"Anão diplomático": 'Israel tentou negar valor da chancelaria brasileira'
Especialista comenta irritação de Israel com a retirada de embaixador brasileiro de Tel Aviv
O especialista em Relações Internacionais e professor de História Severino Cabral comparou a decisão da chancelaria brasileira, que chamou de volta ao país para consultas o embaixador em Tel Aviv, Henrique Sardinha Filho, com 'uma voz mais estridente para trazer à consciência os envolvidos no conflito em Gaza'. Cabral avalia o papel da diplomacia brasileira como muito relevante para Israel, considerando que o atual Estado israelense foi consagrado com a participação decisiva de um brasileiro. Para o historiador, chamar o embaixador foi uma manifestação extrema, mas estratégica para alertar Israel do descontentamento do Brasil quanto às ações ofensivas na região.
O Ministério de Relações Exteriores, ainda na análise de Cabral, pode ter levado em conta para tomar essa medida os longos anos de conflito e que eles podem se estender ainda por muito tempo até se chegar a um acordo de paz. O pesquisador enfoca o importante papel de mediador que o Brasil possui em relação a Israel e as proximidade históricas e culturais entre os países. A população árabe e de palestinos refugiados é numerosa no território brasileiro, o que provoca uma repercussão nacional bem maior nesse caso envolvendo as chancelarias israelense e brasileira. O que justifica o afinco do governo do Brasil junto à comunidade internacional para resolver essa guerra, que é onerosa para todos os povos. "A chancelaria brasileira precisou desse acento mais forte com relação a Gaza", analisou Cabral.
A reação de Israel à retirada do embaixador brasileiro em Tel Aviv foi observada por Cabral como uma tentativa de negar a forte função diplomática do Brasil. "O Brasil sempre teve uma excelente aceitação da comunidade israelense e isso não deve mudar com esse episódio", enfocou o especialista. Cabral diz que o cenário na Faixa de Gaza é tão crítico quando a situação na Ucrânia, o que merece a atenção de toda comunidade internacional, no sentido de busca soluções para um cessar fogo imediato.
Governo brasileiro rebate as críticas de Israel
Na manhã desta quinta-feira (24) o Itamaraty afirmou que não vai se pronunciar quanto ao episódio diplomático entre os países. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, rebateu as provocações de Palmor, afirmando: "Somos um dos 11 países do mundo que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU e temos um histórico de cooperação pela paz e ação pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles", disse o ministro durante um compromisso oficial em São Paulo.
Figueiredo comentou também a afirmação da chancelaria israelense de que a decisão do Brasil ignorou o direito de Israel de se defender. "Mas não contestamos o direito de Israel de se defender, jamais contestamos isso. O que contestamos é a desproporcionalidade das coisas", complementou o ministro, se referindo em seguido ao número de mortos no conflito, principalmente de mulheres e crianças.
A reação irritada de Israel
"Essa é uma demonstração lamentável de por que o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua sendo um anão diplomático". A frase foi dita pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, nesta quinta-feira (24/7), em reação à decisão do Ministério das Relações Exteriores do Brasil de chamar de volta ao país para consultas o embaixador em Tel Aviv, Henrique Sardinha Filho.
O Ministério de Relações Exteriores de Israel foi além nas avaliações e afirmou que a decisão do governo brasileiro não reflete o nível de relacionamento entre os países e ignora o direito de Israel de se defender. Considerou ainda que o procedimento dá respaldo ao terrorismo e deve afetar a capacidade do Brasil de exercer influência. "Israel espera apoio de seus amigos em sua luta contra o Hamas, que é reconhecido como uma organização terrorista por muitos países pelo mundo”, disse nota emitida pela diplomacia israelense.
O governo brasileiro divulgou uma nota na última quarta-feira (23) afirmando que o país considera "inaceitável" o conflito na Faixa de Gaza, condenando "energeticamente" o uso de força por Israel na região, que resultou na morte de um número elevado de vítimas, principalmente mulheres e crianças. No mesmo comunicado oficial, chama para consultas o embaixador brasileiro em Tel-Aviv, Henrique Sardinha. A reação foi quase imediata da chancelaria israelense, forçada no Brasil pela Confederação Israelita, que classificou em nota o posicionamento do Ministério das Relações Exteriores do Brasil como "abordagem unilateral do conflito na Faixa de Gaza, ao criticar Israel e ignorar as ações do grupo terrorista Hamas".
O Brasil foi um dos 29 países que votou a favor de uma investigação da ofensiva israelense na Faixa de Gaza, acompanhando a condenação do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que considera a situação na região muito grave.
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