelecer a ordem na Província. Em abril de
1836 mandou ao Grão-Pará uma poderosa esquadra comandada pelo brigadeiro
Francisco José Soares de Andréia, que conseguiu retomar a capital. Havia na
cidade quase unicamente mulheres. No dizer de Raiol, "a cidade despovoada
apresentava por toda parte um aspecto sombrio e contristador".
Os cabanos abandonaram outra vez Belém e retiraram-se para o interior,
onde resistiram por mais três anos. A situação da Província só foi controlada
pelas tropas do Governo Central em 1840. A repressão foi violenta e brutal.
Incapazes de oferecer resistência, os rebeldes foram esmagados. Ao findar o
movimento, dos quase 100 mil habitantes do Grão-Pará, cerca de 30mil, 30% da
população, haviam morrido em incidentes criminosos e promovidos por mercenários
e pelas tropas governamentais.
Chegava ao fim a Cabanagem que, segundo o historiador Caio Prado Júnior,
"foi o mais notável movimento popular do Brasil... o único em que as
camadas mais inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma
província com certa estabilidade. Apesar de sua desorientação, da falta de
continuidade que o caracteriza, fica-lhe contudo a glória de ter sido a
primeira insurreição popular que passou da simples agitação para uma tomada
efetiva de poder."
Mas a Cabanagem não foi um fato isolado. Vários outros movimentos
ocorreram durante o Período Regencial, levando Feijó a chamá-los de "o
vulcão da anarquia".
A BALAIADA
A PROVÍNCIA DO MARANHÃO ENTRE
1838 - 1841
Entre os anos de 1838 e 1841, a Província do Maranhão foi abalada por
vários levantes que atingiram também a vizinha Província do Piauí. Esses
levantes receberam o nome geral de Balaiada porque um dos seus líderes, Manuel
Francisco dos Anjos, fabricante e vendedor de balaios, era conhecido pelo
apelido de "Balaio ".
Na época, a população total do Maranhão era de aproximadamente 200 mil
habitantes, dos quais 90 mil eram escravos, além de uma grande massa de
trabalhadores formada por sertanejos ligados à atividade pastoril e à lavoura.
Nesse momento, o Maranhão enfrentava a crise da economia algodoeira. Após a
Guerra da Independência dos Estados Unidos da América, o algodão, principal
produto de exportação da Província, passou a sofrer a concorrência do algodão
norte-americano que voltara a dominar o mercado internacional.
Na Província do Maranhão, como na do Grão-Pará, o reconhecimento da
Independência não se fizera de modo pacífico. Ao contrário, provocara conflitos
entre colonos e portugueses, possibilitando que a massa de trabalhadores,
formada pelas camadas mais pobres da população, pegasse em armas nas lutas
então travadas. No entanto, apesar da Independência, a realidade dessas massas
não se modificara. Continuavam marginalizadas e afastadas do poder político e
econômico.
A REVOLTA DOS
BALAIOS
Durante o Período
Regencial a situação continuou tensa. A política da Província era marcada por
disputas entre os bem-te-vis, que se opunham aos governistas, chamados
pejorativamente de cabanos. A Balaiada começou a partir dos choques entre esses
dois grupos, mas em pouco tempo ganhou autonomia, tornando-se um movimento das
massas sertanejas.
Segundo Caio Prado
Júnior, "na origem deste levante, vamos encontrar as mesmas causas que
indicamos para as demais insurreições da época: a luta das classes médias,
especialmente urbana, contra a política aristocrática e oligárquica das classes
abastadas, grandes proprietários rurais, senhores de engenho e fazendeiros, que
se implantara no país."
O grupo bem-te-vi,
nome tirado do jornal O Bem-te-vi, representava a população urbana que se
opunha aos abusos dos proprietários de terras e aos comerciantes portugueses.
Os conflitos entre bem-te-vis e cabanos agravaram-se após a votação da chamada
"lei dos prefeitos", .pela qual os governantes locais, os prefeitos,
passaram a ter poderes imensos, inclusive o de autoridade policial. Os cabanos,
que estavam no poder, conseguiram maior controle da Província, nomeando seus
partidários para o cargo de prefeitos, o que redundou em perseguição aberta aos
bem-te-vis.
No Maranhão a
insatisfação social era grande. Negros e mestiços constituíam a maior parte da
população. Como aponta o historiador Arthur César Ferreira Reis, "Milhares
de negros que fugiam aos maus tratos dos senhores aquilombavam-se nas matas, de
onde saíam para surtidas rápidas e violentas sobre propriedades agrárias."
O movimento logo escapou do controle das camadas dominantes, transformando-se
num levante dos setores mais humildes da Província.
