A Grécia e a oportunidade da história: o que fazer?
19.02.2012
A revolução é o freio de emergência para conter
a barbárie
Walter Benjamim
Estamos vivendo um momento histórico em que o aprofundamento da crise
sistêmica, que se configurou em grave crise econômica e social, deixa claro a
posição do grande capital financeiro, na tentativa de recuperar suas altas taxas
de rentabilidade, a partir da relação com os fundos públicos. Na Europa e em
outras partes do mundo, integrados na ideologia da colonização global que se
encontra em curso, o aparato político da burguesia tenta operar um grande ajuste
fiscal. Partem com voracidade sobre o Estado como instrumento para resolver os
problemas dos balanços dos bancos privados. E as contradições da luta de classes
avançam.
O cenário grego, no fulcro da crise, é desolador.
O Banco Central Europeu, pressionado pela Alemanha e França, age dentro da
lógica de rapina do Imperialismo tentando tirar da Grécia todos os recursos
necessários para salvar seus bancos. Todas as medidas propostas têm levado ao
desemprego, à informalidade no mercado de trabalho, a precarização e
intensificação do trabalho no setor público, ao corte de investimentos e custeio
na máquina pública de saúde, educação e previdência. Processam um conjunto de
privatizações e desenvolvem uma cruel política de demissão em massa no serviço
público. Só a última lei aprovada permitiu a demissão de mais de 30 mil
trabalhadores públicos.
A Grécia não tem como sair da crise e a questão
da burguesia européia não é tirar a Grécia da crise, é operar um conjunto de
medidas de profundo corte e ajuste fiscal sem precedentes que sirvam como
inspiração ideológica para os próximos acontecimentos. O capitalismo é uma
"jaula de ferro", onde a burguesia naturalizou o mercado e aprisionou os
trabalhadores. Criou um mundo sem perspectivas, gerou a perda da liberdade
humana através da alienação, do fetiche, da coisificação do homem. É o culto ao
dinheiro, é o tempo do mammonismo que está parindo uma outra "civilização".
Portanto, não serão políticas reformistas de corte social-democrata que
resgatarão a perspectiva dos trabalhadores na sua luta pela emancipação
humana.
A social-democracia grega e o seu partido no
governo barlaventeou e capitulou, como é de praxe, à política da burguesia, para
os períodos de crise. Só que agora a crise é sistêmica e os trabalhadores foram
para as ruas em toda a Grécia.
A cena política grega é de luta diretas das
massas. A disputa está em todas as ruas de Atenas, as manifestações são
gigantescas, as greves são cada vez maiores. Os trabalhadores, a central
sindical PAME e o KKE estão marchando à frente das manifestações juntamente com
outros movimentos sociais e forças políticas. Nesse momento da história da
Grécia, se consolidou uma hegemonia de classe e o bloco histórico dos
trabalhadores está em movimento. O que fazer?
A Grécia é um país que tem parte significativa de
seu Produto Interno Bruto baseado nos serviços - só o turismo, que recebe 17
milhões de pessoas por ano, representa 15% do PIB e emprega 17% da população. O
país tem uma população de 11 milhões de pessoas, sendo 5 milhões os
trabalhadores e uma taxa de desemprego que atualmente chegou à 17% da força de
trabalho. O segundo setor econômico grego é a marinha mercante, a segunda maior
do mundo, atrás do Japão. Os gregos contam com 4.000 navios de carga, que
empregam cerca de 250.000 trabalhadores e geram 5% do PIB. O fato pitoresco é
que este setor não paga impostos na Grécia.
Pelos levantamentos de 2010, o PIB grego é de €
230 bilhões, concentrado no turismo, transporte marítimo, construção civil,
pesca, agricultura e indústria extrativista. Todavia, a perspectiva da dívida
pública grega, pelos levantamentos atuais atingirá 161% do PIB em 2012. Cabe
esclarecer que, ao contrário do que alardeiam os meios de comunicação burgueses,
esta dívida pública, como todas as dívidas dos demais países, foram contraídas
em virtude de socorro ao sistema financeiro e ao pagamento de altos juros aos
detentores dos títulos públicos.
O capital financeiro, detentor desses títulos,
está pressionando o governo grego, via a 'troica', ou seja, os inspetores do
Banco Central Europeu, do FMI e da Comissão Européia, a encontrar recursos para
continuar a sugá-los para a burguesia. Como o Estado grego não tem mais
condições de arcar com estas despesas, os representantes do grande capital
exigem: privatizações - da rádio estatal, do aeroporto de Atenas e a quebra do
monopólio estatal do jogo através da venda das loterias; ajuste fiscal, aumento
da tributação sobre a população, corte de salários e corte dos direitos sociais.
Se não bastasse este brutal pacote, a 'troica' exige que todas estas medidas
sejam efetuadas e controladas por agências externas.
A partir desses dados, podemos perceber que a
economia grega é periférica, dentro do sistema capitalista, o que faz da Grécia,
o elo fraco da corrente. A burguesia que controla a zona do Euro não vê mais
importância na Grécia, por isso se utiliza de ações tão violentas como forma de
testar, política e ideologicamente, seu projeto que é de construção de um novo
ciclo do capital para ampliar a sua acumulação. Todavia, as contradições
objetivas estão dadas pelo quadro de crise sistêmica que se estabeleceu no
processo grego. Mas, o mais importante é percebermos que as condições subjetivas
estão em franco processo de consolidação.
Há vários meses os trabalhadores estão nas ruas
para impedir os pacotes do governo. Fizeram comícios, lutaram com pedras nas
mãos nas barricadas por toda Atenas, cercaram o parlamento, paralisaram os
transportes, fecharam o comércio, fizeram greves e tudo isso com uma grande
presença de trabalhadores.
Chegou o momento de dar o salto de qualidade na
luta política, o bloco histórico dos trabalhadores demonstra força e
organização. A questão central é levantar bandeiras que captem as contradições
da relação capital-trabalho.
Essas bandeiras devem estar centradas na
moratória da dívida, na saída da Grécia da zona do Euro, no retorno ao Dracma
(antiga moeda), com sua conseqüente desvalorização cambial, estatização do
turismo, da logística, do sistema financeiro, e a tributação da marinha
mercante. Galvanizado por estas bandeiras, a questão imediata é levantar a justa
palavra de ordem: todo poder aos trabalhadores em luta.
Os trabalhadores gregos fizeram o seu ensaio
geral, os ecos do padrão histórico da revolução proletária ressoam por todas as
ruas da Grécia carregados pelos turbilhões humanos nas grandes manifestações. A
luta chegou a um impasse. Ou a vanguarda e seu bloco histórico se utilizam da
perspectiva clássica e assumem a luta pelo poder, ou essas batalhas que ocorrem
hoje em toda a Grécia não encontrarão uma perspectiva real de saída, levando os
trabalhadores derrotados, de volta para suas casas.
As bandeiras são concretas, está faltando a ação
da vanguarda para lançar a palavra de ordem: Todo poder aos trabalhadores em
luta!
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