Blog do Lobbo - Se o mundo tivesse mais José Medina
e menos Bush, Obama, Camerom e Hitler, a qualidade de vida seria espantosamente
maravilhosa!
De
torneiro mecânico a recordista em transplantes
José
Medina passou por três profissões até chegar à medicina e colocou o Brasil
entre os campeões mundiais de doação de órgãos
Foto: Edu Cesar/Fotoarena |
José Osmar Medina
Pestana começou a trabalhar aos 8 anos, depois virou torneiro mecânico e, por
fim, o médico recordista em transplante
José
Osmar Medina Pestana venceu a infância pobre para deixar suas digitais na
história dostransplantes brasileiros.
Entre
uma ponta e outra desta trajetória, passaram três instrumentos de trabalho por
suas mãos: tijolos, peças industriais e rins.
Isso porque, a
transformação do menino Zé Osmar em Doutor Medina foi formada pelas profissões
ajudante de pedreiro, torneiro mecânico e, por fim, nefrologista da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ele
acaba de assumir a presidência da Associação Brasileira de Transplantes de
Órgãos (ABTO) e, no primeiro ato como presidente, no início de fevereiro, divulgou
um novo recorde de cirurgias do tipo no cenário nacional.
Mais
uma vez, os transplantes renais foram os mais numerosos, a maior parte deles
feita no Hospital do Rim da Unifesp, unidade idealizada e administrada por
Medina. O médico acumula 10 mil pacientes transplantados, quase a população
total de Ipaussu, cidade do interior paulista onde ele nasceu (são 13 mil
habitantes segundo o Censo 2010) e escolheu que “queria cuidar de gente” quando
fosse gente grande.
O sonho da carreira,
inclusive, foi construído simultaneamente à construção (literal) de casas.
Ajudar o pai pedreiro foi seu primeiro ofício, assumido aos 8 anos, para
melhorar a renda da família e, de quebra, alimentar a possibilidade de
conseguir um diploma na área da saúde.
Metas
“Minha mãe era
costureira, meu pai pedreiro e tínhamos uma vida simples, mas eu não sentia
tantas privações. Só não gostava de ter de abdicar das minhas férias para
ajudar papai com o cimento e a construção. Mas sabia que isso era necessário”,
lembra Medina.
Foto: Amana Salles / Fotoarena |
Salvo por um rim
Mais
velho de cinco irmãos, craque na bola de gude e no futebol “pé na terra”, ele
foi o primeiro a ser incentivado pelos pais a estudar e fazer um curso técnico.
“Minha mãe, apesar de pouco estudo, era muito sábia. Ela logo me orientou que
esta era a melhor forma de, ao mesmo tempo, ter acesso à educação e a um
trabalho.”
Por
isso, aos 15 anos de idade, o pai dos Medina Pestana perdeu seu melhor
ajudante. Com diploma de torneiro mecânico, ele passou a trabalhar em fábricas,
com peças automotivas, e fazer seu pé de meia.
Nesta
época, já gostava de passear na Santa Casa de Ipaussu e observar o seu primeiro
herói da infância. “Doutor Rafael tinha um talento para tratar nosso povo. Não
eram só cuidados médicos. Eram ouvidos atentos para as reclamações de toda
sorte, retribuídas com conselhos para todas as áreas da vida”, lembra.
Aquele
médico que circulava por todas as casas, comércios, praças e bailes da cidade
implantou na cabeça de Zé Osmar uma meta audaciosa. Antes de completar 20 anos,
ele deixaria Ipaussu, trabalharia um ano na capital paulista, juntaria
dinheiro. “Precisava fazer um ano de cursinho e então entraria na faculdade de
medicina”, finalizava com esta frase os seus pensamentos.
Rotinas
Aos 19 de idade, o
jovem fez as malas, deu um beijo na testa da mãe e mudou para a cidade grande.
Trabalhou na Volks (com os seus conhecimentos de torneiro mecânico) e como
auxiliar de escritório. Doze meses depois, dormindo em um quartinho emprestado
na casa do tio no ABC Paulista, ele fez a matrícula em um curso preparatório
para o vestibular. E se preparou para mais 12 meses de maratona.
Foto: Edu Cesar/Fotoarena |
Ele veio para São
Paulo, deixou a família em Ipaussu, fez cursinho por um ano e entrou na Unifesp
A
rotina de 12 horas de trabalho foi substituída por 12 horas de estudo. Em
dezembro de 1974 encontrou seu nome entre os aprovados para ingressar na Escola
Paulista de Medicina (Unifesp), instituição pública, um alívio para o “bolso
apertado” do estudante.
“Estava
na hora de voltar a trabalhar. Não precisaria pagar os estudos, mas ainda tinha
que me sustentar em São Paulo.”
O novo emprego foi no
laboratório da própria Unifesp, catalogando os pacientes que chegavam à
emergência. O horário, das 16h às 23h permitia dedicação aos estudos médicos
entre 7h e 15h. E ainda servia de aperitivo das muitas especialidades médicas
que José Osmar Medina poderia escolher.
Rins
Ele
flertou com a ortopedia, mas por sugestão de um professor escolheu os rins como
foco de atuação. Já tinha deixado a casa do tio, agora morava em uma república
com outros seis estudantes. Por influência dos colegas, adotou definitivamente
o nome Medina como sua identidade. A nefrologia, ele definiu como seu
destino.
Zé Osmar ficava para
trás, mas o Medina também gostava de metas audaciosas. Em 1987, já
formado, casado (com a primeira namorada de Iapussu) e decidido, ele foi para o
exterior fazer especialização em transplante. Quando voltou ao Brasil decidiu
organizar uma unidade com fluxo para cirurgia de transplante renal, ainda
inexistente em SP.
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“Não
tínhamos integração, procedimento, profissionais especializados. Em equipe,
fomos formando tudo isso”, lembra. Em menos de uma década, aquele embrião do
Hospital do Rim virou uma potência mundial. Os 15 transplantes renais anuais
viraram 500 cirurgias por ano em 2004, um recorde no mundo, que rendeu novas
chances de vida para milhares de pacientes e homenagens em vários idiomas ao
doutor Medina. Hoje já são quase 700 transplantes a cada 12 meses só nesta unidade.
Dez mil
O
auxiliar de pedreiro, torneiro mecânico e médico que moram em Medina trabalham
em uma espécie de sintonia na hora dos transplantes. É preciso arquitetar a
cirurgia, parte por parte, como a construção de um um novo organismo;
depois encaixar todas as peças precisamente em um tipo de esquema
industrial. Para em sequência, cuidar a vida toda daquele ser humano que ganhou
um novo órgão.
“É a oportunidade que
nós médicos temos de unir os dois extremos da medicina. Desde os cuidados mais
simples, como medir a pressão, colocar a mão no paciente, até a mais alta
complexidade cirúrgica”, explica. “É mágico”, define Medina que, para
homenagear o seu herói Daniel, duas vezes por ano volta a Ipaussu e trabalha
por duas semanas, de forma voluntária, na Santa Casa. Ouvindo queixas
de toda sorte e dando conselhos sobre tudo.
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