O fato que costuma
marcar o início da revolta ocorreu em dezembro de 1838, quando o vaqueiro
Raimundo Gomes, um mestiço, conhecido como Cara Preta passava pela Vila da
Manga, levando uma boiada de seu patrão para vender em outro local. Na ocasião
muitos dos homens que o acompanhavam foram recrutados e seu irmão aprisionado
sob a acusação de assassinato. O recrutamento obrigatório, uma das armas de que
o Governo dispunha para controlar a população, sempre foi muito impopular,
visto que recaía basicamente sobre os menos favorecidos, obrigados a qualquer
momento a servir nas forças policiais ou militares. Raimundo invadiu a cadeia
libertando não só seu irmão como os outros presos. A guarda não reagiu. Ao
contrário, aderiu.
A partir daí o
movimento ampliou-se. A luta generalizou-se por toda a Província. Por onde
passava, Raimundo ia conseguindo que mais gente o seguisse, inclusive os
escravos negros, que formaram quilombos, dos quais o mais importante foi o
comandado pelo negro Cosme. À frente de 3 mil escravos rebelados, Cosme, um
antigo escravo, que se intitulava "Imperador, Tutor e Defensor das
Liberdades Bem-te-vis", vendia títulos e honrarias a seus seguidores.
Em 1839, os
balaios tomaram a Vila de Caxias, "a segunda cidade da Província em
importância". Pelas ruas da Vila ouvia-se:
"O Balaio
chegou!
O Balaio chegou.
Cadê branco!
Não há mais
branco!
Não há mais
sinhô!"
Os rebeldes
organizaram-se em um Conselho Militar e formaram uma Junta Provisória, com a
participação de elementos bem-te-vis da cidade. Uma delegação foi enviada à
capital, São Luís, para entregar ao presidente da Província as propostas para a
pacificação: anistia para os revoltosos, revogação da "lei dos
prefeitos", pagamento das forças rebeldes, expulsão dos portugueses natos
e diminuição de direitos aos naturalizados e instauração de processo regular
para os presos existentes nas cadeias.
No entanto, o
movimento, apesar de ter atingido a parte mais importante da Província,
chegando mesmo a ameaçar São Luís, entrou em rápido declínio. Sem unidade, com
muitas divergências entre seus chefes, sofreu ainda o afastamento dos bem-te-vis,
que após tentarem tirar vantagens do movimento, dele se afastaram, aderindo à
reação, com medo da radicalização das camadas mais pobres da população, que
assumiram a liderança da revolta.
Não aceitando as
exigências dos balaios, o Governo provincial solicitou ajuda ao Rio de Janeiro.
Em 1840, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva, futuro Barão de Caxias, é
nomeado para a presidência da Província, acumulando o comando das armas. À
frente de 8 mil homens, e aproveitando-se habilmente das rivalidades entre os
líderes balaios, Caxias em pouco tempo sufocou o movimento. No ano seguinte, em
1841, um decreto imperial concedeu anistia aos revoltosos sobreviventes. Ao
entregar o Governo do Maranhão a seu substituto, em 13 de maio de 1841, Caxias
dizia: "Não existe hoje um só grupo de rebeldes armados, todos os chefes
foram mortos, presos ou enviados para fora da Província..."
A repressão à
Balaiada marcou o início da chamada "política da pacificação", pela
qual Caxias sufocou as agitações que ocorreram durante o Império.
A SABINADA
Entre 1831 e 1833,
movimentos de caráter federalista eclodiram em alguns pontos da Província da
Bahia. Esses movimentos expressavam o descontentamento não só em relação à
política centralizadora do Rio de Janeiro, mas também um forte sentimento
antilusitano, originado do fato de os portugueses controlarem quase que
totalmente o comércio varejista , ocupando ainda cargos políticos, militares e
administrativos.
Nos primeiros
meses de 1831 manifestações contra os portugueses, considerados
"inimigos" do povo, reivindicavam que fossem tomadas contra eles
medidas que iam desde a deportação, até a proibição de andar armados, a
demissão dos que exercessem emprego civil ou militar, e a extinção das pensões
concedidas por D. João VI ou D. Pedro I.
A notícia da
abdicação, em 7 de abril, fez com que os ânimos se acalmassem. Segundo o
historiador Wanderley Pinho, "o Governo promoveu festas e proclamou ao
povo (23 de abril), procurando esfriar o ardor antiportuguês da massa popular,
ao lembrar ser o novo Imperador príncipe brasileiro de nascimento."
Mas logo novas
manifestações ocorreram. Além dos pronunciamentos que pregavam o
antilusitanismo, a indisciplina militar, a destituição de oficiais portugueses,
a partir de outubro de 1831 passava-se a aclamar "a Federação".
Iniciava-se a crise federalista.
Em 1833, o
descontentamento em relação à política centralizadora do Rio de Janeiro podia
ser percebido no ódio que os federalistas, defensores da autonomia provincial,
devotavam a D. Pedro I e aos portugueses. No dizer de Wanderley Pinho, o
sentimento contra os portugueses, a principiar por D. Pedro I, estava presente
nos pronunciamentos e nos programas dos federalistas: "O ex-imperador,
tirano do Brasil, será fuzilado em qualquer parte desta Província se acaso
aparecer, e a mesma pena terão os que o pretenderem defender e admitir...
