quinta-feira, 9 de agosto de 2012

'Jeitinho brasileiro me ajudou', diz executivo de missão da Nasa

Por BBC, BBC Brasil, Atualizado: 08/08/2012 16:45

'Jeitinho brasileiro me ajudou', diz executivo de missão da Nasa

'Jeitinho brasileiro me ajudou', diz executivo de missão da Nasa
"Curiosity | Foto: Nasa"
Natural de Guaratinguetá, no interior de São Paulo, e trabalhando na Nasa há quase três décadas, Ramon de Paula, de 59 anos, é um dos três brasileiros envolvidos na missão da agência espacial americana que levou o jipe-robô Curiosity a Marte nesta semana.
Vivendo nos Estados Unidos desde os 17 anos, o engenheiro é um dos executivos nas missões de Marte no quartel-general da Nasa em Washington. Como um dos chefes desses programas, tem entre suas principais atribuições resolver problemas técnicos e burocráticos.
Ele comemorou o sucesso da missão Mars Science Laboratory quando o jipe-robô Curiosity tocou o solo do 'planeta vermelho' na última segunda-feira. 'Foi um alívio, um momento muito, muito emocional', diz De Paula, em entrevista à BBC Brasil.
'Tivemos algumas questões nas últimas três semanas, mas não poderíamos mais adiar a descida', acrescenta. 'Foi uma sensação de dever cumprido, de ter ultrapassado dificuldades e momentos de muita pressão. Foram US$ 2,5 bilhões, a missão para Marte mais cara até hoje.'
O brasileiro celebrou ao lado de mais de mil cientistas, engenheiros e técnicos envolvidos na missão, e disse que o momento de alegria fez valer a pena todo o esforço dos últimos anos. Além dele, mais dois brasileiros integram a missão: Jaqueline Lyra e Nilton Rennó.
'O 'marco' histórico dessa missão só vai ser conhecido daqui a cerca de dois anos, quando os dados científicos começarem a chegar', afirma o engenheiro. 'Mas hoje a chegada do Curiosity a Marte já representa um passo tecnológico muito importante para a humanidade.'
Para ele, que gerencia projetos que envolvem mais de 500 pessoas, o 'jeitinho brasileiro' foi decisivo em sua carreira.
'Ser brasileiro definitivamente me ajudou', afirma. 'Minha função é achar solução para todos os problemas relacionados às missões, e tudo que aprendi no Brasil, aliado à nossa cultura foram fatores decisivos.'
'Meu mantra aqui é: sempre tem um jeito de resolver o problema. Nem todas as culturas têm essa flexibilidade diante de desafios', acrescenta.
De Paula conta que precisa tomar decisões a todo momento. 'São avaliações de risco, aspectos políticos, técnicos, financeiros e científicos das missões. Temos de responder ao Congresso americano e à Casa Branca, por exemplo, pois são eles que decidem nosso orçamento.'
Missão tripulada
O cientista brasileiro destaca que, de todas as missões, incluindo sondas e robôs, que já foram enviadas a Marte, esta é a mais sofisticada.
Trata-se da terceira vez vez que a Nasa envia equipamentos capazes de coletar, analisar e enviar resultados de amostras de rochas e materiais encontrados em solo marciano, porém o Curiosity é o mais avançado.
'O objetivo é procurar vestígios da vida, moléculas orgânicas, para determinar a habitabilidade do planeta. Marte foi um dia muito parecido com a Terra e hoje é muito diferente', diz o engenheiro.
De Paula afirma ainda que o desafio da Nasa é enviar uma nave tripulada a Marte até 2030, para que um homem possa dar uma volta completa em torno do planeta e retornar à Terra.
Nasa | Foto: Nasa
"Nasa | Foto: Nasa"
Questionado sobre a possibilidade de vida fora da Terra, o brasileiro diz que 'provavelmente não estamos sozinhos'.
'Seria muita arrogância pensar que, num universo tão imenso, só aqui existe vida, mas até hoje não sabemos', diz. 'Mas vamos ver o que a ciência nos mostra.'
Brasil
De Paula nasceu em Guaratinguetá e mudou-se aos sete anos para Pirassununga, também no interior de São Paulo. De lá foi para Washington, aos 17 anos, quando o pai foi selecionado para integrar a Comissão da Aeronáutica Brasileira na capital americana.
Dois anos depois, a família retornou ao Brasil, mas ele ficou e, após terminar o colegial, formou-se nos Estados Unidos. Em 1985, ingressou na agência espacial americana.
Casado desde 1974 e pai de dois filhos, só volta ao Brasil 'para visitar', mas mantém uma relação muito forte com sua terra natal, expressa até ao elogiar o programa espacial brasileiro.
'É muito importante o que o Brasil tem feito no setor espacial mundial', avalia o engenheiro da Nasa. 'Definitivamente o Brasil tem a capacidade de avançar seu programa espacial. Afinal, nós brasileiros damos um jeitinho para tudo.'
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