...todo cidadão brasileiro fica autorizado a matar o tirano ex-imperador D.
Pedro I, como maior inimigo do Povo Brasileiro..."
Em 1837, com a
renúncia do Regente Feijó, considerado incapaz de conter os movimentos contra o
Governo Central, a insatisfação recrudesceu principalmente entre os militares e
maçons da Província baiana. Todo o processo de instabilidade por que passava a
Bahia, culminou com o início da Sabinada, revolta liderada pelo médico
Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Ao contrário de outros movimentos do
Período Regencial, não mobilizou as camadas menos favorecidas e nem conseguiu a
adesão das elites da Província, sobretudo os grandes proprietários de escravos
e de terras do Recôncavo.
A Sabinada contou
com a participação dos representantes das camadas médias da população, que
desejavam manter a autonomia provincial conseguida com o Ato Adicional de 1834,
e que, sob a Regência Una de Araújo Lima, via-se ameaçada pela Lei
Interpretativa que retirava as liberdades concedidas anteriormente aos governos
provinciais. A revolta foi precedida por uma campanha desencadeada através de
artigos publicados na imprensa, de panfletos distribuídos nas ruas, e de
reuniões em associações secretas como a maçonaria.
O estopim da
rebelião foi a fuga de Bento Gonçalves, chefe da Farroupilha, do Forte do Mar,
atual Forte São Marcelo em Salvador, onde estava preso. Em novembro de 1837, os
militares do Forte de São Pedro rebelaram-se, conseguindo a adesão de outros
batalhões das tropas do Governo. Sob a liderança de Francisco Sabino e de João
Carneiro da Silva Rego, os Sabinos, como ficaram conhecidos os revoltosos por
causa do nome de seu líder principal, conseguiram controlar a cidade de
Salvador, por quase quatro meses. O presidente da Província e outras
autoridades, ao perceberem que não possuíam mais poder sobre as tropas,
fugiram. Os Sabinos proclamaram uma República, que deveria durar até que D.
Pedro de Alcântara, o príncipe herdeiro, assumisse o trono brasileiro.
No entanto, a
Sabinada ficou isolada em Salvador. Os revoltosos não conseguiram expandir o
movimento, pois não possuíam o apoio de outras camadas da população. A
repressão veio logo: no início de 1838, tropas regenciais chegaram à Bahia.
Após o bloqueio terrestre e marítimo de Salvador, as forças do Governo
invadiram e incendiaram a cidade, obrigando os rebeldes a saírem de seus esconderijos.
Ajudadas pelos proprietários do Recôncavo, as tropas massacraram os sabinos. Os
que escaparam foram severamente punidos por um tribunal que, por sua grande
crueldade, ficou conhecido como "júri de sangue".
Fonte:
www.multirio.rj.gov.br
SABINADA
A Sabinada foi uma revolta autonomista que teve inicio em 7
de novembro de 1837 na então Província da Bahia.
A tradição de lutas por autonomia política na Bahia remonta à
Conjuração Baiana (1798), às lutas pela independência entre 1822-23 e à Revolta
dos Malês (1835).
Durante o período regencial (1831-40), diante da renúncia do
Padre Diogo Antônio Feijó e da apresentação da Lei de Interpretação do Ato
Adicional (1837), o clima político brasileiro se tornou mais denso.
Nesse contexto, a classe média da Bahia se articulou através
dos periódicos provinciais, em torno da proposta de um movimento em favor da
separação temporária da Província do restante do império, proclamando uma
república enquanto o imperador D. Pedro de Alcântara não alcançasse a
maioridade.
A revolta teve início com a fuga do líder farroupilha Bento
Gonçalves, que se encontrava detido no Forte do Mar em Salvador. Livre, Bento
Gonçalves incentivou a revolução.
Sob a liderança do médico Francisco Sabino da Rocha Vieira
(donde o nome Sabinada), a revolta conseguiu o apoio de parte das tropas do
governo em Salvador, obrigando à fuga das autoridades e proclamando um governo
republicano, com duração até à maioridade de D. Pedro de Alcântara.
Após dominar alguns quartéis, os rebeldes não conseguiram
ampliar o seu campo de ação, ficando restritos aos limites urbanos. Esse fato
facilitou a repressão por parte do governo imperial, que cercou a capital em
uma operação combinada terrestre e marítima (março de 1838). Cerca de mil
pessoas pereceram combates. Os rebeldes que sobreviveram foram capturados e
julgados por um tribunal composto pelos latifundiários da província. Três dos
líderes foram executados e outros três deportados, entre eles Francisco Sabino
Vieira, que foi confinado na, então remota, Província de Mato Grosso.
Fonte: pt.wikipedia.org
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